Aviso!
Todo esforço foi feito para garantir a
qualidade editorial desta obra, agora em
versão digital. Destacamos, contudo, que
diferenças na apresentação do conteúdo
podem ocorrer em função de restrições
particulares às versões impressa e digital e
das características técnicas específicas de
cada dispositivo de leitura.
Este eBook é uma versão da obra impressa,
podendo conter referências a este formato (p.
ex.: “Circule conforme indicado no exemplo 1”,
“Preencha o quadro abaixo”, etc.). Buscamos
adequar todas as ocorrências para a leitura
do conteúdo na versão digital, porém
alterações e inserções de texto não são
permitidas no eBook. Por esse motivo,
recomendamos a criação de notas. Em caso
de divergências, entre em contato conosco
através de nosso site.
https://www.grupoa.com.br/conteudo/institucional/fale-conosco
Tradução:
Daniel Vieira
Sandra Maria Mallmann da Rosa
Revisão técnica:
Fausto Camargo
Professor do Centro Universitário Uniamérica Descomplica em Foz do
Iguaçu/PR.
Doutor em Sociedade, Cultura e Fronteiras pela Universidade Estadual
do Oeste do Paraná (Unioeste/PR).
�uinie Daros
Mestra em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste/PR).
Cofundadora e palestrante na Téssera Educação.
Diretora de Planejamento de Ensino (Presencial e Híbrido) na Vitru
Educação.
Versão impressa desta obra: 2023
Porto Alegre
2023
Obra originalmente publicada sob o título
Teach like a champion 3.0: 63 techniques that put students on the path to
college
ISBN 9781119712619/1119712610
Copyright © 2021, John Wiley & Sons, Inc.
All Rights Reserved. �is translation published under license with the
original publisher John Wiley & Sons, Inc.
Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima
Colaboraram nesta edição:
Coordenadora editorial: Cláudia Bittencourt
Editor: Lucas Reis Gonçalves
Capa: Paola Manica | Brand&Book
Leitura �nal: Luísa Branchi Araújo e Paola Araújo de Oliveira
Editoração e projeto grá�co: Clic Editoração Eletrônica Ltda.
Produção digital: HM Digital Design
L555a Lemov, Doug.
Aula nota 10 3.0 : 63 técnicas para
melhorar a gestão da
sala de aula [recurso eletrônico] / Doug
Lemov ; tradução:
Daniel Vieira, Sandra Maria Mallmann da
Rosa; revisão
técnica: Fausto Camargo, Thuinie Daros – 3.
ed. – Porto
Alegre : Penso, 2023.
E-pub.
Editado também como livro impresso em
2023.
ISBN 978-65-5976-019-0
1. Educação. 2. Didática. I. Título.
CDU 37.02
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, ao
GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.
(Penso é um selo editorial do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.)
Rua Ernesto Alves, 150 – Bairro Floresta
90220-190 – Porto Alegre – RS
Fone: (51) 3027-7000
SAC 0800 703 3444 – www.grupoa.com.br
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte,
sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,
gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa
da Editora.
http://www.grupoa.com.br/
SOBRE O AUTOR
Doug Lemov é diretor-geral das Uncommon Schools e dirige a equipe
Teach Like a Champion, planejando e executando a capacitação de
professores com base no estudo de docentes com alto desempenho. Foi
vice-presidente �nanceiro no State University of New York Charter
Schools Institute e fundador, professor e diretor da charter school
Academy of the Paci�c Rim, em Boston. Foi professor de inglês e
história nos ensinos superior, médio e fundamental. Graduou-se na
Hamilton College, fez mestrado na Indiana University e MBA na
Harvard Business School.
Para Mike e Penny Lemov,
meus primeiros professores
AGRADECIMENTOS
Este livro teria sido impossível sem a equipe de pessoas cujo trabalho
está re�etido em quase todas as suas linhas. Meus colegas da equipe
Teach Like a Champion (TLAC) deram incontáveis contribuições para
o seu desenvolvimento, tanto diretas quanto indiretas. Há centenas dos
seus insights sobre vídeos ou técnicas neste livro – assim como em todo
trabalho que produzimos. Eles também contribuíram com algo que é
mais difícil de de�nir: os momentos em que sugeriram uma expressão
para descrever exatamente o que um professor estava fazendo ou
quando paramos e retomamos tudo porque eles perceberam alguma
coisa fascinante na resposta de um aluno foram tão comuns quanto
aqueles em que riram de algo que disseram, assim como quando
reconheceram os esforços de um colega da equipe ou deram os créditos
a outra pessoa. Eles são colegas inteligentes, amáveis, engraçados,
humildes e perspicazes, o que signi�ca que criam um ambiente onde o
trabalho de estudar o ensino é grati�cante, desa�ador e até mesmo
divertido.
Quando reunimos professores e líderes escolares para
desenvolvimento pro�ssional – presencialmente ou, agora, de forma
virtual –, nosso objetivo é sempre acolher as pessoas, ajudando-as a
aprimorar seu importante trabalho e garantindo que todos – nós e elas
– aprendam muito, mas também se divirtam no processo – para fazer
do ensino um esporte de equipe marcado pela alegria e pela
camaradagem. Os professores merecem trabalhar nesse tipo de
ambiente, e eu sei disso porque tenho a sorte de viver em um ambiente
assim.
Nossa equipe inclui Emily Badillo, Jaimie Brillante, Dan Cotton, John
Costello, Colleen Driggs, Dillon Fisher, Kevin Grijalva, Kim Gri�th,
Brittany Hargrove, Joaquin Hernandez, Tracey Koren, Jasmine Lane,
Hilary Lewis, Rob Richard, Jen Rugani, Hannah Solomon, Beth Verrilli,
Michelle Wagner, Darryl Williams e Erica Woolway. Sou grato a cada
um deles e a várias outras pessoas que desempenharam papéis na
produção deste livro.
Os vídeos que acompanham este livro – e todos os vídeos que usamos
no treinamento e no estudo – foram editados e produzidos por Rob
Richard e John Costello. É deles o trabalho técnico e também
intelectual – não só mostrar na tela o que um professor estava fazendo,
mas também tornar o que foi gravado compreensível para os
espectadores, focando os aspectos principais sem distorcer a realidade
da sala de aula. Isso pode signi�car remover o momento em que o
telefone toca ou a criança na terceira �la derruba tudo da sua mesa ou
decidir que dois ótimos exemplos de um professor que usa chamadas
De surpresa são mais úteis do que cinco exemplos muito bons. Cada
vídeo é um tipo de poema visual, e John e Rob foram seus autores e
�zeram tudo isso enquanto desenvolviam um sistema para selecionar
esses milhares de poemas. Pense por um momento sobre o que signi�ca
manter 20 anos de vídeos organizados para que uma equipe de pessoas
possa dizer “Lembra daquela aula no Tennessee que assistimos uns
quatro ou cinco anos atrás?” e, mais tarde no mesmo dia, conseguirmos
todos assistir à aula mencionada.
Hannah Solomon sempre desempenhou muitos papéis na nossa
equipe, e um deles foi como editora de desenvolvimento para este livro.
Pode não ter sido exatamente “pastorear gatos”, porque havia apenas
um gato e “pastorear” implica que ele esteja seguindo na direção certa –
ou pelo menos fazendo algum progresso – e que você está meramente
incentivando-o a retomar o curso. O trabalho de Hannah incluiu o
gerenciamento do projeto – conseguir me manter na tarefa é muito
difícil; fazer isso e supervisionar todas as atividades, sem mencionar
todos os rascunhos, é um trabalho da maior magnitude; agora imagine
fazer isso com seu aluno mais desorganizado e distraído, que muito
sinceramente lhe diz repetidas vezes que entregará o trabalho até
quarta-feira, quando, no fundo, você sabe que ele não vai entregar.
Enquanto isso, Hannah também forneceu inúmeras rodadas de
feedbacks sensíveis e sinceros sobre os rascunhos, reuniu e planejou
materiais de apoio e, de modo geral, ofereceu bons conselhos de uma
in�nidade de maneiras. Houve momentos difíceis e em que não parecia
mais haver esperanças durante a escrita deste livro, mas então eu
retomava meu rascunho, e ela dedicava seu tempo para especi�car, da
forma mais animada possível, exatamente por que gostava de uma frase
ou um parágrafo,
,encontrar o maior número possível de professores
desse tipo e homenageá-los focando e estudando a sua forma de
ensinar. Para escrever este livro, passei muito tempo no fundo de salas
de aula e assisti inumeráveis vídeos de professores excelentes em ação.
Usei a �loso�a de Jim Collins em Empresas feitas para vencer e Feitas
para durar: o que separa o ótimo do bom é mais relevante do que o que
descreve a mera competência. Eu não desejava saber o que fazia um
professor ser muito bom, mas o que o tornava excepcional, capaz de
superar as adversidades. Havia ideias consistentes que lhes
possibilitavam transformar vidas de forma mais con�ável? Havia
palavras e ações que o resto de nós poderia copiar e adaptar? Havia
tendências gerais que fornecessem o mapa da mina, os princípios por
trás da excelência? Ou sua excelência era idiossincrática e impossível de
ser mapeada?
O que descobri foi que, embora cada professor excelente seja único,
suas habilidades de ensino, como grupo, tinham elementos em comum.
Comecei a enxergar tanto o tema quanto a variação, e então passei a
fazer uma lista das coisas que eles faziam. Atribuí nomes a essas ações
para que pudesse me lembrar delas, e com o tempo a minha lista
cresceu não só quanto ao número de tópicos, mas também no nível de
especi�cidade. As ideias se integraram às técnicas. Descobri também
que os grandes professores tinham diferentes ideologias e estilos: “Eles
eram extrovertidos e introvertidos; planejadores e improvisadores;
espirituosos e sérios. Mas, no �nal, uma história emergiu. No �m das
contas, realmente existe uma caixa de ferramentas para suprir as
de�ciências no desempenho escolar. O conteúdo foi forjado por 10 mil
professores que trabalham discretamente e, em geral, sem
reconhecimento, em salas no �m de corredores com o piso quebrado.
Estou certo de que parte da minha análise do que eles fazem está
errada. Na verdade, reescrevi este livro a partir do original para tentar
capturar mais do que eles fazem e com maior precisão. Um ponto que
tentei enfatizar é que ter uma ferramenta não é um argumento para
utilizá-la de forma descuidada. Um pintor tem uma maleta cheia de
pincéis e espátulas, mas não usa todos eles em cada retrato ou paisagem
que pinta.
Se você é um professor que está iniciando seu estudo da arte de
ensinar, meu objetivo é ajudá-lo a se tornar um desses educadores que,
durante uma longa e destacada carreira, libertam o talento e as
habilidades latentes nos alunos, independentemente do número de
tentativas anteriores malsucedidas. Se você se comprometer e investir
seus talentos nesse trabalho, merece ter sucesso e mudar vidas. Se
obtiver sucesso, provavelmente será mais feliz no trabalho e, dessa
forma, quando estiver feliz, fará um trabalho ainda melhor.
Se você já é um professor experiente, espero que a discussão das
ferramentas de ensino e suas aplicações e a construção de um
vocabulário para falar sobre os momentos críticos e muitas vezes
negligenciados do seu dia inspirem você não só a aperfeiçoar seu ofício,
mas também a gostar de fazer isso e sentir o prazer de se comprometer
(ou voltar a se comprometer) com o domínio mais profundo possível
da empreitada complexa e valiosa que é o trabalho da sua vida.
Presumo que, em muitos casos, este livro descreverá coisas que você já
sabe e faz. Acho isso ótimo e, nesse caso, meu objetivo será ajudá-lo a
melhorar um pouco mais esses aspectos, talvez ao ver aplicações úteis e
variações que você não havia considerado. De qualquer forma, seu
crescimento é no mínimo tão importante quanto o de um professor
iniciante. O ensino é a melhor e mais importante tarefa em nossa
sociedade. Aqueles que o exercem merecem vivenciar crescimento e
aprendizagem constantes. Isso, a�nal, é o que desejamos para nossos
alunos.
Se você dirige uma escola, espero que este livro o ajude a ajudar os
professores a fazer esse trabalho desa�ador da melhor forma possível.
Em nossa área, a primeira obrigação de uma organização é ajudar seus
integrantes a ter sucesso. Quando os professores terminam o dia com
uma sensação de dever cumprido, quando sentem que estão sendo cada
vez mais bem-sucedidos, eles permanecem em nossas escolas por um
longo tempo, desempenham um trabalho excepcional, trabalham com
alegria e inspiram outras pessoas, retribuindo em dobro o que
receberam da organização.
As páginas a seguir são um esforço para descrever e organizar as
ferramentas usadas por professores que querem mudar o jogo e para
re�etir sobre como e por que eles as utilizam. Dessa forma, você poderá
tomar decisões informadas por conta própria.
Meu trabalho não foi inventar as ferramentas que descrevo aqui, mas
explicar como outras pessoas as utilizam e o que as torna efetivas. Isso
signi�cou dar nome a técnicas com o intuito de ajudar a criar um
vocabulário comum com o qual se pode analisar e discutir a sala de
aula. Os nomes podem parecer um pouco arti�ciais inicialmente, mas
representam uma das partes mais importantes. Se não houvesse a
palavra democracia, seria mil vezes mais difícil ter e manter uma coisa
chamada “democracia”. Ficaríamos para sempre atolados na ine�ciência
– “Você sabe, aquela coisa sobre o que falamos onde todos têm voz...” –
justamente no momento em que precisássemos tomar uma atitude.
Professores e administradores devem ser capazes de falar com os
colegas rápida e e�cientemente sobre um conjunto de ideias claramente
de�nidas e compartilhadas para que possam embasar seu trabalho.
Precisam de um vocabulário compartilhado su�cientemente minucioso
para permitir uma análise abrangente dos eventos que acontecem em
uma sala de aula. Acredito que os nomes importam, e vale a pena
serem usados. Em geral, eles possibilitarão que você fale sobre sua
própria prática de ensino e a de seus colegas com uma linguagem
especí�ca e e�ciente.
Porém, quero deixar claro que, apesar dos nomes, o que é apresentado
aqui não é meu, tampouco é uma teoria. É um conjunto de anotações
de campo feitas a partir da observação do trabalho de mestres, alguns
dos quais você conhecerá neste livro, e muitos outros que não
conhecerá. Quero agradecer a todos eles pela dedicação e pelas dicas
que informaram e inspiraram esta obra.
TÉCNICAS APLICÁVEIS, CONCRETAS E
ESPECÍFICAS
Quando eu era um jovem professor, participava de o�cinas de
treinamento e saía com a cabeça cheia de palavras importantes. Elas se
referiam a tudo o que me havia levado a querer ser professor. “Tenha
altas expectativas em relação a seus alunos.” “Espere o máximo dos
alunos todos os dias.” “Ensine crianças, não conteúdos.” Eu �cava
inspirado, pronto para melhorar – até chegar à escola no dia seguinte.
Eu me via perguntando: “Bem, como faço isso? Que atitude devo tomar
às 8h25 da manhã para demonstrar essas altas expectativas?”.
O que me ajudou a melhorar minha forma de ensinar foi quando um
dos meus colegas me disse algo bem concreto: “Quando você quiser
que eles obedeçam a sua orientação, �que parado. Se você �car
andando pela sala, distribuindo materiais, parece que a orientação é
menos importante do que todas as outras coisas que você está fazendo.
Mostre que a sua orientação é importante. Fique parado”. Com o
tempo, foi esse tipo de conselho aplicável, concreto e especí�co, muito
mais do que os lembretes de que eu devia ter altas expectativas, que me
permitiu, de fato, aumentar as expectativas na minha sala de aula.
Minha abordagem neste livro re�ete essa experiência. Tentei
descrever as técnicas dos professores excelentes de maneira aplicável,
especí�ca e concreta, de modo que você consiga começar a usá-las
amanhã mesmo. Optei por denominá-las “técnicas”, e não “estratégias”
– mesmo que práticas pedagógicas tenham a tendência de usar esta
última expressão – porque para mim uma estratégia é uma abordagem
generalizada que informa decisões, enquanto uma técnica é uma coisa
que você diz ou faz de uma maneira especí�ca. Se você quisesse ser um
velocista, sua estratégia poderia ser simplesmente correr o mais rápido
que puder do começo ao �nal da pista; sua técnica seria
,inclinar o
corpo para a frente em cerca de cinco graus à medida que move suas
pernas para cima e para frente. Se você quisesse ser um grande
velocista, praticar e melhorar essa técnica o ajudaria a obter mais do
que re�nar sua estratégia. E, como uma técnica é uma ação, quanto
mais você praticar, melhor se tornará. Pensar cem vezes na sua decisão
de correr o mais rápido possível desde o começo da pista não vai
melhorar seu desempenho, mas praticar 100 corridas com a posição
certa do corpo vai. É por isso que, no �m, concentrar-se em polir e
aprimorar técnicas especí�cas é o caminho mais rápido para o sucesso.
Também cabe observar que esse conjunto de técnicas não é um
“sistema”. Para mim, o benefício de considerar técnicas individuais é
que estas são unidades pequenas e discretas de investigação. Você pode
escolher alguma coisa que lhe interessa e estudá-la, melhorando
rapidamente e vendo os resultados. E pode incorporar uma técnica
nova ao que já faz sem ter de redesenhar toda sua abordagem ou
apostar tudo no livro. Como assinalam Chip e Dan Heath em seu livro
Switch, a forma como as pessoas encontram informações úteis tem
muito a ver com o fato de serem ou não bem-sucedidas em usá-las para
mudar e melhorar suas vidas. Muitas vezes, o que concluímos é que a
resistência à mudança – por parte dos professores, digamos – é, na
verdade, falta de clareza sobre o que fazer concretamente para começar
a mudança: “OK, entendo que devo ser mais rigoroso, mas como faço
isso, ou como começo a fazer isso de uma forma concreta e
executável?”. Apresentar às pessoas ferramentas a serem
experimentadas pode parecer menos e�ciente do que dar-lhes um
sistema abrangente que englobe tudo o que elas fazem, mas tentar fazer
tudo ao mesmo tempo é uma receita para a inação. Ter uma ideia
focada e executável na qual trabalhar pode ajudar a tornar a mudança e
a melhora seguras e fáceis de buscar, resultando na incorporação da
técnica à sua vida. Geralmente atingimos mais mudanças de longo
prazo por meio de pequenas mudanças de curto prazo.
Outra observação importante de Switch é que tendemos a supor que o
tamanho da solução precisa combinar com o tamanho do problema.
Você foi observado; foram feitas críticas; parece que você tem de fazer
mudanças generalizadas em tudo o que você faz. Será que precisa?
Talvez apenas se conectar com alguns alunos que parecem
desinteressados por meio da chamada De surpresa ou preparar-se
diferentemente para que possa ouvir melhor durante suas aulas faria
uma enorme diferença e colocaria outras coisas no lugar. Com
frequência, mudanças pequenas fazem uma grande diferença.
A ARTE DE USAR AS TÉCNICAS
Muitas das técnicas que você encontrará neste livro podem
inicialmente parecer triviais e banais. Elas nem sempre são
especialmente inovadoras; nem sempre são intelectualmente
surpreendentes. E, por vezes, não acompanham a marcha da teoria
educacional. Mas, se usadas bem e com responsabilidade, produzem
um resultado que certamente compensa sua aparência humilde. Elas
valem seu tempo e esforço algumas vezes porque são tão triviais e fáceis
de negligenciar. Simples e útil podem ser palavras bonitas. Mas quero
enfatizar que a arte está na aplicação discricionária das técnicas. Tentei,
com esta obra, ajudar artesãos a se tornarem artistas, não porque acho
que o trabalho de ensinar pode ser mecanizado ou transformado em
fórmulas. Existe um tempo e um lugar certo (e errado) para cada
ferramenta, e sua aplicação efetiva sempre dependerá do estilo e da
visão únicos dos grandes professores. Isso, em uma palavra, é arte. A
excelência do ensino não é menos grandiosa porque o professor
sistematicamente dominou habilidades especí�cas, da mesma forma
que Davi não re�ete menos o gênio de Michelangelo só porque ele
dominava a linguagem do cinzel antes de ter criado a estátua. Acredito
que, dadas as ferramentas aqui apresentadas, os professores tomarão
decisões sensíveis e independentes sobre como e quando usar as
técnicas desse ofício enquanto trilham o caminho para se tornarem
mestres na arte de ensinar.
DEFININDO O QUE FUNCIONA
Se você já ouviu falar das versões anteriores deste livro, sabe que meu
processo para encontrar os professores que estudei iniciou como as
notas nos testes. Procurei indivíduos e escolas que, nos grá�cos da
pobreza, eram “pontos fora da curva”. Eram professores (e algumas
vezes escolas inteiras) que trabalhavam com alunos em bairros onde
frequentemente apenas uma fração deles se formava no ensino médio,
uma ainda menor na universidade, ou onde tipicamente apenas 10 ou
20% dos alunos eram aprovados em um determinado teste estadual
(uma medida do progresso incompleta, mas ainda importante) em um
ano típico. E, embora trabalhando nesse mesmo cenário, os professores
que eu estava estudando ajudavam seus alunos a atingirem uma taxa
muito mais alta do que qualquer um teria previsto: conseguiam o dobro
de alunos aprovados... ou até quatro vezes o número de alunos
aprovados. Havia casos em que todas as crianças eram aprovadas.
Algumas vezes esses professores conseguiam mais crianças com
avaliação “avançada” do que aquelas com avaliação “pro�ciente” nas
escolas da redondeza. Seus resultados frequentemente compensavam a
lacuna existente entre crianças nascidas na pobreza e crianças nascidas
com privilégios.
As notas nos testes, é claro, são uma medida imperfeita. Elas nos
contam muito, mas estão longe de dizer tudo, e geralmente são mais
bem utilizadas para gerar e testar hipóteses: você observa uma série de
professores com resultados incomumente fortes e começa a ver as
tendências e semelhanças. Assim, sempre que possível, tentei usar o
máximo de dados adicionais que podia e procurei sinais que fossem
duradouros – resultados sustentados em contraste com picos que
ocorreram uma única vez. Quando uma escola tinha sucesso por um
longo tempo, eu também considerava as diretrizes do diretor e sua
contribuição com o fornecimento de materiais aos professores. Embora
existam dados que sugerem que a maioria dos diretores pouco
in�uencia na identi�cação dos melhores professores, os diretores muito
bons são, é claro, diferentes da média. Podemos argumentar que a razão
para terem sucesso é sua habilidade de entender quais professores têm
o estilo de ensino especialmente e�ciente. E com o tempo passei a
depender da minha equipe – no momento eles já passaram centenas e
centenas de horas estudando e discutindo vídeos de salas de aula – para
identi�car momentos que seriam úteis para os professores estudarem –
momentos que eram replicáveis, e adaptáveis, e provavelmente
ajudariam os professores a ajudar seus alunos a prosperar.
PEDRA ANGULAR
Conforme mencionei no Prefácio, uma mudança importante nesta
terceira edição do livro é a inclusão dos vídeos chamados Pedra
Angular, que mostram como uma seleção de professores
verdadeiramente excepcionais usam e combinam técnicas durante um
arco de tempo prolongado da sua aula. O conjunto desses vídeos
mostra como as peças se encaixam e ajuda a equilibrar a inevitável
distorção de ver apenas uma única técnica com um foco acentuado.
Apresento a seguir uma lista com os vídeos Pedra Angular e algumas
das coisas que aprecio na arte dos professores que eles per�lam. Espero
que você os assista muitas vezes. Se você é diretor de uma escola ou se
capacita professores, acho que eles são ideais para serem assistidos e
estudados repetidamente.
Julia Addeo (North Star Academy HS, Newark, NJ): a excepcional
Veri�cação da compreensão (Capítulo 3) de Julia é ativada pelo
Planejamento exemplar (técnica 1). Sua revisão do Faça agora (técnica
20) se baseia em um equilíbrio dos Meios de participação (técnica 36)
que inclui chamada De surpresa (técnica 34) e Mostre o texto (técnica
13). Não há um minuto de tempo desperdiçado.
Akilah Bond, na época na Leadership Prep Carnaise Elementary
School, está lendo uma narrativa de Cam Jansey com seus alunos do
segundo ano. Seu Tempo de espera (técnica 33) é exemplar. Ela usa o
Todas as mãos (técnica 29), pedindo que os alunos abaixem
,suas mãos
para que seus colegas não se sintam apressados, e assegura um
produtivo Tempo de espera estimulando habilidades do pensamento.
Ela insiste em ter respostas “corretas em todos os aspectos” (Certo é
certo, técnica 16). Quando Anthony responde, você pode ver como ele
usa os Hábitos de discussão (técnica 44) para mostrar que estava
ouvindo e como os Hábitos de atenção (técnica 48) de seus colegas
fazem com que ele se sinta con�ante enquanto se esforça para explicar
seu modo de pensar. E, quando Michael se sai muito bem, seu triunfo é
em parte provocado por claros procedimentos e rotinas (Capítulo 10) –
os alunos sabem que não devem se manifestar enquanto ele está
pensando.
Jessica Bracey: lendo com seus alunos do 5º ano na North Star
Academy Clinton Hill Middle School, Jessica executa um Leitura em
FASE (técnica 24) padrão ouro, com seus alunos demonstrando prazer
e habilidade ao dar vida a um livro. Ela usa um Antecipe a escrita
(técnica 40), pedindo que eles respondam por escrito antes de
discutirem o livro. Seus exemplares procedimentos e rotinas (Capítulo
10) signi�ca que eles transferem todo seu pensamento para a página, e
seu Solo silencioso (técnica 39) signi�ca que eles estão re�etindo
profundamente sobre sentenças completas o tempo todo. Não é de
admirar que eles estejam tão ansiosos por compartilhar! Quando o
fazem, você pode ver uma combinação de Hábitos de atenção (técnica
48), assegurando que eles escutam bem, e Hábitos de discussão (técnica
44), desenvolvendo as habilidades de escuta que contribuem para uma
real discussão.
Na’Jee Carter: escrevo extensamente sobre o De surpresa (técnica 34)
de Na’Jee no vídeo no Capítulo 7, mas observo também os Hábitos de
discussão (técnica 44): seus alunos escutam e também falam. Seus
impecáveis procedimentos e rotinas (Capítulo 10) não só ajuda a
manter seu grupo de leitura na tarefa e assegura que as transições sejam
e�cientes, como também garante que os alunos que não estão em seu
grupo de leitura estejam, de maneira alegre e produtiva, engajados o
tempo todo. Sua Leitura independente responsável (técnica 23) é super
produtiva porque ele é muito claro na orientação da tarefa, e isso lhe
permite observar claramente como seus leitores estão se saindo; mas,
antes de mandar todos lerem, ele aplica um Substitua o autorrelato
(técnica 6), fazendo aos alunos uma série de perguntas para avaliar sua
compreensão da tarefa em vez de meramente perguntar a eles se
entenderam.
Denarius Frazier (Uncommon Collegiate Charter High School):
discuto extensamente uma parte do vídeo dele no Capítulo 3,
“Veri�que a compreensão”. Denarius demonstra quase todas as técnicas
no capítulo, iniciando com a Observação ativa e encerrando com o
Mostre o texto de uma maneira que é fundamental para a compreensão
da realidade do quanto relacionamentos produtivos e duradouros são
construídos na sala de aula. Mas observe também como ele se desloca
para o canto e usa um Olhar de radar/ser visto observando (técnica 53) e
uma Intervenção menos invasiva (técnica 55) para assegurar que todos
estejam atentos. E note como seu Equilíbrio emocional (técnica 62) o
auxilia a construir uma Cultura do erro (técnica 12), que deixa os
alunos participantes interessados na tarefa de aprender com seus erros.
Arielle Hoo (North Star Vailsburg Middle School) pede que seus
alunos escrevam, em um momento importante da aula, sobre como eles
saberão se uma solução está correta. Observe a palavra “conjecturas” –
esse é um ótimo exemplo de um estímulo formativo que não só torna
seguro estar errado, mas socializa os alunos a pensarem na escrita
como algo que você faz para descobrir novos insights, não apenas para
explicá-los. Esse é um aspecto fundamental do Todo mundo escreve
(técnica 38). Observe o Solo silencioso (técnica 39): todo mundo escreve
imediatamente. Note como a discussão exemplar que ela tem, cheia de
insights interessados e vocabulário técnico, inicia com ela, como
Denarius, movendo-se para o “Poleiro de Pastore” e usando um Olhar
de radar/ser visto observando (técnica 53) para se assegurar que todos
estão com ela. Sidney dá início à discussão (muito bem), e o contato
visual e a linguagem corporal pró-social que ela recebe (técnica 48,
Hábitos de atenção) a fazem lembrar – e a todos os demais – que o que
você está dizendo é importante. Em seguida Sadie fala, hesitando
enquanto usa o termo técnico coincidentes para descrever duas linhas.
Possivelmente essa é a primeira vez que ele usou esse termo. Note como
ele persiste e corre o risco de fazê-lo. Os Hábitos de atenção ajudam,
mas também ajuda uma conexão mais intensa com os procedimentos e
rotinas (Capítulo 10): ninguém anuncia a resposta, faz gestos com a
mão ou diz alguma coisa que distraia enquanto ele se esforça para usar
a palavra correta. A sequência termina com os alunos revisando suas
conjecturas originais por escrito, um exemplo da revisão sobre a qual
você pode ler em Antecipe a escrita e Revisão regular (técnicas 40 e 42).
Sadie McCleary (Western Guilford High School): o Ritmo (Capítulo
6) e os Meios de participação (técnica 36) de Sadie são brilhantes –
talvez o último levando ao primeiro –, e os discuto longamente mais
adiante no livro, sem mencionar seus Quadro = papel (técnica 22),
Virem e conversem (técnica 43) e Todos juntos (técnica 35). Ela tem
sucesso em todas essas técnicas porque suas orientações com O que
fazer (técnica 52) deixam muito claro aos alunos como participar e ser
bem-sucedidos. O estilo fácil, caloroso e gracioso de Sadie expressa
responsabilização amorosa.
Narlene Pacheco: trabalhando com seus alunos do jardim de infância
na Immaculate Conception School no Bronx, Narlene é extremamente
clara sobre como participar com sucesso por meio de uma combinação
de economia de linguagem (veja a técnica 58, Voz de comando) e
orientações em O que fazer (técnica 52), o que articula com imenso
carinho. Ela também é ótima na observação dos erros (Observação
ativa, técnica 9) enquanto constrói uma Cultura do erro (técnica 12),
corrigindo os erros sem ao menos uma pitada de julgamento ou
negatividade.
BreOnna Tindall: observar sua turma na Denver School of Science
and Technology me levou a cunhar o termo “espelho brilhante” – a
ideia de que Breonna está mudando os alunos e, ao mesmo tempo,
deixando que eles se revelem. Ela está proporcionando algo que é novo
e dando aos alunos a chance de mostrar o que já está ali. Ela inicia com
um Virem e conversem (técnica 43) impecável, mas observe como seu
sistema permite que ela varie os “colegas ao seu lado” e os “colegas
sentados à sua frente”. Tudo isso é incorporado ao hábito e mostra o
quanto procedimentos e rotinas (Capítulo 10) impecáveis conduzem a
um ambiente caloroso, con�ável e encorajador. A cordialidade da sua
chamada De surpresa (técnica 34) mostra o quanto essa técnica é
realmente inclusiva.
Christine Torres: você já leu um pouco sobre o estilo de ensino de
Christine na Spring�eld Prep em Spring�eld, Massachusetts, no
Prefácio – a mágica com a qual ela dá vida a O formato importa (técnica
18), Hábitos de atenção (técnica 48) e Hábitos de discussão (técnica 44).
O Capítulo 2 inicia com uma discussão da sua preparação. Para fazer o
Pedra Angular tive que cortar duas seções da sua aula – a revisão e a
discussão do vocabulário – porque raramente vi uma aula onde os
alunos participassem com tanto empenho e disposição, e seu estilo
pessoal lúdico combinado com a constante responsabilização amorosa
faz a turma cantar.
Nicole Warren: a aula com seus alunos do 3º ano na Leadership Prep
Ocean Hill Elementary Academy tem muita vida desde o início. Há um
rápido cântico em que todos estão incluídos (o Capítulo 10,
“Procedimentos e rotinas”, ajudará você á a fazer isso). Então ela vai
direto para o Virem e conversem (técnica 43). Em seguida, faz uma
chamada De surpresa (técnica 34) antes de fazer a transição para a
prática independente. Também há uma Prática da recuperação (técnica
7). O movimento de cada atividade para a seguinte é um modelo do
tipo de �uxo
,que uma lição ritmada pode desenvolver (Capítulo 6).
Observe em particular quão bem ela desenvolve o Marque as etapas
(técnica 28) com rápidas transições como “Diga ao seu colega” e “Vá
trabalhar!”, além da economia de linguagem (parte da técnica 58, Voz
de comando). O pequeno Todos juntos (técnica 35) de “Feliz
Aniversário” deixa Crystal com um sorriso no rosto. Também há uma
Observação ativa (técnica 9) de primeira linha e um Padronize o
formato (técnica 8) que lhe permitem saber como os alunos estão se
saindo e construir relações positivas e calorosas que você sem dúvida
vai conseguir observar.
Gabby Woolf: lendo O médico e o monstro com sua turma de alunos
de 10 anos na King Solomon Academy, em Londres, Gabby demonstra
uma maravilhosa Leitura em FASE (técnica 24) enquanto seus alunos
tornam o signi�cado audível. Em seguida, há algumas chamadas De
surpresa (técnica 34) enquanto ela aplica o Substitua o autorrelato
(técnica 6) com perguntas focadas para examinar a passagem. Ela se
certi�ca de reforçar que a discussão comece com ser ouvido,
enfatizando o formato audível de O formato importa (técnica 18). Seu
Circule (técnica 25) é excepcional, e suas orientações com O que fazer
(técnica 52) mantêm todos na tarefa: “O texto na frente de vocês, por
favor”. Há um ótimo Puxe mais (técnica 17), também, quando ela diz
“O que imaginamos quando lemos a palavra ‘porretada’?” “Neandertal”,
responde um aluno rápido. Essa é uma boa resposta, e Gabby a
reconhece seguindo com mais perguntas: “Por quê?”. Quando ele
explica: “Então como isso se relaciona com o personagem de Hyde?”. A
mensagem é: a recompensa para perguntas certas são perguntas mais
difíceis, embora a resposta dele seja um tipo de recompensa, também.
Sarah Wright: lendo Esperanza rising com seus meninos do 5º ano na
Chattanooga Prep, em Chattanooga, Tennessee, Sarah prova que a
melhor maneira de fazer com que os alunos tenham prazer com a
aprendizagem é ter procedimentos claros (Capítulo 10, “Procedimentos
e rotinas”) para que tudo funcione adequadamente e os alunos saibam
como fazer as coisas. Seus alunos escrevem primeiro, antes de darem
início ao Virem e conversem (técnica 43). Sua circulação aqui permite
que ela escute algumas respostas interessantes e prestigie o aluno
fazendo com ele uma chamada De surpresa. Observe também como,
quando Akheem lê sua frase, todos na aula estão olhando para ele e
mostrando com sua linguagem corporal que suas palavras têm
importância (técnica 48, Hábitos de atenção). Observe como o Virem e
conversem ganha vida, porque ela tem um sinal claro para a técnica,
porque os alunos a praticaram e porque eles sabem que todos os
colegas vão se juntar a eles com entusiasmo. Note como o Virem e
conversem termina rapidamente quando necessário, pois ela também
tem um procedimento claro e já estabelecido para chamar a turma de
volta à ordem. Observe como ela utiliza um sistema seu para permitir
que todos valorizem o trabalho uns dos outros e como, por mais que
queiram muito responder, os alunos não manifestam suas respostas;
isso possibilita que Sarah faça uma chamada De surpresa e dê a
Akheem a chance certa no momento certo. A alegria é perceptível. Os
procedimentos claros, a estrutura, os sistemas e as rotinas não são sua
antítese, mas parte da sua origem.
CINCO TEMAS: MODELOS
MENTAIS E EXECUÇÃO
INTENCIONAL
Para os carpinteiros, encaixar dois pedaços de madeira em ângulo reto
foi um desa�o complexo por séculos, especialmente quando não
queriam que aparecessem pregos ou parafusos – ou quando essas
ferragens não estavam disponíveis. Com o tempo, no entanto, os
carpinteiros gradualmente contornaram esse desa�o por meio de uma
técnica denominada furo e espiga. Aperfeiçoado durante séculos, esse
método envolve estreitar uma peça de madeira (uma espiga) e encaixá-
lo em um espaço escavado em outra peça (furo), assegurando que o
encaixe �que ajustado e resistente, mesmo com 90 graus, sem ferragens.
Na técnica de furo e espiga, porém, são necessárias inúmeras
adaptações dependendo do desa�o que se apresente. Para uma mesa de
jantar, o encaixe deve ser bem acabado, elegante e quase imperceptível.
As vigas de um galpão precisam ser massivamente fortes, mas
projetadas para um encaixe rápido enquanto são erguidas. Para uma
rampa, talvez o encaixe precise ser removível. Por isso, existem encaixes
em ponta, de uma ponta a outra e em cunha; espigas em bolota,
pregadas e biscoito.
Para os carpinteiros, a terminologia marca os insights de milhares de
artesãos e empodera o indivíduo que está enfrentando um desa�o para
avaliar com mais clareza as soluções disponíveis e engajar outros
carpinteiros na sua discussão com precisão.
Com os professores, ocorre o mesmo – ou pelo menos este livro
pretende que seja assim. Você quer engajar cada vez mais alunos
intencionalmente no trabalho de pensar? Tente uma chamada De
surpresa – isto é, chamar os alunos independentemente de terem ou
não se voluntariado – “inclusivamente”, como gosto de descrever.
Mesmo assim, uma ampla variedade de adaptações é possível com uma
chamada De surpresa. Fazer a pergunta antes de dizer o nome do aluno
que você está chamando pode fazer com que outros alunos respondam
à pergunta antes de serem chamados. Subdividir a pergunta maior em
perguntas menores pode envolver mais alunos na resposta. Fazer a
chamada De surpresa com um segundo aluno para responder à
primeira pergunta pode ajudar a socializar os alunos para ouvirem
atentamente uns aos outros. Podemos chamar essas coisas de
sincronização dos nomes, discriminação e seguimento.1 Nomear os
detalhes de uma técnica e suas adaptações deixa uma trilha de migalhas
de pão que você pode usar para re�nar seu uso.
Mas a técnica e a habilidade para descrevê-la não são su�cientes.
Muitos de nós executamos quase mil lições por ano – algumas que nós
mesmos planejamos, e algumas que seguem o esquema de alguma
outra pessoa. Fazemos isso com 30 alunos do 7º ano em uma manhã de
terça-feira e mais uma vez com 30 alunos diferentes do 7º ano na
mesma tarde. Em certo ponto, certamente nos lembraremos de que
nunca ensinamos a mesma lição duas vezes. Expertise – fazer o plano
de forma satisfatória para cada turma – signi�ca resolver um �uxo
contínuo de variáveis e contextos. Seu plano de aula presumiu que os
alunos entenderiam o que é justaposição, mas eles não entenderam.
Você achou que os alunos apresentariam animadamente uma miríade
de pensamentos sobre o capítulo, mas a primeira aula foi morna, e
apenas um aluno levantou a mão na segunda.
Por isso, um professor, mesmo aquele que domina sua caixa de
ferramentas, toma decisões não só sobre qual ferramenta usar, mas
também sobre como usá-la. Poucos alunos levantaram as mãos? Você
pode fazer uma chamada De surpresa, mas também pode usar a técnica
Virem e conversem, ou pode usar um rápido estímulo escrito para as
baixas participações – a técnica Pare e anote. Seu tom pode ser
extravagante: “Geralmente eu não consigo impedir que vocês
conversem sobre O doador de memórias. Aconteceu alguma coisa
terrível com as Kardashians e eu sou o último a saber”.2 Você pode ser
�losó�co: “Sim, essa é uma pergunta difícil. Quem será su�cientemente
corajoso para respondê-la?”. Você pode ser direto: “Preciso ver mais
mãos levantadas”. Você pode não dizer nada.
Em uma aula típica, você normalmente precisa decidir rapidamente.
Então você decide, decide e decide mais uma vez. Você é um rebatedor
enfrentando centenas de lançamentos seguidos – uma comparação à
qual voltarei daqui a pouco, mas primeiro é importante perguntar: de
que você precisa para decidir rapidamente, com con�ança e bem, ao
mesmo tempo pensando em outras coisas e, muitas vezes, sob um
pouco de pressão na forma de, digamos, 29 alunos inquietos, o valor de
25 minutos de trabalho que ainda precisa ser feito e o ruído do relógio
para lembrá-lo que lhe restam 15 minutos no período de aula?
A ciência cognitiva diria que ter um forte modelo mental é essencial.
Nesse caso, isso signi�ca ter uma concepção clara de como devem ser
os
,elementos de uma lição de sucesso. Isso também se bene�cia da
linguagem intencional para que os princípios sejam estruturados com
con�ança.
MODELOS MENTAIS
Certa noite, alguns anos atrás, eu assistia a um jogo de futebol com um
técnico chamado Iain Munro, que havia jogado pro�ssionalmente por
quase 20 anos no Reino Unido e depois foi treinador por mais 20 anos.
Em certo momento durante a partida, ele estava comendo alguma
coisa, e eu estava a ponto de lhe fazer uma pergunta. De repente, ele
ergueu a cabeça e exclamou: “O right back está fora de posição!”.
“Como?”, eu disse, me perguntando a qual jogador e a que time ele
estava se referindo e se estava falando sobre o jogo que estava
acontecendo no estádio, lá embaixo, ou de algo mais abstrato e
metafórico.
“Ele avançou demais para o centro e não consegue ver o adversário”,
disse Iain. Ele gesticulou com seu sanduíche para me mostrar. Quando
fez isso, o adversário um jogador do time contrário notou a mesma
coisa. Ele fez um passe para um companheiro correndo acelerado no
ponto cego do right back. Momentos depois, o jogo estava 1 a 0.
Nós estávamos assistindo à partida há meia hora de uma forma
relaxada quando de repente um entre 22 jogadores �cou fora de
posição por alguns segundos. Iain viu isso instantaneamente, a 70
metros de distância, enquanto conversava e comia um sanduíche.
Algum tipo de alarme havia disparado. Era possível ver isso na sua
linguagem corporal. Ele sabia que aquilo signi�cava problema.
Como ele havia feito aquilo? O segredo era seu conhecimento de
como as coisas deveriam ser. “Os quatro de trás têm um formato
apropriado”, disse ele. “Juntos eles devem se parecer um pouco com um
pires. O pires deve se inclinar um pouco em resposta ao ponto onde a
bola está”, disse ele, gesticulando com as mãos.
O que Iain estava descrevendo era um modelo mental, uma estrutura
que as pessoas usam para entender ambientes complexos. Sua mente
estava continuamente comparando o que estava à sua frente com esse
modelo mental e o ajudava a notar rapidamente coisas que eram
importantes ou estavam fora do lugar.
Os professores também têm modelos mentais. Você vira de costas
brevemente para a turma, mas consegue, sem olhar, distinguir a
tagarelice normal e natural dos alunos que estão ocupados na tarefa das
conversas que parecem inadequadas. Talvez você não consiga explicar
como, mas, ao ouvir, sabe que a distração está em curso. Você tem um
modelo mental do ruído na sala de aula.
Pesquisas mostram que modelos mentais são cruciais para uma
tomada de decisão efetiva em quase todas as áreas de conhecimento,
mas especialmente nas áreas em que as pessoas precisam tomar muitas
decisões rapidamente enquanto estão focadas em múltiplas coisas.
Em sua pesquisa sobre a expertise dos professores, David Berliner3
mostrou o vídeo de salas de aula a professores novatos e a experientes.
Os novatos tiveram di�culdades para entender o que estava
acontecendo. “Na maioria das vezes, eles relataram observações
contraditórias e pareciam confusos sobre o que estavam observando”,
escreve Berliner. Já os experientes, como Ian, muitas vezes pareciam
estar observando passivamente até que alguma coisa parecesse fora do
lugar. Isso desencadeava uma reação. “Quando ocorriam situações
anormais”, os experientes respondiam “sem esforço e de forma �uida”,
em parte porque eram capazes de identi�car rapidamente o que era
uma anormalidade. Eles não reagiam de forma exagerada ao que era
normal, mas eram rápidos em notar problemas potenciais rapidamente.
Conseguiam distinguir quais alunos �cavam mais silenciosos do que o
normal por estarem concentrados e quais �cavam quietos por estarem
entediados. Eram capazes de rapidamente separar um sinal de um
ruído, em parte porque estavam comparando o que viam com um
modelo mental.
O restante deste livro discute técnicas especí�cas, mas este capítulo
descreve os princípios centrais que podem ajudar os professores a
construir um modelo mental mais forte e, assim, escolher entre as
técnicas e tomar melhores decisões no ensino. Aqui, considero
melhores decisões aquelas que resultam em mais aprendizado e
desenvolvimento entre os alunos. Decidir começa com uma percepção
cuidadosa, e os modelos mentais auxiliam nisso. No entanto, embora a
percepção derive da experiência, ela se desenvolve mais rapidamente
quando compreendemos princípios básicos.
Isso não está nas primeiras versões do livro, mas acrescentei a esta
edição para enfatizar como é importante compreender o propósito das
técnicas. “Um ensino excepcional sempre começa com uma visão clara
e um propósito �rme”, escreve Adeyemi Stembridge em Culturally
Responsive Education in the Classroom. “O professor que entende bem
isso é... capaz de ser excepcional até nas estratégias mais banais” (p.
154). Dito de outra forma, “Tudo funciona em algum lugar, e nada
funciona em todos os lugares”, como escreve Dylan William. Uma
técnica impecável exatamente no momento errado ou pela razão errada
é um beco sem saída.
Depois da visita a uma escola, há não muito tempo, meu colega
Darryl Williams re�etiu sobre um exemplo. Havíamos visto uma
professora engajar seus alunos lindamente – todas as mãos estavam
gesticulando com entusiasmo durante a maior parte da sua aula. A
energia era palpável e, como um leitor de Aula Nota 10 poderia notar, a
proporção da participação era alta. Houve muitas oportunidades para a
técnica Virem e conversem, mas Darryl sentiu que alguma coisa estava
faltando. As perguntas eram triviais, e as respostas eram vagas. A
professora não havia re�etido previamente sobre quais eram as
perguntas mais importantes e como seriam as boas respostas. “Se as
pessoas tentarem usar técnicas para compensar uma falta de clareza
sobre seu conteúdo, a lição não irá funcionar”, disse Darryl.
Compare esse exemplo com o ensino de Sadie McCleary no vídeo
Sadie McCleary: Pedra Angular. Ela também usa a técnica Virem e
conversem para estimular mais participação em sua sala de aula. Os
alunos gesticulam animados, se engajam dinamicamente. Mas a
intenção e o motivo de ela escolher a técnica eram extraordinários.
Sadie descreveu seu pensamento da seguinte maneira:
Se for uma pergunta mais importante, sempre peço que os
alunos escrevam ou a técnica Virem e conversem primeiro para
aumentar a participação, depois circulo enquanto eles estão
conversando e escolho um ou dois para chamada De surpresa.
Se for alguma coisa mais fácil, posso perguntar em voz alta, mas
reúno dados no momento fazendo a chamada De surpresa com
alunos especí�cos, geralmente com aqueles que considero
termômetros, que mostram o que a turma está achando. Se for
alguma coisa muito simples, da qual quero que todos os alunos
se lembrem rapidamente, posso usar o Todos juntos para todos
falarem em voz alta.
Sadie re�ete cuidadosamente sobre a técnica, mas sua compreensão
dos princípios de como a aprendizagem acontece forja suas decisões –
seu objetivo é manter os alunos pensando constantemente e
construindo ativamente a memória de longo prazo. Um marinheiro
precisa se preocupar com os nós e as velas, mas também deve �car de
olho na bússola.
Você pode argumentar que os títulos dos capítulos deste livro já
compõem um conjunto de princípios para um modelo de boa sala de
aula. Pode argumentar que devemos “veri�car a compreensão” e ter
altas expectativas acadêmicas e comportamentais, por exemplo, ou que
a “proporção” no trabalho dos alunos deve ser alta e incluir um
equilíbrio entre escrita, discussão e questionamento. Em muitos
aspectos, eles são assim, mas são princípios de ensino, e mesmo esses
princípios precisam ser apoiados por princípios de aprendizagem que
possam ajudar a explicar por que certos métodos funcionam, e não
como e quando usá-los.
Primeiramente, no entanto, permita que eu faça uma breve digressão
sobre percepção. É crucial que os educadores entendam a percepção,
pois ela molda a tomada de decisão. Só podemos tomar decisões sobre
o que vemos. Para que um professor reconheça que Julissa está �cando
desanimada em relação
,à matemática, ele primeiramente precisa
perceber a linguagem corporal e a expressão facial de Julissa. Muitas
pessoas presumem que isso é muito mais simples do que na verdade é,
que se olharmos para ela iremos vê-la, mas ver na verdade está longe de
ser automático. O primeiro passo, frequentemente negligenciado ao
tomarmos melhores decisões, é ver melhor.
“Estamos conscientes apenas de uma pequena porção do nosso
mundo visual em um determinado momento,” a�rmam Christopher
Chabris e Daniel Simons em O gorila invisível, estudo de um tópico que
os professores conhecem bem: cegueira inatencional. Esse é o termo
técnico para a habilidade de cada pessoa no planeta de olhar
diretamente para alguma coisa importante e simplesmente não a ver:
um carro entrando no cruzamento, um aluno levantando sua mão com
hesitação ou, simplesmente, um apagador voando pela sala. Isso
acontece o tempo todo com pessoas que trabalham em ambientes
perceptivos complexos. Acreditamos que a percepção é objetiva e
automática. Na verdade, não queremos acreditar que falhamos em
perceber algo. Essa é a parte complicada. Chabris e Simons a�rmam
que isso é totalmente incompatível com a forma como entendemos
nossas mentes”.
O que fazer se a percepção pode falhar, mas ainda assim é
importante? O que fazer se é essencial conseguir notar o aluno que está
em silêncio e frustrado, por exemplo? Ou quando você passou 10
minutos explicando um tema, e Daphne ainda nem pegou no lápis?
“Existe uma forma comprovada de eliminar a cegueira inatencional:
tornar o objeto ou evento inesperado menos inesperado”, concluem os
autores. Em outras palavras, a melhor maneira de ver bem é saber o que
deve ocorrer. Seu modelo mental orienta o que você deve procurar.
Quanto mais entendemos, mais vemos. Não entender o que estamos
vendo também in�uencia nosso olhar. Um estudo recente mostrou que
radiologistas faziam diagnósticos mais precisos e corretos com base em
raios-x do que os iniciantes (ou seja, eles tinham maior probabilidade
de percebê-los corretamente), mas os erros dos radiologistas menos
experientes não aconteciam por acaso.4 Eles temiam “deixar passar
alguma coisa”, e essa responsabilidade fazia com que diagnosticassem
exageradamente condições que não existiam. Mesmo com a
preocupação de não entender, o que você está vendo in�uencia como
você vê.
Com isso em mente, é importante reservar algum tempo para discutir
os cinco princípios orientadores a seguir. Espero que eles forneçam um
modelo mental útil de como a aprendizagem funciona e aumentem sua
habilidade de perceber as coisas com exatidão na sala de aula, e aplicar
as técnicas deste livro para incentivar o melhor dos alunos.
1. Entender a estrutura cognitiva humana signi�ca construir memória
de longo prazo e mobilizar a memória de trabalho.
2. Hábitos aceleram a aprendizagem.
3. Aquilo ao que os alunos prestam atenção é o que irão aprender.
4. Motivação é social.
5. Ensinar bem é construir relações.
PRINCÍPIO 1: ENTENDER A ESTRUTURA
COGNITIVA HUMANA SIGNIFICA CONSTRUIR
MEMÓRIA DE LONGO PRAZO E MOBILIZAR A
MEMÓRIA DE TRABALHO
Este é um modelo simples da estrutura da cognição humana, fornecido
por Daniel Willingham em seu excelente livro Por que os alunos não
gostam da escola?
Entre tudo o que isso indica está o fato de que a memória de trabalho
é o meio pelo qual interagimos conscientemente com o mundo.
Qualquer pensamento de que temos consciência, como o pensamento
crítico, ocorre aqui.
O poder da memória de trabalho é surpreendente. Permitiu que a
humanidade descobrisse a penicilina, criasse o musical Hamilton e
conceitualizasse a Teoria das Cordas. Mas além do seu imenso poder, a
característica mais dominante da memória de trabalho é sua minúscula
capacidade. Temos di�culdade para ter mais do que uma, ou talvez
duas ideias ao mesmo tempo. Eis uma maneira de testar os limites da
sua memória de trabalho. Releia as duas primeiras sentenças deste
parágrafo. Depois feche o livro e tente escrevê-las palavra por palavra
em um pedaço de papel. Você provavelmente terá di�culdade para
lembrar mesmo dessas duas sentenças simples. É aí que você se depara
com os limites da sua memória de trabalho. Você simplesmente não
consegue manter muita informação ali em um determinado momento.
Uma versão deste problema – a cognição sendo restringida pelos
limites da memória de trabalho – ocorre repetidamente com aqueles
que estão em pleno aprendizado. Se tentarmos manter informações em
excesso na memória de trabalho, não conseguiremos nos lembrar delas.
Se persistimos sobrecarregando a memória de trabalho, nos forçamos
a fazer escolhas entre as coisas em que estamos tentando trabalhar. Por
exemplo, se você está dirigindo e também tentando usar a memória de
trabalho para outra tarefa – por exemplo, conversar ao telefone com
quem mora com você sobre as coisas que precisa pegar no mercado –, é
muito maior a probabilidade de causar um acidente enquanto faz uma
curva à esquerda atravessando o �uxo do trânsito. Não importa se você
não está segurando seu celular. O problema não é estar com as mãos
ocupadas, mas a memória de trabalho. Uma grande carga na memória
de trabalho diminui a sua percepção, e você tem menos capacidade
para reparar nos outros veículos se aproximando. Você percebe menos
do ambiente quando sua memória de trabalho está sobrecarregada. Isso
por si só tem implicações importantes para o ensino. Uma delas
discutiremos no Capítulo 2: uma boa preparação de aula permite que
você ensine com menos carga na memória de trabalho. Se você não se
preparou bem, sua memória de trabalho terá muito trabalho para
tentar se lembrar do que vem a seguir no conteúdo e será menos
provável que você veja com precisão o que está acontecendo na sala de
aula.
Uma memória de longo prazo bem desenvolvida é a solução para as
limitações da memória de trabalho. Se uma habilidade, conceito, algum
conhecimento ou um corpo de conhecimento estiver codi�cado na
memória de longo prazo, seu cérebro poderá usá-lo sem prejudicar
outras funções que também dependem da memória de trabalho. A
memória de longo prazo é quase ilimitada. Se nosso conhecimento
estiver bem estruturado e formos capazes de recuperá-lo, poderemos
nos basear nele para informar nosso pensamento e fazer conexões. O
tormento para o educador da nova era, fatos, meros fatos, muitos deles,
estruturados cuidadosamente na memória de longo prazo e facilmente
recordados através da prática, é o fundamento de formas superiores de
cognição. Você começa a pensar conscientemente sobre alguma coisa
que está na memória de trabalho – digamos, uma cena em um romance
que você está lendo – e de repente as conexões da sua memória de
longo prazo começam a se multiplicar. É como outro livro que você lê,
é um exemplo de uma teoria sociológica, o que você está lendo não é
historicamente preciso. Essas formas de pensamento crítico estão se
baseando no conhecimento codi�cado na memória de longo prazo.
Como escreve Willingham: “Os dados dos últimos 30 anos levaram a
uma conclusão que não é cienti�camente contestável: pensar bem
requer conhecer os fatos... Os próprios processos com os quais os
professores mais se preocupam – processos de pensamento crítico
como raciocínio e solução de problemas – estão intimamente
interligados com o conhecimento factual que está na memória de longo
prazo”.5 “Muitas vezes, quando vemos alguém aparentemente engajado
em pensamento lógico, ele na verdade está engajado na recuperação da
memória”, continua Willingham.
Essa noção deve indicar o modelo mental de cada professor.
Primeiramente, pensamento crítico e solução de problemas não são o
oposto de conhecimento factual, mas se baseiam nele. Isso é importante
de ser observado porque muitos educadores desdenham os fatos. Por
que ensiná-los, é o argumento, quando você pode buscar qualquer coisa
no Google? Em vez disso, devemos ensinar pensamento crítico. A
resposta a essa pergunta retórica, como nos diz Willingham, é que você
não consegue ensinar pensamento crítico sem fatos. A solução de
problemas
,é “especí�ca para domínios”. Em sua maior parte, você pode
ter pensamentos aprofundados apenas sobre coisas sobre as quais sabe
alguma coisa.
Em uma o�cina recente com líderes escolares, tentei fazer alguns
acréscimos ao diagrama de Willingham para captar um pouco mais
sobre o que ele propõe, conforme segue:
Na minha versão, tentei deixar a memória de trabalho (MT) muito
pequena para lembrar que sua capacidade é limitada. Já a memória de
longo prazo (MLP) é grande. A linha pontilhada sugere que, até onde
sabem os cientistas cognitivos, ela é praticamente ilimitada. Ter mais
conhecimento na memória de longo prazo não di�culta aprender algo
novo; pelo contrário, facilita. Quanto mais você sabe, mais conexões
consegue fazer para adquirir novos conhecimentos. Isso faz com que
você se lembre mais fácil desse conhecimento e fornece mais conexões
para que você se lembre dele. Uma expressão entre os cientistas
cognitivos: “coisas que disparam juntas se conectam”. Se pensamos
nelas ao mesmo tempo, lembrar delas também acontecerá em conjunto
e, em um caso ideal, lembrar de alguma coisa da memória de longo
prazo intensi�cará a recordação de conceitos e ideias relacionadas. O
antídoto para o argumento de que a memória é composta meramente
de fatos isolados é, em parte, organizar nossas memórias para que o
conhecimento esteja conectado a outros fatos, insights e observações. É
assim que fatos inicialmente isolados se tornam algo mais abrangente
que denominamos conhecimento. Entretanto, lembrar-se de alguma
coisa requer sucesso no armazenamento e sucesso no acionamento.
Além disso, a velocidade e a facilidade com que você consegue
encontrá-la é o fator crucial em sua habilidade de usá-la. Assim, mais
uma vez, as memórias organizadas com muitas conexões entre
inúmeras informações também têm maior probabilidade de encontrar
mais caminhos para recordar com êxito o conhecimento que elas
contêm.
Também acrescentei ao meu modelo a ideia de que a percepção é
complexa, porque uma das coisas que a memória de trabalho faz muito
bem – ajudar a perceber o mundo externo – é muito mais complexa e
mais falha do que pensamos. Em geral, se a memória de trabalho
estiver sobrecarregada, os alunos perceberão e lembrarão menos. A
solução é ter conhecimento codi�cado na memória de longo prazo.
Depois que a informação está armazenada ali, ela pode ser usada com
muito pouca carga da memória de trabalho.
É claro, se a memória de trabalho tem poucos estímulos, haverá
“maus resultados”: tédio e aprendizagem reduzida, para os iniciantes,
além de falta de atenção. A mente encontra outras coisas para fazer.
Portanto, é essencial prestar atenção e manejar a quantidade de novas
informações com as quais trabalham os cérebros jovens. Nós os
queremos constantemente engajados e interessados, mas não
sobrecarregados com mais do que podem manejar. A ciência por trás
disso é conhecida como “Teoria da Carga Cognitiva”. Ela está entre as
coisas mais importantes que os educadores devem saber. Sweller,
Kirschner e Clark, pesquisadores mais importantes dessa teoria,
de�nem aprendizagem como uma mudança na memória de longo
prazo e observam que “O objetivo de toda instrução é alterar a
memória de longo prazo. Se nada mudou na memória de longo prazo,
nada foi aprendido”.6 É por isso que é tão importante pensar sobre o
esquecimento. Você encontrará esse conceito em várias das novas
técnicas deste livro.
Um último comentário essencial sobre o manejo da memória de
trabalho: o efeito de desvanecimento da orientação, de Sweller, defende
que os indivíduos experientes e os iniciantes aprendem de formas
diferentes. Os ambientes para solução de problemas em que os
aprendizes têm tarefas com soluções inferidas em vez de receberem
instrução guiada funcionam bem para os experientes porque eles
percebem esses ambientes de forma ágil e podem rapidamente conectar
o que veem com sua vasta base de conhecimentos. Com quem está
aprendendo, isso não ocorre. Eles provavelmente terão uma percepção
errada ou prestarão atenção a pontos de pouco valor ou usarão sua
escassa memória de trabalho para procurar a informação correta. Com
pouco conhecimento sobre o assunto em sua memória de longo prazo,
eles fazem muito menos conexões. Para os iniciantes, a instrução
cuidadosamente guiada é muito mais efetiva. No entanto, muito poucos
educadores têm consciência dessa distinção. Eles têm a tendência a
presumir que o que funciona para os experientes é, portanto, melhor
para todos. Se é assim que os melhores matemáticos aprendem,
devemos aplicar isso a todos. Mas o efeito de diminuição da orientação
indica que pensar isso é um erro. “Os alunos devem inicialmente
receber muita orientação explícita para reduzir a carga na sua memória
de trabalho, o que auxilia na transferência de conhecimento para a
MLP”, a�rma Sweller. “Depois que os alunos estão mais informados,
essa orientação é desnecessária e interfere no maior desenvolvimento
de competência, devendo ser diminuída e substituída pela solução de
problemas”. Os alunos da educação básica, normalmente, são iniciantes,
embora não seja sempre assim. Você pode ser um especialista em
Macbeth, mas um aprendiz assim que começa a ler Hamlet. Ou vice-
versa. A técnica 21, Mostre as etapas discute em particular várias
questões levantadas pelas interações das memórias de trabalho e de
longo prazo, “a maldição da expertise” e a necessidade de analisar novas
informações em etapas com a prática intercalada para abordar questões
da capacidade da memória de trabalho (mas será útil ao longo de todo
o livro). Você deverá usar a Prática da recuperação com frequência para
instalar conhecimento na memória de longo prazo e usar a chamada De
surpresa para assegurar que todos estejam praticando. Peça que os
alunos escrevam antes das discussões para reduzir o esforço na
memória de trabalho de terem que recordar o que queriam dizer,
deixando-os livres para ouvir os comentários uns dos outros, por
exemplo.
Um aspecto �nal sobre a importância da memória de longo prazo
provém de um vislumbre no que é conhecido como a curva do
esquecimento, que demonstra a velocidade com que uma pessoa
normalmente esquece de coisas que aprendeu.
A curva do esquecimento original foi derivada na década de 1880
pelo psicólogo alemão Hermnn Ebbinghaus e demonstrava
gra�camente a velocidade real em que ele era capaz de se lembrar de
uma série de sílabas sem sentido depois de aprendê-las. Embora seus
alunos não estejam aprendendo silabas sem sentido, vale a mesma coisa
para a velocidade com que se esquecem do que aprenderam. O
princípio é amplamente aceito pelos psicólogos cognitivos. Con�ra a
seguir o que nos diz a curva do esquecimento.
Assim que você aprende alguma coisa, começa a esquecê-la quase
imediatamente.
A velocidade do esquecimento normalmente é muito alta: algumas
horas depois de aprender alguma coisa, as pessoas, em geral,
lembram-se de apenas uma fração dela.
Cada vez que você pratica recordar o que sabe, a velocidade e a
quantidade do esquecimento é relativamente reduzida.
Recuperar alguma coisa de volta à memória de trabalho reduz a
velocidade do esquecimento, mas é importante saber como e
quando a recuperação acontece. (Discuto a recuperação em mais
detalhes na técnica 7, Prática da recuperação.)
Essa é uma informação imensamente útil, mas as curvas do
esquecimento não dão conta de tudo. Não conseguem mostrar
exatamente qual será a taxa de retenção para seus alunos em geral ou
para um aluno especí�co no momento A ou momento B, para um
tópico especí�co que você ensinou. Existem diferenças individuais e
fatores no ambiente de aprendizagem, como o quanto os alunos estão
prestando atenção e o quanto a informação era nova para eles.
Portanto, a curva na maioria dos casos é teórica, mas o tema é claro:
esquecemos rapidamente e decisivamente tão logo paramos de pensar
sobre alguma coisa, e esse processo está sempre em ação. Se inalterado,
seus efeitos são massivos.
É importante destacar que o que os alunos conseguem lembrar no
�nal de uma aula não representa
,o que eles realmente sabem, pois o
conhecimento ainda não está na memória de longo prazo, e o
esquecimento inicia quando o ensino para. Os alunos começarão a
esquecer no momento em que saírem da aula. Sim, use a técnica do
Arremate para avaliar no �nal da aula. Mas saiba também que, a não
ser que faça uma revisão adicional, essa técnica pode enganar.7 Você
pensa que seus alunos sabem como somar frações com denominadores
diferentes, mas, ao dar um teste na semana seguinte ou no �nal do ano,
vai ver o resultado da aprendizagem inicial menos o esquecimento que
sempre ocorre depois dela. Manejar o esquecimento é tão importante
quanto manejar a aprendizagem (mas não é tão visível).
Isso é especialmente relevante porque apenas o conhecimento na
memória de longo prazo pode ser usado sem redução da memória de
trabalho disponível para outras tarefas ou sem prejudicar a percepção.
Se você �zer uma pergunta mais complexa, como “Você consegue
encontrar outra maneira de resolver este problema?”, a resposta,
provavelmente será não se a memória de trabalho for exigida a serviço
dos cálculos. Se quer um raciocínio mais complexo ou maior percepção
por parte dos alunos, ajude-os a liberar sua memória de trabalho no
momento em que quer que eles se engajem nessas tarefas, tornando
mais �uidas as habilidades que eles estão usando no momento. É por
isso que a �uência na leitura e a automaticidade com fatos matemáticos
são fundamentais – elas são necessárias porque não queremos que os
alunos se ocupem dessas coisas em momentos cruciais, e �uência é o
único modo de evitar o problema da memória de trabalho. Você não
consegue perceber o tom do autor se sua memória de trabalho precisa
estar engajada para analisar a sintaxe do trecho que está lendo. Quando
as habilidades básicas não são totalmente automáticas, é muito difícil
ter pensamentos complexos ou perspicazes durante a leitura. Alunos
inteligentes e interessados talvez não consigam ter muito a dizer sobre
uma passagem que leram, porque sua memória de trabalho foi
empregada decifrando as palavras. Isso também vale para o
conhecimento prévio. Você não pode dar um salto para conectar a
atitude do primeiro ministro com a do seu predecessor um século
antes, a não ser que esse conhecimento esteja na sua memória de longo
prazo. “Procurar no Google”, na verdade, exige sua memória de
trabalho.8
Então, qual é o número ideal de interações necessárias com o
conteúdo se quisermos estruturar a memória de longo prazo? Pesquisas
sugerem três ou quatro, mas com muitas ressalvas e muitas incógnitas.
Em �e hidden lives of learners, Graham Nuthall observa que três
interações com o material determinam, com 80% de precisão, se os
alunos aprenderam o conteúdo. Nuthal e seus colegas analisaram o
conteúdo ensinado em uma aula especí�ca e determinaram se os
alunos haviam prestado atenção a ele, seja ouvindo uma instrução do
professor, seja interagindo com os pares. Eles conseguiram prver com
80% de precisão se os alunos haviam aprendido o conteúdo. Tão
preditivo era esse método que Nuthall levanta a hipótese de que é, pelo
menos, possível que “outros fatores (como o uso de perguntas abertas,
feedback, organizadores prévios, exemplos e analogias relevantes e o
nível de interesse do material) podem não ser relevantes para a
aprendizagem do aluno, exceto na medida em que eles aumentam a
probabilidade de os alunos prestarem atenção ao conteúdo relevante”.9
Mas é claro que, mesmo que a pesquisa de Nuthall fosse conclusiva, a
complexidade e familiaridade do conteúdo, independente da qualidade
da apresentação do material e da capacidade de atenção dos alunos,
poderia alterar esse número. Além disso, a ideia de que, se você não
ouve três vezes, não irá aprender torna-se especialmente importante à
luz das pesquisas sobre a constância de distrações de nível baixo em
muitas salas de aula. Assim é também o grau de �uência que o
conteúdo exigiu. “Lembrar” pode signi�car coisas diferentes.
Dependendo do conteúdo, não tem problema se eu precisar de alguns
segundos para puxá-los da memória de longo prazo. Não há pressa.
Mas de algumas coisas eu preciso num piscar de olhos e, portanto,
podemos presumir que requerem mais interações para garantir a
facilidade e velocidade da recordação.
Como esse princípio deve determinar as decisões de ensino?
Mantenha livre a memória de trabalho para os alunos apresentando o
novo conteúdo em porções administráveis e incluindo sequências
curtas de prática e recuperação. A chamada De surpresa é uma ótima
ferramenta para que todos façam o trabalho da recuperação, mesmo
aqueles que você não chama. Você também pode usar a técnica Todo
mundo escreve e outras formas de escrita para fazer com que o
pensamento dos alunos seja codi�cado na memória por mais tempo.
Um bom adágio a ser lembrado é que os alunos se lembram daquilo
que pensam, então mantenha a proporção elevada e desenvolva hábitos
de atenção e foco. Sempre tenha em vista a construção de
conhecimento (organizadores do conhecimento podem ser úteis) e
reforce a �uência na leitura com a técnica Leitura em FASE.
Mas também não esqueça da sua própria memória de trabalho. O
Capítulo 2 vai ajudar na preparação da aula para que você se concentre
em perceber o que está acontecendo com os alunos enquanto ensina.
Ao reunir os dados sobre o domínio dos alunos, lembre-se de que esses
dados podem rapidamente sobrecarregar sua memória de trabalho,
portanto monitore-os por meio da técnica de Observação ativa.
Aulas on-line
Mobilizar as limitações da memória de trabalho é um dos principais
desa�os de ensinar em qualquer contexto. On-line, seus desa�os são
potencializados, já que estamos competindo com distrações
potenciais e a atenção é fragmentada. Embora as aulas on-line
facilitem que os alunos façam pesquisas, escrevendo depois seus
resultados no chat, às vezes acabava havendo uma quantidade
exagerada de dados. A “velocidade dos dados” frequentemente era
excessiva para a memória de trabalho: 30 respostas dos alunos na
barra de rolagem cruzando a tela é mais do que os professores ou os
alunos conseguem processar. O resultado, algumas vezes, era todos
falando e ninguém sendo capaz de ler ou prestar atenção aos
comentários. O vídeo Harley e Clayton: Mostrando os dados mostra
Rachel Harley e Hasan Clayton, dois professores na Nashville
Classical Charter School, apresentando uma solução so�sticada. Eles
pedem que os alunos mandem suas respostas pelo chat apenas para
eles, não “para todos”, e então selecionam algumas respostas
excepcionais e as publicam onde a classe possa ler e re�etir sobre
elas com mais foco. Realmente não há razão para que os professores
não possam selecionar um conjunto de exemplos interessantes dos
alunos e apresentá-los para guiar e desenvolver a discussão de
forma similar também em salas de aula físicas.
PRINCÍPIO 2: HÁBITOS ACELERAM A
APRENDIZAGEM
Outra demonstração de que a memória de trabalho é tão poderosa
quanto limitada é a percepção de que toda tarefa que você consegue
fazer sem uma carga mínima na memória de trabalho permite usar a
capacidade remanescente para alguma coisa mais importante. A leitura
�uente é talvez o exemplo mais importante disso. Quando os alunos
conseguem ler com �uência, sua memória de trabalho é liberada para
pensar com mais profundidade sobre o texto, e sua compreensão e
habilidade para analisar aumentam.
Isso também explica por que a formação de hábitos é tão crítica para
a aprendizagem. Atividades cotidianas com que temos familiaridade,
que podemos fazer sem ter que pensar antes, são mais fáceis de realizar.
Isso signi�ca que podemos liberar nossas mentes para pensar em coisas
mais complexas enquanto as realizamos.
Seu despertador toca na escuridão antes de amanhecer, e sua mão dá
um tapa no botão soneca. Você está com sono, mas em seguida está de
pé na frente da pia com a pasta de dentes na escova. Agora o chuveiro
está ligado. Provavelmente você está se movimentando pelo hábito
enquanto seu cérebro se esforça para encarar o novo dia. Você faz
,o que
faz porque isso é o que você faz. Suas ações aconteceriam mais
lentamente e exigiram mais força de vontade e memória de trabalho
(ou poderiam nem acontecer) se não fossem um hábito. Uma rotina
conhecida permite que você poupe sua força de vontade para alguma
outra coisa. Curiosamente, pesquisas sugerem que a força de vontade é
de fato limitada desse modo. A maioria de nós pode esgotá-la. O termo
“esgotamento do Ego”10 descreve esse fenômeno.
Porém algo mais acontece como resultado dos hábitos. Provavelmente
alguns dos pensamentos mais livres e abrangentes que você terá hoje
ocorrerão enquanto está fazendo coisas que faz por hábito: escovando
os dentes, de pé no chuveiro, talvez dirigindo até o trabalho. Sua mente
pode fazer essas coisas com custo muito baixo para a memória de
trabalho. De repente ela está livre para vaguear. Antes que perceba,
você está pensando sobre onde colocar o sofá para que a sala de estar
�que mais funcional ou qual é a melhor pergunta para destravar a
leitura da noite passada para seus alunos.
Pense nisso em termos da sala de aula. Quando você pede que seus
alunos escrevam em resposta a um livro que estavam lendo ou
discutindo, quanto mais o processo é estabelecido como um hábito –
“peguem seu Diário de Respostas do Leitor e comecem a escrever” –,
mais memória de trabalho sobra para pensar sobre o livro. Con�ra
como isso acontece com esta sequência na sala de aula do 5º ano de
Jessica Bracey: Pedra Angular. Jessica diz: “Peguem seus livros. Pergunta
87 em seus Diários de Respostas do Leitor. Vocês têm evidências no
texto. Podem começar!”. Menos de três segundos depois, cada lápis na
sala está se movendo e, o que é mais importante, cada aluno está
pensando de verdade sobre o livro. Compare essa situação com a da
Srta. Yecarb. Sua sala de aula é o oposto da sala da Srta. Bracey. Ela acha
que os alunos �cam entediados fazendo as mesmas coisas todos os dias,
então frequentemente promove novas maneiras de tornar interessantes
as tarefas de casa. “Reservem alguns minutos para anotar seus
pensamentos sobre por que Maddie faz o que faz”, diz a Srta. Yecarb. “É
para escrever em frases?”, um aluno pergunta. “Sim”, diz a Srta. Yecarb.
“Onde?”, pergunta outro aluno. “Qualquer coisa serve: numa folha de
papel ou em suas anotações. Usem um lápis de cera grande e roxo, se
tiverem! Mas tentem pensar de verdade sobre isso,” responde a Srta.
Yecarb. “Pode ser neste?”, pergunta um, erguendo seu caderno. “Não
consigo encontrar um pedaço de papel”, diz outro aluno. “Ei!”, diz um
terceiro. Seu colega na carteira ao lado estava procurando um lápis na
mochila e balançou a carteira dele.
O problema não é só o tempo desperdiçado, embora claramente
tenha sido desperdiçado. É que a continuidade foi perdida, e o foco,
dissipado. Quando seus alunos começarem a escrever, lembrarão
menos sobre o texto. As ideias que estavam começando a se
desenvolver alguns segundos antes tinham sido desviadas da memória
de trabalho pelas demandas de pegar lápis e papel. Seus insights serão
espalhados ao vento. Quando escreverem, uma parte deles estará
pensando em aspectos banais da realização da tarefa – Estou
escrevendo o su�ciente? Outras pessoas estão escrevendo mais? –, pois
responder por escrito ainda não é um hábito. Ironicamente, em um
esforço para tornar “interessante”, a Srta. Yecarb foca mais atenção na
tarefa de escrever e menos no livro em si.
Na classe de Jessica, no entanto, as ideias estão �uindo
imediatamente, porque existe hábito e procedimento. Há um diário na
pasta de todos, a pasta está sobre a carteira de todos, e os lápis estão nos
estojos. A narrativa dela revela que eles já �zeram 87 vezes e, portanto,
para eles é equivalente a escovar os dentes. Eles conseguem fazer isso
não só rapidamente, mas com sua atenção em coisas maiores – o livro,
no caso. Os alunos de Jessica provavelmente terão pensamentos mais
complexos e criativos, porque ela tornou um hábito a parte de
responder por escrito. Você pode ver os benefícios disso no resto do
vídeo. O que fazemos como hábito exige menos força de vontade, por
isso que todos os alunos estão escrevendo o tempo todo. O que fazemos
por hábito permite que nossa memória de trabalho esteja em coisas
mais substanciais, por isso que os alunos se engajaram nas perguntas de
Jessica de forma re�exiva. Não causa surpresa, no entanto, que, quando
ela os incentiva, a mão de todas as crianças se levanta com entusiasmo.
Ela construiu um ambiente em que é fácil para as mentes deles se
engajarem, e eles responderam.
Os hábitos, nos diz Charles Duhigg em O poder do hábito, são a
forma de o cérebro economizar energia ou alocar sua energia para
outras coisas mais urgentes e são tão importantes para os professores
quanto para os alunos. Segundo um estudo feito pelo psicólogo social
Wendy Wood e seus colegas, na Duke University, até 45% dos nossos
comportamentos diários são automáticos.11 Isso torna mais fácil fazer
as coisas – pensar é um trabalho árduo, e o cérebro está sempre
tentando poupar energia e foco para quando realmente precisar. Você
não consegue planejar sua aula se estiver pensando em como escovar
seus dentes. Mas também existem hábitos que você desenvolve para
ajudar a pensar mais profundamente sobre o que está fazendo, como
preparar a lição. “Sempre preparo minhas aulas da mesma maneira”,
Sarah Wright contou. Na manhã daquela linda aula em seu vídeo Pedra
Angular, em que ela é tão receptiva aos seus alunos e parece tomar
todas as decisões certas, ela diz: “�z a atividade como se fosse um
aluno, analisando segundo a perspectiva deles e escrevendo as respostas
que eu esperava obter”. Professores como Sarah usam um hábito
familiar e produtivo para se prepararem. Isso ser uma rotina signi�ca
que ela não está pensando em como se preparar, mas em como seria
uma boa resposta de um aluno.
O mesmo vale para os alunos. Queremos otimizar seu uso do
pensamento preenchendo os dias letivos com dois tipos de hábitos: (1)
tendo uma forma de fazer, com rapidez e facilidade, coisas
relativamente sem importância e (2) tendo uma forma de fazer bem as
coisas importantes e de uma maneira que canalize a maior quantidade
de atenção, consciência e re�exão sobre o conteúdo. Em outras
palavras, é óbvio que queremos hábitos consistentes para as coisas
triviais, mas é menos óbvio que queremos hábitos consistentes para as
tarefas mais importantes. É verdade, existem hábitos úteis, como entrar
em uma sala de aula e distribuir os materiais. Mas hábitos acadêmicos –
discutir e escrever sobre um texto – são ainda mais essenciais. O que
fazemos com frequência é mais bené�co se feito também com
consistência. Por isso é tão importante construir o hábito de prestar
muita atenção (Hábitos de atenção), além de ouvir e construir uma
comunidade durante as discussões (Hábitos de discussão). É
importante, também, criar rotinas consistentes para diferentes formas
de participação (Virem e conversem, Solo silencioso), sem mencionar
expectativas como levantar a mão para responder (não há nada pior do
que interromper um aluno que faz um bom comentário para pedir que
o aluno que se manifestou – mais uma vez – desista de falar) e abaixar
quando outros estão falando (veja a técnica 29, Todas as mãos).
Construa sua sala de aula com base em procedimentos que se tornem
hábitos. O escritor especialista em educação Tom Bennett descreve os
hábitos compartilhados que se tornam rotina em uma boa sala de aula
como sendo um “superpoder”. Os hábitos, escreve ele, se tornam parte
dos alunos: “Eles se comportam como precisam se comportar, sem
pensar. E isso signi�ca…tempo e espaço na cabeça para pensarem
sobre a coisas que você quer que eles pensem – a aprendizagem. As
rotinas são o fundamento do bom comportamento. Elas demandam
tempo para ser comunicadas e incorporadas. Mas nada valoriza mais o
seu tempo.” Tom está certo, é claro. O que ele diz sobre comportamento
positivo é ainda mais verdadeiro para comportamentos de pensamento
e os hábitos acadêmicos. Ironicamente isso frequentemente deixa os
alunos
,felizes, porque eles sentem bem-estar – e algumas vezes orgulho
– por saber como fazer as coisas rapidamente e bem. Mas de qualquer
maneira, você estará transferindo o foco da sua memória de trabalho
de como fazer uma tarefa para a importância da pergunta. Assim, uma
sala de aula imbuída de hábitos fortes geralmente é também um lugar
feliz e erudito.
Há um terceiro aspecto mais sutil da construção de hábitos sobre o
qual vale a pena pensar. Uma história da minha visita à Michaela
Community School, em Londres, que atende alunos de algumas das
regiões mais pobres da cidade, ajudará a explicar por que. Na Michaela
– que recentemente foi a escola com escore mais alto na Inglaterra em
pelo menos uma prova de matemática –, os alunos, todos os dias, �cam
em pé na hora do almoço e dão graças. Eu mesmo vi isso em uma visita
em 2016.
Depois de comerem, foi dada aos alunos uma chance de se
levantarem e expressarem gratidão diante de metade da escola. Suas
mãos pipocaram no ar. Todos eles. Todos queriam ser escolhidos para
agradecer.
Os alunos agradeceram aos seus colegas por ajudá-los a estudar.
Agradeceram aos seus professores por esperarem muito e ajudá-los.
Um aluno agradeceu à equipe do refeitório por cozinhar para eles (a
propósito, a comida dos refeitórios no Reino Unido é muito superior à
dos Estados Unidos e muito mais provável de envolver o preparo no
local). As mãos ainda pipocavam no ar. Um aluno agradeceu a sua mãe
por tudo o que ela fez para sustentá-lo. Ele tinha uns 13 anos e
compartilhou seu reconhecimento na frente de talvez uma centena de
outros meninos adolescentes, falando com hesitação, mas
honestamente, sobre o quanto era grato pelo tanto que ela trabalhou
duro e os sacrifícios que fez. Você não vê isso todos os dias. A gratidão
parecia ser in�nita e brotava deles, até que o professor responsável disse
que estava na hora de voltar para a classe.
Eu me peguei pensando nisso durante algum tempo depois da
situação. Ali estavam crianças de algumas das regiões mais pobres da
cidade, crianças que devem ter enfrentado di�culdades em casa e no
seu caminho para a escola. Muitos haviam deixado (ou ainda viviam
em) lugares assolados pela violência e di�culdades. Mas na Michaela,
seus dias eram marcados não pela presença de alguém que os lembrava
que haviam sofrido ou tinham sido negligenciados pela sociedade, mas
pelo pressuposto de que queriam demonstrar sua gratidão ao mundo à
sua volta.
O que isso signi�cava? Bem, antes de tudo, deu origem a uma cultura
de re�exão. Para onde quer que eu olhasse, os alunos faziam coisas uns
para os outros. Em uma classe, um aluno notou outro sem um lápis e
lhe deu um sem que fosse pedido. No corredor, um aluno deixou cair
alguns livros e de repente três ou quatro alunos estavam se agachando
para juntá-los. Quando os alunos saíam de uma sala de aula,
agradeciam ao seu professor.
Talvez agradecer torne comportamentos merecedores de gratidão
mais prováveis de ocorrer. Os alunos sabem que sua bondade é vista e
valorizada, não só por seus professores, mas também por seus pares.
Ela se espalha. Talvez inicialmente seja devido à plausibilidade da
valorização, mas depois de algum tempo simplesmente assume vida
própria. As pessoas são gentis e atenciosas porque, na Michaela, isso é o
que elas fazem – é um hábito.
Mas a gratidão, eu acho, diz tanto sobre quem demonstra quanto
sobre quem recebe. Talvez esse seja o ponto mais importante.
Demostrar gratidão faz você procurar e ver a bondade à sua volta e,
portanto, perceber um mundo cheio de bondade à sua volta. O que o
deixa feliz. E talvez otimista – pensar que o mundo é o tipo de lugar
que o aceitará quando você der o seu melhor. O hábito de demonstrar
gratidão fez com que os alunos vissem mais coisas pelas quais podiam
ser gratos, ter uma visão mais positiva do mundo. Eles o viam como
um lugar onde as pessoas provavelmente sorririam para eles,
ajudariam, apoiariam. Construir um hábito de enxergar assim fez com
que isso aparecesse por todo o lugar. Em A vantagem do cérebro feliz,
Shawn Anchor descreve isso como o Efeito Tetris. Você joga Tetris o
su�ciente e vê suas formas características em todo o lugar. Igualmente,
você vê su�cientes comportamentos de trabalho árduo de seus pares,
su�ciente generosidade e bondade, su�ciente sucesso acadêmico, o que
muda sua visão do mundo. Isso, também, é algo que podemos usar na
sala de aula, reconhecendo que para onde direcionamos a atenção de
nossos alunos pode ser uma profecia autorrealizada. Narrar o trabalho
bom e árduo, e a produtividade em torno deles, ajuda a ver quando está
presente e aprender mais com a sua observação.
PRINCÍPIO 3: AQUILO A QUE OS ALUNOS
PRESTAM ATENÇÃO É O QUE IRÃO APRENDER
�e hidden loves of learners, de Graham Nuthall, é um livro fascinante,
em parte porque descreve momentos pequenos e banais nas vidas de
alunos comuns.12 Conforme mencionei antes, uma das suas principais
premissas é que os alunos aprendem ideias e conteúdo com os quais
entram em contato por três vezes diferentes – especialmente se cada
interação for abrangente e se as interações apresentarem a informação
de formas ligeiramente diferentes. Mas ele observa que isso só se aplica
a alunos que estão prestando atenção. Por exemplo, um grupo de
alunos está aprendendo sobre a Antártica, e a expectativa é que tenham
aprendido que a Antártica é um dos lugares mais secos no planeta.
Alguns aprenderam, outros não. Nuthall observa que um aluno
chamado Teine está cochichando com um colega e passando bilhetes
enquanto está passando um vídeo sobre a natureza desértica da
Antártica. Teine não aprende o conteúdo. Outro aluno, Tui,
normalmente decide que já sabe o conteúdo e não ouve atentamente.
Ele não está passando bilhetes, mas não está prestando atenção e
também não aprende.
Isso revela um fato óbvio, mas importante sobre educação: em
qualquer ambiente de aprendizagem, algumas pessoas se desenvolvem
rapidamente, e algumas se desenvolvem mais lentamente. Um fator
importante nas velocidades que os indivíduos aprendem é sua
capacidade de concentração por um período de tempo signi�cativo. Os
estudantes parcialmente focados ou focados por pouco tempo
adquirem domínio das coisas mais lentamente e com mais di�culdade.
Isso frequentemente é aparente quando trabalhamos com alunos com
problemas de atenção diagnosticados, mas é claro que a habilidade de
manter o foco está desigualmente distribuída entre todos os alunos (e
adultos). Sua força é um impulsionador oculto do progresso.
Com base na técnica 48, Hábitos de atenção, “atenção seletiva” é o
termo para a habilidade de focar na tarefa em questão e ignorar a
distração. É a habilidade de selecionar ao que você presta atenção –
excluir as distrações e travar o sinal – e tem “efeitos reverberantes” no
sucesso na linguagem, alfabetização e matemática, observam as
cientistas cognitivas Courtney Stevens e Daphne Bavelier. Eles
acrescentam que potencialmente há “grandes benefícios em incorporar
atividades de treinamento da atenção ao contexto escolar”.13
Não causa surpresa que a construção de fortes hábitos para focar e
manter a atenção – um aspecto fundamental de como os educadores
ajudam a apoiar alunos com dé�cits de atenção – é útil para todos os
alunos. Ainda assim, a atenção pode variar de momento a momento,
mesmo para a mesma pessoa. Os alunos podem se concentrar
profundamente em um ambiente e �car dispersos em outro, e essa
variabilidade nos faz lembrar que os ambientes de aprendizagem
moldam os hábitos de atenção. Dar atenção à atenção – construir
hábitos de manutenção do foco – é uma das coisas mais importantes
que os professores podem fazer. Se houver um modelo mental de uma
sala de aula produtiva, ele certamente incluirá alunos capazes de se
perderem dentro de uma tarefa e trabalharem nela com constância por
um período signi�cativo. Dessa forma, constrói-se um ambiente onde a
concentração pode ser mantida em segurança e cultiva-se com cuidado
a habilidade de focar nas tarefas.
Fazer isso sempre foi necessário e um desa�o, mas provavelmente
,e então eu seguia em frente. Sou profundamente
grato por isso e também pelas muitas vezes em que ela me estimulou a
mudar meu modo de pensar enquanto re�etíamos e revisávamos as
técnicas.
Emily Badillo também desempenhou um papel fundamental na
escrita deste livro. Se o seu nome é familiar é porque seus vídeos
aparecem ao longo de todo o livro. Ela também foi de valor inestimável
na leitura e na revisão dos rascunhos – assim como no esboço das
seções e no fornecimento do material de apoio, além da triagem e da
recomendação de vídeos.
Enquanto eu estava escrevendo este livro, minha equipe e eu também
estávamos capacitando milhares de professores nos Estados Unidos e
no exterior. Em outras palavras, nós tínhamos uma organização para
administrar. Cada líder colabora com suas habilidades únicas para um
esforço como esse. As minhas habilidades de liderança incluem deixar
e-mails não respondidos por meses, garantir que as reuniões iniciem
desajeitadamente e algumas vezes sem que todos tenham
conhecimento delas. Além disso: me esconder em meu escritório por
dias seguidos focando obsessivamente um parágrafo enquanto os
prazos vão estourando. Assim sendo, meus parceiros na coordenação
da equipe TLAC, a diretora acadêmica Erica Woolway e o codiretor
geral Darryl Williams, merecem uma dose dupla de agradecimentos e
crédito – por suas ideias, insights e o profundo conhecimento do
ensino, bem como por sua habilidade de gentilmente gerenciar as
minhas “habilidades”. Eu não poderia desejar parceiros melhores.
Escrever pode ser um processo lento, mas o processo de escrita deste
livro foi especialmente desa�ador, já que ele foi feito durante o ano de
2020. Amy Fandrei e Pete Gaughan, da John Wiley & Sons, me
apoiaram e foram compreensivos, sem mencionar o fato de que se
mantiveram inabaláveis o tempo todo. Espero que o resultado se
aproxime do valor das dores de cabeça que lhes causei.
Rafe Sagalyn continua a orientar e apoiar meu trabalho como
defensor e agente. Sou grato por ter a orientação de alguém tão sábio e
cujo objetivo é me ajudar a encontrar minha própria visão para minha
escrita e materializá-la.
Este livro também re�ete os insights de uma comunidade mais
abrangente de professores e educadores – nos Estados Unidos, na
Inglaterra e mesmo ao redor do mundo – que compartilham suas ideias
e observações comigo e entre si. Muitas vezes penso que a mídia social
é uma praga na civilização, mas ela também é um meio pelo qual,
graças aos milhares de professores que a veem como uma ferramenta
para compartilhar conhecimento e insights de maneira positiva e
construtiva, fui capaz de aprender muito em pouco tempo. Tentei trazer
citações de alguns dos professores cujos comentários me
impressionaram particularmente. Descrevo alguns casos em que, em
uma situação difícil, �z uma pergunta aos meus colegas no Twitter e me
senti privilegiado por compartilharem sabedoria e conhecimento.
Dessa forma, agradeço a todos aqueles que ensinam e realizam o
trabalho mais importante da sociedade e agradeço duplamente àqueles
que compartilharam seu conhecimento sobre esse trabalho comigo.
Finalmente, enquanto escrevi e reescrevi três edições deste livro,
meus três �lhos cresceram. Não é necessário dizer que os amo
imensamente e tenho orgulho deles. Eles estão maiores agora; eram
muito menores na época, e ainda assim não há sacrifício que não faria
por eles. Mas vocês já sabiam disso, e menciono aqui porque o trabalho
que eu faço sempre esteve conectado com minha própria parentalidade.
Eu acordo à noite e luto com certa ansiedade em relação aos meus
�lhos; e sei que outros pais muitas vezes não pregam o olho por
estarem ainda mais ansiosos. Com frequência penso naqueles pais que
amam tanto e tão profundamente seus �lhos quanto amo os meus, mas
não podem contar com escolas e salas de aula que lhes ofereçam a
máxima oportunidade de aprender e se desenvolver. Este livro é um
esforço para garantir as melhores salas de aula possíveis em todos os
lugares – para meus próprios �lhos e para os �lhos de todos os outros
pais.
Encerro com meu maior agradecimento: à minha esposa, Lisa.
Agradecer-lhe por tornar este livro possível é um pouco injusto quando
há tantas coisas pelas quais ser grato em milhares de outros aspectos.
Portanto, Lisa, obrigado pelo seu brilho que, entre outras coisas, cria a
luz que me permitiu escrever.
SOBRE AS UNCOMMON SCHOOLS
A missão das Uncommon Schools é fundar e administrar escolas
públicas urbanas excepcionais que preencham as lacunas de
desempenho e preparem estudantes de baixa renda para a faculdade.
Durante 20 anos, por meio de ensaios, erros e adaptações, aprendemos
incontáveis lições sobre o que dá certo nas salas de aula. Não causa
surpresa termos descoberto que o sucesso na sala de aula está
intimamente ligado à habilidade de contratar, desenvolver e conservar
ótimos professores e líderes. Isso nos estimulou a investir pesado na
capacitação de educadores e no desenvolvimento de sistemas que
ajudem os líderes a liderar, os professores a ensinar e os alunos a
aprender. Somos apaixonados pela ideia de encontrar novas formas de
possibilitar que os alunos aprendam mais hoje do que ontem e, para
fazer isso, trabalhamos arduamente a �m de assegurar que cada minuto
faça a diferença.
Sabemos que muitos educadores, escolas e sistemas escolares estão
interessados nas mesmas coisas que nós – soluções práticas que
funcionem em salas de aula e escolas, possam ser implementadas em
grande escala e sejam acessíveis a todos. Temos a sorte de ter tido a
oportunidade de observar e aprender com educadores excepcionais –
tanto em nossas escolas como em todos os Estados Unidos – que
ajudam todos os estudantes a ter altos níveis de desempenho. A
observação desses educadores em ação nos permitiu identi�car,
codi�car e �lmar achados concretos e práticos sobre aulas excepcionais.
Ficamos entusiasmados por compartilhar esses achados em livros como
Aula nota 10, Practice perfect, Driven by data, Leverage leadership e
Great habits, great readers.
Desde a publicação da 1ª edição de Aula nota 10, Doug Lemov e a
equipe Teach Like a Champion (TLAC) continuaram a estudar os
educadores que estão gerando resultados notáveis nas Uncommon
Schools, em organizações parceiras e em escolas em todos os Estados
Unidos. Durante incontáveis horas de observação e análise, Doug e sua
equipe re�naram ainda mais e codi�caram as melhores práticas
tangíveis que os professores mais e�cientes têm em comum. Aula nota
10 3.0 desenvolve o trabalho inovador da edição anterior e faz isso com
professores e líderes que assumiram o compromisso de mudar a
trajetória de vida dos alunos.
Agradecemos a Doug e a toda a equipe Teach Like a Champion por
seus incansáveis esforços esclarecedores para apoiar professores em
todo o mundo. Esperamos que nosso empenho em compartilhar o que
aprendemos ajudem você, seus alunos e nossas comunidades.
Brett Peiser
Diretor-executivo das Uncommon Schools
Uncommon Schools é uma rede sem �ns lucrativos composta por 57
charter schools urbanas e públicas que preparam mais de 22 mil
estudantes da educação básica em Nova York, Nova Jersey e
Massachusetts para se formarem na faculdade. Um estudo CREDO
constatou que, para os alunos de baixa renda que frequentam as
Uncommon Schools, as escolas “anulam completamente o efeito
negativo associado a ser um estudante na faixa da pobreza”. As
Uncommon Schools também foram vencedoras do prêmio nacional
Broad Prize for Public Charter Schools por demonstrar “o mais
excepcional desempenho e progresso dos alunos de um modo geral em
toda a nação nos últimos anos, ao mesmo tempo reduzindo as lacunas
no desempenho de alunos de baixa renda e alunos não brancos”. Para
saber mais sobre como as Uncommon Schools estão mudando a
história, visite uncommonschools.org.
http://www.uncommonschools.org/
PREFÁCIO: EQUIDADE, JUSTIÇA E
A CIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
Chamei esta seção de abertura “Prefácio”, mas somente porque
precisava lhe dar algum nome. Eu geralmente pulo os prefácios, e talvez
você também
,nunca como atualmente, quando a capacidade da tecnologia de afetar e
prejudicar a atenção é muito maior do que jamais foi. Os educadores na
década de 1960 argumentavam que a televisão prejudicava a atenção e o
foco dos alunos, mas os jovens na época não andavam por aí com uma
televisão em seu bolso. A televisão não era a mídia para a qual todas as
interações sociais dos jovens se direcionavam. Os jovens não checavam
veladamente – ou abertamente – suas TVs a cada poucos minutos
durante a aula. Eles não estavam habituados à necessidade de checar
suas televisões a cada poucos segundos. Uma pessoa jovem – e um
adulto – nos dias de hoje possui poucas roupas sem um bolso para
carregar o celular. O pressuposto – demonstrado nas roupas – é que
nossos telefones estão e precisam sempre estar ao nosso alcance.
Silenciosa e gradualmente, a dosagem e a acessibilidade da tecnologia
aumentaram ao ponto de terem afetado profundamente não só o nível
de atenção, mas também a capacidade geral de ter atenção para a
maioria das pessoas. Embora a abordagem dos professores sobre
capacidade de atenção sempre tenha sido parte essencial, embora
implícita, de uma sala de aula produtiva, ela está rapidamente se
tornando mais urgente. Não estamos apenas nos esforçando para
ajudar os alunos a aprenderem a se concentrar no que é importante;
estamos lutando com uma tecnologia massiva e disseminada que atua
em nossos alunos – e em nós mesmos – para prejudicar essa capacidade
fundamental a cada minuto do dia. As escolas e professores agora
precisam constantemente planejar suas escolhas e decisões com esse
desa�o em mente, se esperam ter sucesso. É o maior desa�o que surgiu
na educação desde a publicação da versão anterior deste livro.
Em seu livro Trabalho focado, Cal Newport examina o fenômeno da
atenção no ambiente de trabalho, estudando as condições necessárias
para produzir um trabalho do conhecimento de classe mundial. O
sucesso em tal contexto requer que você “aprimore sua habilidade de
dominar coisas difíceis”, ele observa. Um cientista da computação por
treinamento usa a escrita de códigos como um exemplo. Ser capaz de
produzir os códigos técnicos complexos é algo notável em que é preciso
ter um bom desempenho, especialmente hoje em dia, pois o trabalho
do conhecimento nunca foi tão valorizado na sociedade. Um código se
move livremente e na velocidade da luz por todo o globo. Se você o
escrever bem, seu público de usuários potenciais é quase ilimitado. Mas
esse estado das coisas – você em seu ambiente confortável, escrevendo
o código e saboreando um café enquanto o mundo clama por mais e
mais – tem uma desvantagem. Os códigos de todos os outros também
se movem livremente e na velocidade da luz por todo o globo.
Qualquer linha deles escrita em qualquer lugar no mundo
imediatamente está competindo com o seu código. Todo trabalho do
conhecimento é cada vez mais assim, escreve Newport, e para ter
sucesso você não só precisa ser capaz de se concentrar para produzir
alguma coisa peculiarmente inteligente, mas também “ser capaz de
fazer isso rapidamente, repetidamente”, com “isso” sendo a habilidade
de atingir maestria com coisas novas e difíceis. O segredo para ter
domínio sobre material complexo com velocidade e talento, escreve
Newport, é a habilidade de manter estados de atenção continuada e
concentração profunda. Aqueles que são capazes de focar melhor e por
mais tempo se destacam na multidão.
No entanto, Newport também observa que nunca foi tão difícil
construir essas mentalidades focadas, porque nossas vidas diárias (que
incluem nossos ambientes de trabalho e aprendizagem) integram a
distração, a falta de concentração e estados de constante atenção
parcial. Elas prejudicam em vez de construir os tipos de foco mental
que, em última análise, conduzem a tanto sucesso. A concentração,
conclui ele, jamais foi tão recompensada e tão difícil de ser obtida.14
Um termo útil para compreender o porquê é “atenção residual”.15
Quando você troca de uma tarefa para outra, sua mente permanece
parcialmente focada na tarefa prévia. Você faz uma pausa durante um
projeto para checar seu e-mail e quando retorna ao projeto, sua mente
ainda está parcialmente em seu e-mail, mesmo que não se dê conta
disso. Você agora tem menos probabilidade de realizar seu melhor
trabalho. Isso é especialmente prejudicial, aponta Newport, para a
aprendizagem de coisas novas e difíceis, mas pesquisadores
descobriram que as pessoas, na maioria dos ambientes de trabalho,
operam em estados constantes de distração em baixo nível. Acontece
também com os estudantes. O estudante do ensino médio
(possivelmente mais maduro que os alunos do ensino fundamental),
mesmo sendo exemplo de sucesso e interesse acadêmico, ainda alterna
as janelas do seu computador a cada 19 segundos, por exemplo.
Mas, além do resíduo da atenção, há uma questão mais ampla: nossos
cérebros são neuroplásticos, o que signi�ca que eles se reconectam
dependendo de como os usamos. A forma como nós, e especialmente
os jovens, os usamos cada vez mais envolve a alternância constante de
tarefas. A média para um adulto é a cada dois minutos e meio e, para
pessoas mais jovens, certamente é mais. O resultado é não só que
frequentemente estamos mais distraídos do que idealmente seria, mas
também que somos cada vez menos capazes de manter o foco. Nossos
cérebros cada vez mais esperam que as distrações “pipoquem” e �cam
agitados e distraídos pelo adiamento dessa grati�cação. Como a�rma a
especialista em produtividade Maura �omas em um artigo recente,16
“Nossa produtividade sofre não só porque somos distraídos por
interrupções externas, mas também porque nossos cérebros...por si só
se tornam uma fonte de distração”.
“Dar uma passada de olhos é o novo normal”, a�rma Maryanne Wolf
em O cérebro no mundo digital, um dos livros mais profundos e
importantes sobre aprendizagem nos últimos anos. Ela descreve o
quanto a exposição constante à tecnologia nos distrai no momento e
reprograma nossos cérebros para serem menos atentos, menos capazes
de atenção e menos capazes de manter estados re�exivos necessários,
em particular, para uma leitura verdadeira e signi�cativa. Talvez você
note isto em si: nos últimos anos, você começou a passar seus olhos
rapidamente pela página enquanto lê, avançando até o �m dela à
procura de... alguma coisa. Esse é seu cérebro, programado para
distração por um ambiente digital em que sua atenção sustentada
média a qualquer tarefa é de menos de dois minutos, procurando por
alguma coisa nova e instantânea. Em outras palavras, é você, não só
falhando em prestar atenção, mas também perdendo a capacidade de
prestar atenção. Quem já viveu uma vida em que a tecnologia era mais
limitada consegue notar isso e a falta de foco que costumava ter. Seus
alunos não viveram e não vivem uma vida assim. A maioria deles não
conheceu essa realidade.
Esse fato suscita várias questões para os professores. Os ambientes
que eles desenvolvem em suas salas de aula integram a atenção
sustentada ou a atenção fragmentada e inconstante? O que eles podem
fazer para ajudar seus alunos se observam, individualmente ou como
um todo, que eles requerem habilidades mais fortes de atenção?
Recentemente me encontrei com um diretor que conheço e lhe
perguntei sobre seus alunos e como eles estão mudando. “A capacidade
de atenção é cada vez menor”, observou ele. “Especialmente porque a
maioria dos alunos não lê mais fora da escola, a menos que tenham pais
que leiam. Mas estamos fazendo o melhor que podemos para adaptar
nossa maneira de ensinar”. Foi uma conversa curta, e nunca descobri se
o que ele pretendia dizer era: Estamos adaptando a maneira de ensinar à
atenção reduzida dos alunos, dando a eles tarefas que requerem menos
foco sustentado, ou Estamos adaptando nossa maneira de ensinar para
tentar integrar a concentração e melhorar a capacidade de atenção dos
alunos engajando-os em períodos continuados de trabalho em uma única
tarefa. Em outras palavras, eles estavam aderindo à mudança ou
contra-atacando? Essa questão
,é crítica. A última, contra-atacar, pode –
e talvez deva – ser alcançada. Se você assistir aos vídeos referenciados
neste livro, acredito que verá muita alegria, energia e aprendizagem
num ritmo rápido, mas também com certeza verá, em quase todas as
salas de aula com alto rendimento, alunos que conseguem manter o
foco em uma única tarefa, muitas vezes em silêncio, com determinação
e de modo independente. Isso é possível, em parte, porque os
professores priorizaram e desenvolveram a capacidade de focar desses
alunos, com o tempo, até que se tornasse um hábito.
Você também verá, nos vídeos, ambientes onde perturbações
constantes ao trabalho, ao pensamento e à re�exão são raras, porque os
professores sabem que os alunos merecem isso.
Mesmo que o nível da capacidade de focar seja diferente em cada
aluno, podemos desenvolvê-la tanto quanto possível. Alcançar isso
sempre foi um dos resultados mais importantes da escolarização –
mesmo que esse fato nem sempre seja identi�cado ou reconhecido. A
escola é um dos últimos lugares que podem tentar isolar os jovens da
distração constante, da superestimulação digital e da alternância de
tarefas. Com certeza existe um lugar para os dispositivos digitais na
aprendizagem, mas existe igualmente uma necessidade de �car por um
tempo sem eles. Proporcionar doses regulares de tempo livre de telas e
distração, com re�exão meditativa – lápis, papel, livro – é o maior
presente que podemos dar aos jovens.
Em 1890 (quando high-tech signi�cava inovações modernas, como a
máquina tabuladora), o psicólogo William James observou, em �e
principles of psychology, algo mais sobre a atenção: aquilo ao que
prestamos atenção molda nossa cognição de forma mais ampla. “Minha
experiência é que eu concordo em prestar atenção”, ele explica,
antecipando um vasto leque de pesquisas no século XXI que sugerem
quão profundamente aquilo ao que prestamos atenção nos molda. A
atenção, em outras palavras, não é apenas um tipo de “músculo que nos
permite continuar olhando”, como argumentou minha colega Hannah
Solomon em uma conversa sobre esse tema, mas também “a lente
através da qual nós estudantes olhamos”, o que também precisa ser
considerado.
Então, como dar atenção à atenção na sala de aula? A seguir estão
algumas re�exões iniciais. Você certamente encontrará mais.
Você deve construir fortes hábitos de escrita com foco sustentado por
meio da técnica Solo silencioso e ampliar o tempo que os alunos podem
se engajar na escrita. Deve, também, usar a Leitura em FASE para
treinar os alunos a focar no que estão lendo sem interrupção, por um
tempo, e ajudá-los a experimentar o prazer de ter foco. É o prazer de
“�uir”, como algumas pessoas chamam, o momento em que nos
perdemos em uma tarefa, e o resto do mundo – incluindo os telefones e
as telas – desaparece. Ajude os alunos a aprenderem a se concentrar
durante o ensino e as discussões por meio dos Hábitos de atenção e dos
Hábitos de discussão. Coloque em ação a técnica Virem e conversem e
pense sobre como trazer o conceito de “�uxo” para sua própria maneira
de ensinar, por meio das ferramentas apresentadas no Capítulo 6,
“Ritmo”. Outra questão importante é o ambiente cultural e
comportamental em sua sala de aula. Você consegue manter os
momentos para pensar livres de interrupção? Se os alunos gritam as
respostas tão logo você pergunta, não pode impor o tempo de espera
como uma ferramenta chave, que permita que os alunos re�itam e
foquem nas perguntas. Se esse for o caso, inicie com Meios de
participação.
Como o parágrafo anterior me faz lembrar, este livro pode no �m das
contas tratar-se, antes de mais nada, sobre construir e manter a atenção.
Finalmente, existe a tecnologia a considerar. Muitos professores
presumem que tarefas feitas usando a tecnologia ou uma tela têm mais
valor. Acham que é inerentemente bom conectar a sala de aula. A
tecnologia nos dá imenso poder, mas também vem acompanhada de
profundas desvantagens. Não usar a tecnologia (evitá-la) é tão
importante quanto usá-la. No entanto, esses professores e nós
concordamos que a escola não é lugar para distrações constantes.
Escrever com lápis e papel, fazer anotações à mão, ler livros impressos:
há inúmeras pesquisas demonstrando que essas atividades são muito
mais bené�cas do que a mesma tarefa realizada em uma tela.
PRINCÍPIO 4: MOTIVAÇÃO É SOCIAL
As pesquisas sobre compreensão da aprendizagem não estão limitadas
à psicologia cognitiva. Alguns dos insights mais importantes provêm de
uma fonte surpreendente: a biologia evolucionária, ou a história de
como acabamos sendo como somos. A palavra mais importante nessa
história é “nós”. Embora os humanos tenham desenvolvido
características individuais que eram necessárias para nossa
sobrevivência – cérebros grandes, oposição dos polegares, a habilidade
de �car em pé, etc. –, nosso sucesso evolucionário foi sobretudo um
esforço de grupo, o resultado de um profundo instinto na direção do
comportamento grupal coordenado.
Para prevalecer sobre outros grupos, os membros dos grupos que
sobreviviam tinham que provar ser fortes e capazes como indivíduos,
mas também, pelo menos, igualmente capazes em sua habilidade para
formar grupos leais e coesos. “O resultado da competição entre os
grupos é determinado em grande parte pelos detalhes do
comportamento social dentro de cada grupo”, explica o biólogo Edward
O. Wilson em A conquista social da Terra. Era importante ser forte
individualmente – havia competição dentro dos grupos também –, mas
um indivíduo forte não acolhido por um grupo estava condenado. O
que principalmente determinou quais humanos progrediriam e
sobreviveriam foram traços como “a coesão do grupo e a qualidade da
comunicação e a divisão de trabalho entre seus membros. Tais traços
são hereditários”, conclui Wilson e, portanto, quem somos é uma
“consequência da seleção individual e da seleção no grupo”.
Graças a essa seleção em dois níveis – o que os biólogos
evolucionários chamam de processos paralelos de competição grupal e
individual –, nossas características são complexas, fascinantes e
algumas vezes contraditórias, não menos porque usualmente não temos
consciência do que procuramos. No �nal das contas, a questão é que
evoluímos para fazer o que nos ajudou a sobreviver sem que tivéssemos
consciência disso.
O termo “pró-social” descreve animais que se engajam em
comportamento individual que bene�cia o grupo maior. Poucos
animais farão isso. O termo “eussocial” vai um passo além e descreve
espécies que se organizam e se sacri�cam em uma medida ainda maior,
o que é muito mais raro. Wilson sugere que estamos entre apenas dois
mamíferos eussociais.17 Leões e lobos se organizam para caçar, mas não
sacri�cam suas vidas pelo bem do grupo. Eles não criam os �lhotes dos
outros nem cuidam dos mais velhos. Somente os humanos fazem isso,
embora os humanos também competem com os membros do grupo
por comida, parceiros ou status.
Desde tempos remotos, uma consciência intensa do que estava
acontecendo dentro do grupo era necessária para sobreviver – para
assegurar as conexões e �car atento a potencial traição, por exemplo.
“As estratégias do jogo foram escritas como uma mistura complicada de
altruísmo cuidadosamente calibrado, cooperação, competição,
dominação, reciprocidade, abandono e enganação”, conta Wilson. “O
cérebro humano se tornou, ao mesmo tempo, altamente inteligente e
intensamente social…assim nasceu a condição humana, egoísta em
determinado momento, altruísta em outro, com os dois impulsos, com
frequência, em con�ito”.
O cérebro é um “órgão social”, como Zaretta Hammond a�rma em
Culturally responsive teaching and the brain, e o grau em que isso é
verdadeiro é impressionante. Um exemplo é a �siologia dos nossos
olhos. Somos o único primata com esclera – o que chamamos de o
branco dos olhos. Todos os outros primatas têm olhos escuros
circundando as pupilas. Por quê? A resposta, acreditam muitos
biólogos evolucionários, é que rastrear o que os outros membros do
grupo estão olhando e sobre o que estão pensando é muito importante.
,Precisamos saber o que o grupo pensa, onde nos posicionamos em suas
hierarquias e alianças e como cada ação foi recebida. As informações
críticas para nossa sobrevivência são reveladas em olhares furtivos e
expressões fugazes de admiração, desdém e/ou respeito. Nossos olhos
evoluíram para melhor revelar os detalhes cruciais de aprovação,
aceitação e desprezo.
Nossa profunda sociabilidade também aparece nas formas como
tomamos decisões. “Normas sociais” são o que chamamos de regras
sociais não escritas de um grupo. “A natureza altamente social do
comportamento humano signi�ca que as ações dos colegas e a cultura
mais ampla da escola terão um efeito persistente em como as coisas se
desenvolvem na sala de aula. É por isso que a construção da motivação
é mais bem feita coletivamente”, a�rma Peps Mccrea. “As normas são
tão poderosas que superam as políticas ou regras mais formais da
escola... No entanto, sua natureza, em grande parte invisível e
inconsciente, torna-as fáceis de subestimar, se não ignorar totalmente.”
É “inevitável” que existam normas. O principal é reconhecer isso e
moldá-las com uma intenção clara e de maneira positiva.18
Para modi�car a motivação, precisamos mudar o que nossos alunos
veem e o que eles percebem como valores normais e aceitáveis.
Para ser claro, alguma norma ou outra emergirá em cada sala de aula.
“Não existe algo como um design neutro”, a�rmam Richard �aler e
Cass Sunstein em Nudge o empurrão para a escolha certa. O ambiente
moldará o comportamento dos indivíduos dentro dele. Nós escolhemos
as normas, ou elas nos escolhem. Se quisermos normas mais
produtivas, temos que encontrar formas de fazer com que elas pareçam
universais e mais visíveis.
Como isso afeta as decisões na sala de aula? Lembre-se de que as salas
de aula são, antes de mais nada, culturas que moldam as ações e crenças
das pessoas que estão lá. Temos que estabelecer normas pós-sociais
positivas que valorizem o trabalho dos alunos e deem coragem para
que eles façam o que os ajudará a ter sucesso e prosperar.
É “natural” uma cultura em que os alunos olham para o professor,
reforçando que se importam com o que ele está dizendo? É claro que
não. Não há uma situação natural. Uma boa sala de aula conduz os
alunos para a identidade acadêmica através de Hábitos de atenção e
Hábitos de discussão (sem mencionar ótimas lições, currículo rigoroso e
uma insistência em valorizar o tempo dos alunos). Esses atributos
asseguram que uma ótima maneira de fazer com que qualquer aluno
queira – ou pelo menos esteja disposto a – ler ou escrever é que ele veja
seus pares lendo e escrevendo com entusiasmo. Por isso que Marcar as
etapas é tão poderoso para fazer com que os alunos se associem às
atividades. E, é claro, porque os procedimentos e rotinas são tão
poderosos – eles começam pela de�nição das normas. “O maior erro
que os professores cometem”, sugere Tom Bennett em Running the
room, “é esperar que o comportamento ocorra para reagir a ele”. Os
melhores professores evitam comportamento contraproducente em
primeiro lugar.
Uma observação �nal. A força da in�uência de uma norma “depende
do quanto nos sentimos parte e nos identi�camos com aqueles que
exibem as normas”, escreve Mccrea. Somos motivados pelo
pertencimento. O último princípio que discutirei neste capítulo são as
relações, que obviamente são profundamente importantes. Mas vale a
pena lembrar, também, que o sentimento de pertencimento de um
aluno a uma cultura é diferente da sua relação com o professor. Ao se
juntarem com os pares em ações e se sentirem reconhecidos, apoiados e
respeitados, os alunos farão muitas coisas que alguns educadores
presumem que só farão se um professor os inspirar. Mais uma vez, as
relações importam, mas as culturas entre os pares, construídas por
meio das normas que os alunos percebem são igualmente importantes.
PRINCÍPIO 5: ENSINAR BEM É CONSTRUIR
RELAÇÕES
Uma crença comum entre os professores é que eles precisam construir
relações com os alunos antes que possam fazer progresso ao ensiná-los.
“Os alunos não vão se importar com o que você diz”, segundo um
aforismo frequentemente repetido, “até que saibam que você se
importa”. O pressuposto é que os alunos não conseguem aprender com
alguém que não se importa com eles, e o resultado é que,
frequentemente, professores que procuram se conectar com os alunos
demonstram sua preocupação para que consigam ensiná-los. Essa
a�rmação é informada por boas intenções, mas ainda assim é
equivocada de muitas formas. Os alunos devem saber e sentir que nos
importamos com eles? Certamente. As relações importam? Sim, é claro.
Na maioria das vezes, importa muito. No entanto, a a�rmação de que
nenhum ensino pode acontecer até que exista uma relação é imprecisa,1
9 porque ensinar bem é a forma mais efetiva de mostrar a um aluno que
você se importa e de estabelecer uma relação com ele em primeiro
lugar.
Reconhecer que as relações são importantes é a parte fácil, em outras
palavras. As questões difíceis são: que tipos de relações – e ações que
constroem as relações – são mais úteis? O aforismo sobre os alunos
saberem que você se importa é uma justi�cativa para toda e qualquer
ação que construa relações? Alguns alunos poderiam �car muito felizes
se você comparecesse ao recital de dança deles ou se os parasse no
corredor para bater um papo sobre sua vida familiar. Outros podem
achar isso estranho e até mesmo invasivo. Podemos entender que as
relações são importantes e, ainda assim, darmos passos
contraproducentes para desenvolvê-las.
Portanto, embora ainda a�rmando a profunda importância das
relações, vamos destacar a seguir estão algumas informações
importantes sobre como alcançar essas relações de forma mais
produtiva.
Em primeiro lugar, nós somos professores dos nossos alunos.
Buscamos um tipo especí�co de relação que seja especí�ca para o nosso
papel. Essas relações “estão baseadas na con�ança”, escreveu
recentemente o fundador de ResearchEd, Tom Bennett. “A con�ança é
melhor construída em ambientes seguros, calmos e organizados onde é
possível con�ar nos adultos. Con�ança está baseada na previsibilidade
da ação e do caráter”, observou Bennett.20 Ser con�ável, humano e
consistente é o centro das relações. Mas os alunos também precisam
sentir que o ambiente em que aprendem comunica essas coisas.
Quando uma aluna fala sobre sua relação com a Srta. Smith, em alguns
aspectos ela está se referindo à sala de aula da professora. A aluna não
vai con�ar na professora se esta permitir que a aluna seja sutilmente
ridicularizada pelos pares quando falar. Também não vai con�ar se a
Srta. Smith não conseguir ou não tiver interesse em tornar a aula
valiosa e produtiva. A con�ança para um professor é uma a�rmação da
sua competência e diligência na construção do ambiente certo.
Em segundo lugar, o sucesso do ensino é tanto a causa quanto o
resultado das relações efetivas. No mínimo, o processo é interativo.
Você demonstra seu respeito e crença nos alunos fazendo o melhor uso
do tempo deles. Demonstra que merece o respeito dele, criando um
ambiente de aprendizagem produtivo. Enquanto faz isso, você
demonstra afeto, encorajamento e compreensão. Vocês agora iniciaram
uma relação. Ela pode formar os alicerces para uma maior conexão
com alguns alunos; com outros, ela será su�ciente. Bater um papo
depois da aula sobre seus programas favoritos é ótimo, mas não
necessário, e pode distrai-lo do trabalho em questão, ensinar bem, que
é a ferramenta principal com que os professores constroem relações
com os alunos. “Uma relação é uma ferramenta que ajuda os alunos a
entenderem como se conectar com o conteúdo”, explica Adeyemi
Stembridge em Culturally responsive education in the classroom. Em
outras palavras, deve focar neles e no que os ajudará a aprender e
progredir. É importante lembrar disso, porque as necessidades dos
professores também são satisfeitas pelas relações. Podemos, algumas
vezes, cair na tentação de querer que os alunos precisem de nós ou,
pior, queremos presumir que nossos alunos carecem de alguma
,coisa
que só nós podemos oferecer.
Um leitor cético certa vez observou sobre as edições anteriores deste
livro: “Você não tem um capítulo sobre relações. Você não deve achar
que as relações são importantes”. Mas para mim o livro inteiro é sobre a
construção de relações. Um professor que observa seus alunos
atentamente, que nota e responde efetivamente quando eles têm
di�culdades e ajuda-os a ver que eles podem ter sucesso, está
construindo relações que outros professores não constroem, como um
professor que �ca frustrado e diz aos alunos para “descobrirem a
resposta”, ou mesmo aquele que educadamente cumprimenta-os todos
os dias, mas desperdiça tempo em atividades que eles sabem que não
resultam em aprendizagem. Um professor que estimula os alunos a
trabalharem duro, a escreverem uma redação da qual verdadeiramente
tenham orgulho, um professor que não tem que gritar com os alunos
para que o trabalho seja feito, um professor que, ao ensinar bem,
constrói o interesse de um aluno e depois um amor pelo assunto
constrói relações.
Recentemente me deparei com uma lista para professores em um
website popular: “Dez Maneiras de Construir Relações com os Alunos”.
Ela incluía alguns bons conselhos (“Peça desculpas quando cometer um
erro”), mas também algumas orientações mais questionáveis: “Faça
coisas malucas”, “Fale com eles sobre assuntos não relacionados à
escola” e “Compartilhe histórias inspiradoras da sua vida”. Vale a pena
ponderar se essas ações não podem ser distrações de coisas mais
importantes. Falar com os alunos sobre assuntos não relacionados é
muito bom – alguns podem gostar, – mas nem de longe é tão
importante quanto conversar com eles sobre assuntos relacionados à
escola. Compartilhar histórias inspiradoras pode ser bom, mas proceda
com cautela. Meus próprios �lhos já ouviram as minhas inúmeras
vezes, e é possível que eles não as achem tão inspiradoras quanto eu.
Um professor que tive na escola podia �car mais de 20 minutos
desviando do assunto da aula se você desse atenção às suas histórias.
Não tenho certeza de quantas relações foram construídas, mas seu
interesse em contar as histórias certamente resultava no adiamento da
prova em pelo menos um dia. Quanto a fazer “coisas malucas”, existe o
risco de fazer tanto mal quanto bem. Você é um professor, não um
humorista. Faz mais sentido empregar seu tempo se preparando para
ensinar realmente bem, com cordialidade, humanidade, atenção e
encorajamento. A questão real é se você consegue inspirar os jovens
despertando sua curiosidade e abrindo para eles as portas do
conhecimento.
A relação que queremos é como um triângulo: o professor se
conectando com o aluno sobre o conteúdo e com o objetivo de inspirá-
lo para construir uma relação com as coisas que aprende. A seguir
ilustramos como Adeyemi Stembridge expressa isso.
“Não tenho certeza se podemos criar uma boa relação com os alunos,
a menos que os ensinemos bem disse meu colega Darryl Williams
depois de ter assistido um vídeo em nosso escritório certo dia. (Vou
mostrar esse vídeo daqui a pouco). Fui para casa naquela noite e pensei
muito sobre aquela a�rmação, porque inicialmente ela parecia ser falsa.
É claro que podemos ter uma boa relação com os alunos se não ensinar
bem. A a�rmação de Darryl era o oposto da citação frequentemente
repetida. Ele estava sugerindo que os alunos não saberão que nos
importamos até que saibam podemos ensiná-los bem.
No entanto, com o tempo passei a ver a observação de Darryl
operando em muitos dos vídeos neste livro. Naquele que motivou seu
comentário, Denarius Frazier: Resto, Denarius circula entre os alunos
em sua classe dando-lhes feedback sobre matemática. “Está arrasando”,
ele diz a um aluno para rea�rmar seu progresso. “Muito melhor”, diz
para outro. Analise essa minúscula frase por um momento. Muito
melhor do que o quê? Muito melhor do que a última vez em que você
tentou resolver problemas como esse. Essa frase também signi�ca: Eu
vejo o quanto você está se esforçando. Seu progresso é importante para
mim. E, no caso de um professor tão bom quanto Denarius: vou ajudá-
lo a ter sucesso.
Denarius fala com todos enquanto circula pela sala e fala com eles
sobre seu trabalho acadêmico. Repetidamente, a mensagem é: Eu
conheço você, vou ajudá-lo. Pode haver vídeos mais rápidos sobre
conexão com os alunos, mas provavelmente não há vídeos mais
substanciais sobre o desenvolvimento de relações.21
Os alunos de Denarius o amam e o respeitam devido ao modo que os
ensina. É assim que ele desenvolve relações essenciais. Por
conveniência, peguei esse vídeo de Denarius do Capítulo 3,
“Veri�cação da compreensão”. Conhecer e se preocupar profundamente
com o progresso dos seus alunos é desenvolver relações. Cada aspecto
da tarefa essencial de ensinar que um professor executa com habilidade,
humanidade e cordialidade forma o fundamento das relações.
O argumento aqui se trata de onde focamos nossa energia. É fácil
presumir que, se as relações forem bené�cas, quanto mais extenso o
relacionamento, melhor. Mas não é assim tão simples. Alguns de nós
podemos desempenhar o papel de mentor de alguns aluno. Se o
�zermos, o benefício é metade nosso, mas os alunos não precisam nos
ver como con�dentes. Alguns alunos podem apreciar que você mostre
que se interessa conversando com eles no corredor ou perguntando
sobre sua vida pessoal e suas di�culdades. Porém muitos deles não têm
interesse ou necessidade disso. Estão esperando que você os ensine com
atenção e humanidade. Acreditar que construímos uma relação com os
alunos porque temos um papel muito signi�cante em suas vidas (mais
do que ser o professor deles) pode nos distrair do fato de que a relação
na sala de aula se constrói quando somos competentes.
No primeiro dia, você deve sorrir, dar as boas-vindas aos alunos e
aproveitar bem o tempo deles. Enquanto faz isso, esforce-se para
começar a aprender seus nomes. Você pode, também, procurar
identi�car seus nomes antes de eles chegarem e, assim, surpreendê-los
sabendo quem são e como se pronunciam seus nomes. Pequenos
comentários que demonstrem humanidade são poderosos: “Você é
irmã de Damani, certo? Como ele está? Dê um alô por mim”. Mas é
importante, também, preparar-se para a aula, demonstrar a capacidade
de ajudar os alunos a terem sucesso, mesmo que tenham tido
di�culdades no passado, e fazer isso com habilidade su�ciente para que
você possa sorrir e encorajá-los. Os alunos estarão na expectativa de
ver que você leva o aprendizado a sério, que consegue fazer seu
trabalho. É difícil sorrir e encorajar os alunos quando alguns estão
ignorando suas orientações ou distraindo você e os colegas, por
exemplo. Não ser capaz de coordenar a sala é uma das formas mais
rápidas de perder o respeito dos alunos. Eles ainda podem ser
amistosos com você, sabendo que suas aulas são simples ou que você é
facilmente manipulado por colegas travessos, mas essas relações não
são aquelas que levam à aprendizagem e ao crescimento dos jovens.
Enquanto ensina, esforce-se para mostrar que gosta dos seus alunos
da forma mais simples e sutil possível. Sorria, por exemplo. Como
postula a professora e escritora Jo Facer: “Tudo �ca mais fácil quando
os alunos acham que você gosta deles”. Entretanto, o fato de os alunos
saberem que você se importa com eles não signi�ca que vocês são
amigos. Parte do seu cuidado com os jovens quase seguramente
incluirá estabelecer limites ou estimulá-los a trabalhar com mais a�nco.
Você deve ser o mais cordial possível e também usar rigidez quando
necessário. Mais uma vez, se você puder construir um ambiente em que
os alunos estejam focados na tarefa, trabalhem com a�nco e tratem
você e a todos os seus pares com respeito e apreciação, será muito mais
fácil mostrar con�ança, afeto e incentivo.
Vou embasar essas a�rmações com alguns termos. Existem relações
suplementares, conexões com determinados alunos sobre suas vidas
fora da sala de aula, e relações nucleares, relações positivas, mutuamente
respeitosas na sala de aula, que ajudam a assegurar o aprendizado e o
crescimento
,dos alunos com cordialidade e humanidade. Não estou
desvalorizando as relações suplementares. Muitos professores
desempenharam papéis importantes nas vidas dos alunos, o que pode
ser valioso para estes e grati�cante para aqueles. Espero que você
vivencie um pouco disso. É, porém, uma armadilha presumir que
relações suplementares são uma exigência de sucesso, quando são as
relações nucleares que fazem o trabalho. Ocupar-se demais em buscar
as suplementares pode desviar você das nucleares.
Como é uma relação nuclear? Nela, os alunos se sentem, como diz
meu colega Dan Cotton, seguros, bem-sucedidos e conhecidos. O
professor os vê como indivíduos, tem a competência para assegurar que
eles irão aprender e proporciona um ambiente onde não precisam se
preocupar.
Fazer alguém se sentir seguro é fácil de negligenciar quando
pensamos em relações. Os alunos precisam saber que não serão
intimidados ou ridicularizados e que serão respeitados e valorizados.
Precisam ser capazes de correr riscos intelectuais sem temerem punição
ou julgamento, da parte do professor e dos seus pares. Sua relação com
eles é fortemente in�uenciada pelo sentimento de pertencimento
dentro da classe. Se você sorri depois que um aluno responde e
demonstra que aprecia seu pensamento, mas permite que dentro do
espaço sob a sua autoridade ocorram risos velados ou que outros
alunos revirem os olhos diante da resposta dele, sua relação
provavelmente não prosperará. Caso prospere, será uma vitória obtida
a alto preço. As relações de sucesso requerem que os professores façam
uso da autoridade neles investida para construir uma cultura que
garanta que os alunos se sintam seguros e apoiados pela comunidade.
Não são apenas suas ações que você precisa moldar para criar as
condições sob as quais os alunos crescem e progridem. Os alunos veem
isso claramente. Você pode dizer a Melissa, depois da aula, que adorou
seu comentário. Se ela souber que, durante a aula, será objeto de
estranha curiosidade cada vez que �zer um comentário similar, será
menos provável que ela sinta em você a con�ança que as relações
requerem.
O fato de os alunos se sentirem bem-sucedidos como tentei explicar ao
longo deste capítulo, deriva da sua e�cácia geral nas tarefas essenciais
de ensino. Quando você executa bem essas tarefas, os alunos se veem
progredindo e sendo bem-sucedidos, o que faz com que se sintam,
também, con�antes e valorizados. Um corolário: ajudar os alunos a se
sentirem bem-sucedidos e a verem evidências convincentes do próprio
progresso também ajuda a construir relações.
E quanto à ideia de os alunos se sentirem conhecidos? Digamos que
você tem uma aluna. Vamos chamá-la de Elicia. Ela gostaria de saber
que você a vê como única, diferente de Candace à sua esquerda e
Edward à sua direita. Comece sabendo seu nome e como ela gosta que
o pronunciem (“Elícia” em vez de “Elicía”). Chame-a pelo nome sempre
que puder. Cada vez que usa o nome de um aluno, ele lembra que você
o conhece. Talvez você tenha uma ou duas perguntas simples para fazer
quando Elicia e outros alunos forem os primeiros a chegar na sala:
“Bom dia, Elicia. Tudo bem com o dever de casa para você?” Talvez
ocasionalmente você possa até fazer uma chamada De surpresa com ela
para mostrar que está pensando na experiência dela em aula: “Elicia,
você se sente con�ante para resolver esses problemas?” ou “Elicia, você
�cou convencida com o argumento de Kennedy?”.
Ao fazer essas coisas, você começou a estabelecer que Elicia é um
indivíduo para você e que se importa com a opinião dela. Certa vez tive
um colega, professor de matemática, que adorava conhecer pequenos
detalhes sobre cada aluno e os envolvia em divertidos enunciados de
problemas. Se Elicia fosse fã de Beyoncé, ele escreveria: “Elicia quer
construir uma plataforma para a estátua de Beyoncé que ela criou na
aula de artes. Suas dimensões são...”. Se essa estratégia combinar com
você, ótimo, mas você não precisa fazer exatamente isso. É mais
importante conhecer Elicia como aluna, andar até sua mesa e dizer:
“Não se apresse, Elicia. Seu último trabalho foi bom porque você
demorou o tempo que precisava”. Sua fala mostra que você se lembra do
último trabalho dela. Que você sabe que ela é capaz. Que você sabe e se
importa com o progresso dela. Em outras palavras, você a vê como um
indivíduo. Isso, acima de tudo, é o que os jovens desejam e merecem.
Uma observação �nal: professores que trabalham com alunos que
crescem na pobreza devem ser especialmente cuidadosos, evitando
pressupor que crescer com recursos �nanceiros limitados implica
crescer desfavorecido em outros aspectos – sem acesso à internet de
qualidade ou pais que possam apoiá-los, por exemplo. Eu gostaria de
registrar a informação de que, dos 100 melhores pais e guardiães que
conheci na minha vida, 99 deles eram pais que estavam criando seus
�lhos com meios �nanceiros limitados, algumas vezes em reais
di�culdades �nanceiras e que, no entanto, deram aos seus �lhos amor,
apoio, orientação e bom senso exemplar. Em outras palavras, muitos
alunos têm pessoas em quem podem con�ar e com quem partilhar suas
vidas. Por favor, não presuma que eles precisam mais de um defensor
do que precisam de alguém para lhes ensinar química. O que os jovens
precisam mais certamente é uma oportunidade de aprender e se
desenvolver sob a orientação de alguém que se preocupe com seu
progresso. Essa condição é inegociável. Alguns alunos não têm vínculos
em suas vidas e anseiam por um adulto que possa ser uma pessoa de
con�ança ou um mentor? Com certeza alguns se encontram nessa
situação. Esses alunos provêm de todas as camadas socioeconômicas.
Algumas vezes podemos fornecer apoio suplementar signi�cativo para
um aluno cuja rede de relações não fornece tudo o que ele precisa, mas
também é fácil nos convencermos de que uma relação que faz nos
sentirmos importantes e necessários é aquela que a maioria dos alunos
precisa.
Então, como conseguir que as relações certas ocorram na sala de
aula? Apresento aqui algumas considerações iniciais. Você certamente
encontrará outras.
O primeiro passo para a construção de uma relação, como já
mencionei, pode ser o oposto do que você espera: fazer da sua sala de
aula um ambiente organizado onde os procedimentos para realizar as
atividades cotidianas sejam familiares e aconteçam como uma rotina.
Quando os alunos também têm um modelo mental claro dos
comportamentos requeridos em uma sala de aula produtiva, será muito
mais fácil para eles fazerem essas coisas com no máximo pequenos
lembretes. Além disso, comecei falando sobre como os alunos precisam
se sentir seguros, isto é, em um ambiente de aprendizagem onde possam
se empenhar e nunca sejam ridicularizados, onde ninguém rirá deles.
Os jovens devem ser capazes de contar com os adultos para fornecerem
esse contexto no qual possam aprender, e fornecer isso é uma forma de
cuidado. É melhor que você proporcione uma sala de aula organizada
onde os alunos encorajam uns aos outros do que não fazer isso e gastar
seu tempo como a voz solitária encorajando os alunos. Além do mais,
uma sala de aula organizada permitirá que você ouça e preste atenção
ao que os alunos dizem e se concentre em entender cada um deles
como um aprendiz. A sala de aula de Denarius é um ambiente
relacional, antes de mais nada, pois é organizado.
O planejamento e preparação da aula também são fundamentais para
as relações – e mais uma vez, talvez inesperadamente seja assim. Uma
aula bem planejada e bem executada diz aos alunos que eles são
importantes e que sua aprendizagem está em primeiro plano. E uma
aula envolvente e dinâmica cativa os alunos. Assista a alguns momentos
da aula de química de Sadie McCleary na Guilford East HS, em
Guilford, Carolina do Norte. Os alunos estão felizes, porque estão
ativamente engajados em trabalho signi�cativo o tempo todo; porque
quando entram na sala a aula de química começa imediatamente e os
faz pensar profundamente e ativamente desde o primeiro minuto. Isso é
sem dúvida mais grati�cante do que entrar em uma sala de aula
,onde o
professor passa os primeiros cinco minutos perguntando a todos como
eles estão.
Em seu livro A vantagem do cérebro feliz, Shaw Achor lembra que o
conceito de felicidade inclui várias partes. Realizações (ver seu próprio
progresso) e engajamento (perder-se em alguma coisa) são
componentes essenciais da felicidade – tão poderosos quanto o prazer
em causar felicidade, mesmo que seja reconhecido com muito menos
frequência. Além disso, quando você conhece bem a sua lição e não
está pensando na pergunta que deve fazer no impulso do momento,
pode ser responsivo e observador. Sua memória de trabalho pode ser
empregada em perceber como os alunos estão reagindo ao trabalho e o
quanto suas respostas são efetivas. Simplesmente, você está mais
presente.
As relações frequentemente estão baseadas no domínio de uma
dezena de pequenas habilidades apresentadas nos capítulos deste livro.
Um pequeno elemento da técnica Discurso positivo chamada
Pressuponha o melhor é um divisor de águas, por exemplo. Como todas
as estratégias positivas, ela ajudará a dar aos alunos o feedback
construtivo que eles merecem de uma forma que os faça lembrar que
você se importa com eles e acredita neles. Além disso, ela pede que
você construa razões plausíveis para improdutividade em baixo nível.
“Desculpem, minhas orientações não foram claras; esta é uma atividade
de escrita silenciosa”, é uma grande melhora em relação a “É preciso
silêncio aqui dentro”. Isso irradia calma e equilíbrio e mostra aos alunos
que, quando eles não seguem as orientações, seu primeiro instinto é
pensar: Bem, deve haver alguma razão para isso, e também faz você
considerar e então verbalizar algumas dessas razões, algumas das quais
frequentemente se revelarão corretas. Algumas vezes será apenas falta
de foco da turma; porém algumas vezes você não terá sido claro.
Quando você transforma em hábito ver o melhor em seus alunos, terá
maior probabilidade de notá-lo quando estiver presente. O que fazer é
outro exemplo. Nada corrói mais as relações do que não ter certeza do
que você deve fazer – multiplique por dez se isso acontecer
repetidamente e ninguém �zer muita coisa, e por 10 novamente se os
alunos forem “repreendidos” por não seguirem uma orientação que não
está clara para eles.
NOTAS
1. Se você é novo em Aula nota 10 e não acompanha todos os comos e
porquês, não se preocupe. Você pode ter as explicações completas de
todos os termos e variações na técnica 34, De surpresa, no Capítulo
7.
2. Só estou lhe mostrando como ser engraçado de um jeito irônico na
linguagem dos adolescentes com este comentário sobre as
Kardashians. Na verdade, não tenho ideia de quem são as
Kardashians – só sei que elas são famosas. Além disso, se você
estiver se questionando sobre receber de mim conselhos sobre
humor, meus �lhos adolescentes me dizem que sou muito engraçado
(“Oh, meu Deus, pai, você é tão engraçado” [insira um olhar
fulminante]).
3. BERLINDER, D. C. �e development of expertise in pedagogy.
Washington: American Association of Colleges for Teacher
Education, 1988. Disponível em: https://eric.ed.gov/?
id=ED298122. Acesso em: 1 ago. 2022.
4. CHAN, D. C.; GENTZKOW, M.; YU, C. Selection with variation in
diagnostic skill: evidence from radiologists. [S.l.: s. n.], 2021.
Disponível em: https://web.stanford.edu/~gentzkow/research/radi
ology.pdf. Acesso em: 1 ago. 2022.
5. WILLINGHAM, D. Why don’t students like school? Because the
mind is not designed for thinking. American Educator, 2009.
Disponível em: https://www.a�.org/sites/default/�les/periodicals/
WILLINGHAM%282%29.pdf. Acesso em 1 ago. 2022.
6. KIRSCHNER, P. A.; SWELLER, J.; CLARK, R. E. Why minimal
guidance during instruction does not work: an analysis of the failure
of constructivist, discovery, problem-based, experiential, and
inquiry-based teaching. Educational Psychologist, v. 41, n. 2, p. 75-86,
2006. Disponível em: http://mrbartinmaths.com/resourcesnew/
8.%20Research/Explicit%20Instruction/Why%20minimal%20g
https://eric.ed.gov/?id=ED298122
https://web.stanford.edu/~gentzkow/research/radiology.pdf
https://www.aft.org/sites/default/files/periodicals/WILLINGHAM%282%29.pdf
http://mrbartinmaths.com/resourcesnew/8.%20Research/Explicit%20Instruction/Why%20minimal%20guidance%20instruction%20does%20not%20work.pdf
uidance%20instruction%20does%20not%20work.pdf. Acesso
em: 1 ago. 2022.
7. Esta é a diferença entre “desempenho” e “aprendizagem”.
8. É claro que você só pode procurar o que já sabe que é relevante e
está conectado.
9. NUTHALL, G. Hidden lives of learners. Wellington: NZCER, 2007.
p. 69.
10. Baumeister et al. propuseram este conceito em um trabalho em
1998 no Journal of Personality and Social Psychology, “Ego Depletion:
Is the Active Self a Limited Resource?” Eles descobriram, por
exemplo, que as “pessoas que se forçavam a comer rabanetes em vez
de tentadores chocolates posteriormente desistiam mais rápido de
enigmas insolúveis do que as pessoas que não haviam exercido
autocontrole” e que “uma tarefa inicial que exigia alta autorregulação
deixava as pessoas mais...propensas a favorecer [uma] opção de
resposta passiva”. Algumas pesquisas adicionais desa�aram seus
achados.
11. NEAL, D. T.; WOOD, W. ; QUINN, J. M. Habits a repeat
performance. Current Directions in Social Science, 2006. Disponível
em: https://dornsife.usc.edu/assets/sites/545/docs/Wendy_Wood
_Research_Articles/Habits/Neal.Wood.Quinn.2006_Habits_a_re
peat_performance.pdf. Acesso em 1 ago. 2022.
12. A pesquisa de Nuthall envolveu explorar e estudar uma amostra de
alunos durante cada aula. Ele frequentemente não estava interessado
no que o professor fazia e muito interessado no que os alunos faziam
e como isso afetava sua aprendizagem. Muitas de suas observações
mais interessantes se originam de momentos em que ouvimos as
crianças, que ele havia gravado, falando sozinhas depois de uma
interação com um professor, por exemplo.
13. STEVENS, C.; BAVELIER, D. �e role of selective attention on
academic foundations: a cognitive neuroscience perspective.
Developmental cognitive neuroscience, v. 2, Suppl 1, p. S30S48, 2012.
http://mrbartinmaths.com/resourcesnew/8.%20Research/Explicit%20Instruction/Why%20minimal%20guidance%20instruction%20does%20not%20work.pdf
https://dornsife.usc.edu/assets/sites/545/docs/Wendy_Wood_Research_Articles/Habits/Neal.Wood.Quinn.2006_Habits_a_repeat_performance.pdf
14. Ironicamente para um cientista da computação, ele mesmo
conseguiu atingir isso restringindo drasticamente a presença de
tecnologia, com sua forte tendência a fragmentar e distrair sua
concentração, como sugere o título de outro de seus livros,
Minimalismo digital. (Recomendo esse e Trabalho focado.)
15. A expressão foi cunhada por Sophie Leroy, da University of
Minnesota, baseada em sua pesquisa sobre produtividade no
ambiente de trabalho.
16. THOMAS, M. To control your life, control what you pay attention
to. Harvard Business Review, 2018. Disponível em: https://hbr.org/2
018/03/to-control-your-life-control-what-you-pay-attention-to.
Acesso em: 1 ago. 2022.
17. O outro é – isso mesmo, você adivinhou – o rato-toupeira-pelado.
Eles, também, vão se sacri�car uns pelos outros até o último limite
da sua devoção. Mas Deus abençoe esses pequenos parceiros, não
me importo de ser um pouco ofuscado por eles – eles são milagrosos
e peculiares em uma dúzia de formas diferentes. Além disso –
honestamente – eles são engraçadinhos e não têm muito cheiro. Eu
digo: deixe que eles tenham eussocialidade para se gabarem.
18. MCCREA, P. Motivated teaching: harnessing the science of
motivation to boost attention and e�ort in the classroom. [S.l.]:
CreateSpace Independent, 2020. p. 74
19. Todos aprendem com as pessoas sem que tenham fortes relações.
Você tem e mais uma vez terá que aprender muitas vezes em
contextos onde o professor não sabia absolutamente nada sobre você
– uma grande palestra em seus dias na universidade ou um vídeo da
Khan Academy são exemplos. Obviamente, como professores
queremos desenvolver relações que ajudem os alunos a prosperar,
,mas é importante ter claro que todos podem e terão que aprender
em situações onde não existe uma relação em diferentes momentos
ao longo de suas vidas.
20. Os comentários de Tom foram feitos em uma série de tweets em 5
de março de 2021.
https://hbr.org/2018/03/to-control-your-life-control-what-you-pay-attention-to
21. Você provavelmente já viu vídeos na internet de professores que
cumprimentam distintamente cada criança na porta de entrada. A
chegada é uma celebração de apertos de mãos personalizados e
primeiros encontros. Também os acho adoráveis. Se você quer ser
esse professor, ótimo, mas reconheça que milhares de professores
constroem relações duradouras com seus alunos sem esses
movimentos e, além do mais, os resultados provavelmente só serão
substanciais e duradouros se você também ensinar bem, se seus
alunos se sentirem seguros e se você os deixar saber que os vê pelo
que eles são.
PREPARAÇÃO DA AULA
Se você está familiarizado com a versão 2.0 de Aula nota 10, poderá
notar que algumas das mudanças mais signi�cativas nesta edição mais
recente estão neste capítulo. Enquanto muito do que escrevi na segunda
edição focou em como planejar uma aula e�ciente, este capítulo
procura lançar luz sobre os métodos que minha equipe e eu
observamos os professores usarem enquanto se preparam para ensinar
suas lições. Essencialmente, substituí um capítulo por outro baseado na
importância implicada pela mudança de uma única palavra: de
“planejar” para “preparar”. Qual é a diferença, você pode perguntar, e
por que a mudança?
Primeiro, preparação é universal. Nem todos escrevem seu plano de
aula todos os dias. Muitos professores usam um plano escrito por um
colega ou alguém que forneceu o currículo. Alguns reutilizam um
plano que escreveram previamente. Mas todos preparam (ou deveriam
preparar) sua aula antes de ensinar a matéria. Se o plano da aula é uma
sequência de atividades que você pretende usar, a preparação da aula é
um conjunto de decisões sobre como as ensinará. Essas decisões podem
determinar o sucesso de ensinar uma matéria tanto quanto a sequência
das atividades, mas como planejamento e preparação são facilmente
confundidos, é fácil ignorar esta última e pensar, depois que o plano
está feito, que está tudo pronto para começar.
Digamos que você dá a mesma aula duas vezes por dia: o terceiro e o
quinto período. Sua turma no terceiro período é falante e animada –
algumas vezes tão animada que você tem que interromper a tagarelice e
as digressões para mantê-los no trilho. Os alunos do quinto período são
mais introvertidos. Muito mentais, na verdade, mas eles precisam de
uns cutucões para falar. Você usa o mesmo plano de aula para as duas
turmas, mas se prepara de forma diferente.
“As técnicas que funcionam para apoiar o engajamento com um
grupo de alunos podem precisar ser aplicadas diferentemente de uma
sala de aula para a seguinte”, observa Adeyemi Stembridge. “A
concepção de experiências de aprendizagem altamente envolventes
requer uma percepção apurada do contexto, por que os seres humanos
são uma espécie altamente social, e os contextos interpessoais e
culturais são importantes.”1
Talvez na terça-feira isso signi�que um pouco mais de escrita para
que os alunos do terceiro período vão mais devagar e re�itam, e um
pouco mais da técnica Virem e conversem para estimular os do quinto
período. Talvez um aluno no quinto período tenha usado uma bela
frase para descrever um trecho do romance, e você quer voltar e
questioná-lo sobre isso em um ponto crítico da aula. Apesar de usar o
mesmo plano de aula para as duas atividades, um processo e�ciente
para preparação da aula fez com que você se planejasse para diferenças
cruciais no modo que dará aula para cada turma.
A primeira etapa na preparação é conhecer bem o conteúdo da
atividade. Você não pode ensinar da melhor maneira se não tiver
segurança do que vem a seguir e tiver que ler antes quando deveria
estar ouvindo, explicando ou observando. Gerenciar a memória de
trabalho é importante para os professores, não só para os alunos.
Retornarei a essa ideia no �nal desta seção, porque é mais importante
do que inicialmente parece. Além da necessidade de desenvolver
familiaridade com o que você está ensinando, desenvolver hábitos que
podem ajudar na adaptação de sua aula ao contexto e reagir de forma
e�ciente aos eventos enquanto ensina é fundamental para o sucesso de
um professor a curto e longo prazo. Pode parecer que esses hábitos se
somariam à sua carga de trabalho, mas, se bem feitos, eles a reduzirão,
ajudando em seu sucesso ao mesmo tempo em que você mantém o
equilíbrio e sustentabilidade em sua vida como docente.
As razões por que a preparação da aula é importante se relacionam à
ciência cognitiva e à importância da percepção, que é uma das
habilidades mais importantes de um professor. “Os professores
experientes desenvolvem um alto nível de sensibilidade ao nível de
interesse dos alunos, seu envolvimento e sua motivação”, explica
Graham Nuthall em �e hidden lives of learners. Eles “conseguem
identi�car pela atmosfera na sala de aula, pela expressão nos olhos dos
alunos, as perguntas e respostas e pela forma como eles se engajam nas
atividades, o quanto a mente dos alunos estão engajadas. Os professores
e�cazes... usam esses sinais para identi�car se precisam mudar o que
estão fazendo, acelerar ou reduzir o ritmo, introduzir mais ou menos
desa�o”. Devemos, porém, ter cautela, porque, mesmo quando achamos
que os alunos estão engajados (ou não), é bom lembrar que podemos
estar errados e que a revisão do trabalho escrito dos alunos é uma
veri�cação fundamental dos nossos pressupostos. No entanto, na maior
parte do tempo, temos sucesso quando e se percebemos o que está
acontecendo em nossas salas de aula corretamente e tomamos decisões
instrucionais importantes de acordo. Se você não vê pistas relevantes,
não tem con�ança para decidir. Você fará “zig” quando os alunos
precisam que faça “zag”.
Claro que é menos provável que professores experientes façam isso.
Aqueles que aprenderam mais produtivamente com suas experiências o
fazem, mas você pode ter um veterano há 20 anos que ainda não
consegue “ler” uma sala, ou um professor em seu primeiro ano cuja
leitura da classe é excepcional. De fato, a verdadeira questão é como
cada professor consegue acelerar e melhorar seu processo de
aprendizagem para “ler os sinais”, como postula Nuthall. Adeyemi
Stembridge argumenta que a responsividade, também, começa pela
percepção. “Queremos aguçar nossa percepção e capacidades para
alavancar estratégias de formas que sejam mais bené�cas para os alunos
que precisam de apoio especí�co”, sugere ele.2 Uma parte essencial de
ensinar responsivamente é ler as reações e necessidades dos nossos
alunos enquanto ensinamos. Uma questão importante, então, é como
podemos “ver” melhor e mais integralmente enquanto ensinamos.
Pode parecer intangível, mas a percepção responde à preparação. Para
perceber bem, você precisa se preparar para o que irá procurar e,
idealmente, liberar o máximo possível da memória de trabalho para
estar disponível e sem sobrecarga para a observação. Cegueira
inatencional, observei no Capítulo 1, é o nome para o fenômeno em
que as pessoas frequentemente não conseguem ver o que está
claramente diante dos seus olhos – independente do que está escondido
ou oculto. Todos nós estamos em constante risco de não conseguirmos
notar detalhes importantes, especialmente quando eles ocorrem em um
campo visual complexo, e a sala de aula é quase sempre assim.
Temos que aceitar esse fato e nos preparar tendo ele em mente se
quisermos perceber melhor, como Chabris e Simons explicam: “Há
uma maneira comprovada de eliminar nossa cegueira inatencional:
tornar o objeto ou evento inesperado menos inesperado”. Se você
re�etir sobre os erros potenciais no pensamento dos alunos antes de
ensinar, terá maior probabilidade de notá-los – ou qualquer confusão.
Você aprende a ver se preparando para ver. Se tiver clareza
antecipadamente sobre o que quer ver no produto �nal
,do trabalho de
um aluno, você olhará com mais precisão e notará mais se os alunos o
estão fazendo.
No entanto, também sabemos que a percepção é afetada pela carga
em nossa memória de trabalho. Se está falando no celular, você �ca
menos alerta ao que está acontecendo na rua à sua volta. Tente pensar
qual é a melhor resposta a uma pergunta enquanto está ouvindo seus
alunos e você �cará menos alerta ao que está acontecendo à sua volta.
Terá menos largura de banda cognitiva para usar na percepção. Você
provavelmente deixará passar os sinais. Se analisar – e anotar – os
detalhes da resposta ideal de um aluno a perguntas fundamentais (o
que chamaremos neste capítulo de um “exemplar”), você poderá
processar o que os alunos dizem e escrevem com menos carga para a
memória de trabalho.
Sua habilidade de promover o engajamento dos alunos é outro
aspecto do ensino que responde à preparação. Se você analisou como
pedirá aos alunos para participarem durante a prática do Faça agora e
quem irá chamar para responder, será mais provável levar adiante essas
ações. Dessa forma, os alunos se sentem responsáveis por participar e
se bene�ciam de uma sala de aula onde todos – não apenas aqueles
animados que levantam as mãos ou se apressam em dar a resposta –
terão uma chance justa de falar. Se �zer isso, sua aula provavelmente
será vibrante, com engajamento e energia. Se não �zer, provavelmente
se pegará dizendo aos alunos que está vendo de novo as mesmas duas
ou três mãos erguidas a cada pergunta. Fazer uma declaração como
essa para a sua turma deve servir como um lembrete para se preparar
melhor.
Portanto, a preparação da aula é o processo de rever o plano de aula e
pensar como ele deve ser não apenas em uma sala de aula, mas na sua
aula no quinto período de amanhã. Quando e como você quer ser mais
intencional para estimular as crianças quietas? Que perguntas os alunos
devem responder por escrito para que você possa ver o que estão
pensando? Vai ser diferente para o terceiro período, quando você terá
que cuidar para não olhar de relance o relógio e perceber que uma
“discussão de cinco minutos” está agora entrando no seu vigésimo
quinto minuto. Você precisará de marcadores de tempo – se vai passar
para a demonstração das placas tectônicas, terá que limitar a prática do
Faça agora a sete minutos, não importa a impaciência das mãos
acenando. A revisão do vocabulário recebe três minutos e um
cronômetro na lousa interativa para garantir que você não perca a
segunda metade da aula.
Com tudo isso em mente, vamos entrar na sala de aula do 5º ano de
Christine Torres na Spring�eld Prep, em Spring�eld, Massachusetts,
para entender um pouco mais sobre a conexão entre preparação e
ensino. No vídeo Christine Torres: Pedra Angular, você provavelmente
notará quase imediatamente o quanto sua aula é dinâmica, com todos
os alunos engajados para aprender da forma mais positiva e cada
segundo sendo usado para uma atividade produtiva que faça os alunos
pensarem. Eles trabalham duro e parecem adorar. Meu Deus, você está
pensando, se minha aula fosse assim, eu poderia fazer esse trabalho
para sempre! Nós tivemos a mesma reação. Na verdade, gravamos esse
vídeo de Christine porque havíamos visitado sua escola (sem nossas
câmeras, infelizmente) algumas semanas antes e fomos imediatamente
fascinados pela aula alegre, dinâmica e re�exiva que Christine estava
dando. Praticamente não conseguíamos nos afastar da sua sala de aula e
depois só saímos porque eles prometeram que poderíamos �lmá-la
assim que possível. Essa é a história desse vídeo, mas outro detalhe
dessa primeira visita a Spring�eld Prep é relevante. Christine
compartilhou uma cópia do seu pacote – o lugar onde ela prepara sua
aula. Essa é a ferramenta que ela usava se preparando para dar uma
aula diferente daquela que você acabou de assistir, mas uma que revela
o processo que ela usa para cada aula – que é interessante por si só. Ela
é consistente em como se prepara e, portanto, suas aulas são
consistentes em qualidade, engajamento e energia. O primeiro passo
para tornar sua sala de aula mais parecida com a de Christine é copiar –
ou pelo menos estudar e adaptar – sua abordagem de preparação.
Você pode ver que Christine dedicou um tempo em “planejamento
exemplar”. Antes da aula, ela dispôs de um tempo para escrever a
resposta a cada pergunta conforme esperava que um aluno de destaque
�zesse. Isso ajuda a focá-la nas discussões, encorajar os pontos certos e
preencher as lacunas. Ela pode dar uma espiada nessas anotações
enquanto ensina, caso precise de um rápido lembrete, de modo que sua
memória de trabalho possa �car relativamente livre.
Christine também escreveu lembretes adicionais para si mesma:
quantos minutos que quer que uma atividade dure, “perguntas
guardadas na manga” que poderia usar para apoiar alunos confusos e,
principalmente, anotações sobre como os alunos responderão. A�nal,
ela poderia fazer a mesma pergunta a duas turmas, mas pedir que uma
responda por escrito usando a técnica Pare e anote1 e a outra passando
direto para a Virem e conversem. Esses processos de fazer marcações e
preparar sua aula são diferentes do plano de aula; são suas adaptações
manuscritas sobre o tempo do jogo para a sequência de atividades
preparada. As duas tarefas são necessárias. A pesquisa e a elaboração de
planos de ação como esse levam tempo e talvez não possam ser feitas
na noite anterior (nós sabemos; ela está usando as aulas como parte de
um piloto do Currículo de Leitura Reconsiderado que nossa equipe
escreveu). No entanto, a preparação adapta esse plano cuidadosamente
elaborado para assegurar o sucesso com esse grupo de alunos, hoje, com
conhecimento atualizado de quais serão os melhores movimentos,
considerando o detalhe de como os alunos estão progredindo e até
mesmo o que aconteceu em aula no dia anterior. Mesmo o melhor
plano não terá sucesso sem preparação efetiva, e uma ótima preparação
de um plano fraco será insu�ciente. Você precisa dos dois.
Veja os resultados no vídeo. Christine parece estar tomando a decisão
perfeita para maximizar o nível de participação de todos os alunos
repetidamente durante toda sua aula. A didática de Christine é mágica,
mas, como para todo grande mágico, há algum truque envolvido. Suas
decisões são excelentes e parecem estar sendo tomadas no calor do
momento. Ela planejou muitas, ou restringiu as escolhas que
consideraria, com antecedência. Se você vir a sua versão do pacote dos
alunos, onde ela fez sua preparação, pode notar que existem decisões
(“Virem e conversem aqui”) e opções (“Se der tempo, Mostre o texto”).
Alguns professores se preocupam que muita preparação torne mais
difícil se expressarem e conectarem com os alunos, mas o oposto
acontece aqui. Christine está preparada e, por isso, pode ser totalmente
responsiva. Os alunos se sentem vistos e conhecidos pela professora,
sentindo que têm sua total atenção. Sua cordialidade e seu humor são
ampli�cados em razão de ela estar calma, relaxada e pronta – e talvez
devido ao orgulho dos alunos pelo seu trabalho e a disposição para se
engajarem com sucesso nas tarefas apresentadas. Seu planejamento
cuidadoso estabelece um padrão nos primeiros minutos de aula: ela é
clara com os alunos sobre a tarefa, a resposta deles é positiva, e ela pode
relaxar e expressar todo seu humor e sua excelência como professora.
Eles repetem o processo muitas vezes durante toda a aula. Tudo começa
com o que está no seu planejamento”.
Os Hábitos atômicos, de James Clear, possibilitam compreender de
outra forma por que o tempo que Christine investe na preparação tem
um resultado tão poderoso em sua sala de aula. Clear cita um estudo
britânico que sugeriu para três grupos de pessoas que tentassem
começar a se exercitar. O grupo de controle não recebeu tratamento
especial. O segundo grupo recebeu material motivacional. O terceiro
grupo recebeu material motivacional e foi solicitado a completar a
seguinte sentença: “Vou fazer 20 minutos de exercício vigoroso em
[DATA] às [HORA] em [LOCAL]”. As taxas das pessoas
,dos três
grupos que realmente se exercitaram foram, respectivamente, 35, 38 e
91%. As taxas de continuidade quando as pessoas se comprometeram
com uma ação particular com hora e local quase triplicaram em
comparação com aquelas que queriam fazer essas coisas, mas não
foram especí�cas ao planejar hora e local. Nas palavras de Clear, “As
pessoas que fazem um plano especí�co de quando e onde irão colocar
em prática um novo hábito têm maior probabilidade de dar
continuidade a ele. Muitas pessoas tentam mudar hábitos [ou aplicar
técnicas de ensino] sem esses detalhes básicos planejados”.
As anotações de Christine revelam que ela fez algo similar ao que
Clear aconselha. Toda vez que anotou “De surpresa aqui” ou “Virem e
conversem aqui”, Christine fez um plano especí�co para onde e quando
teria uma ação particular e, assim, triplicou as chances de realmente
fazer essas coisas. Uma preparação mais especí�ca torna mais provável
fazermos as coisas que esperamos fazer no ensino. Ela multiplica a
continuidade que ajuda a nos tornarmos os professores que queremos
ser.
Os hábitos de preparação da aula de Christine são impressionantes,
mas não existe um método universal para preparação da aula. As
situações são diferentes, e as pessoas são diferentes. Quando sua
intuição e seu currículo já foram aprimorados por anos de estudo, você
é capaz de se preparar de maneira simples, talvez anotando o exemplo
de uma pergunta crítica. Com isso, você entra na sala de aula com
con�ança, pelo menos num dia rotineiro com uma aula que já deu
antes. Pode levar algum tempo antes que você chegue lá. Talvez comece
a dar aula para uma nova turma neste ano. Provavelmente vai querer
aumentar seu nível de preparação no início, mesmo que, ao longo do
ano, começasse a simpli�car ou adaptar o processo que usou no início.
Porém é importante fazer da preparação um hábito. Nomear as práticas
mais relevantes, garantir que elas sejam produtivas e úteis e
comprometer-se com quando irá executá-las é essencial. Assim como a
preparação aumenta as chances de você executar as ações que planeja,
suas chances de preparação se multiplicarão se você se comprometer
com hora, local e métodos consistentes.
Isso provavelmente resultará em conquistas mais estáveis e uma
experiência mais positiva e envolvente para seus alunos, sem
mencionar seu maior prazer de ensinar. Voltarei a essa ideia mais tarde.
Sdeyemi Stembridge, re�etindo sobre a preparação de suas aulas
menciona em Culturally responsive teaching in the classroom: “Sempre
inicio meu planejamento com tempo para re�etir cuidadosamente
sobre o que quero que meus alunos entendam e sintam”. O que os
alunos acham que é fundamental para seu sentimento de
pertencimento é formado por muitas coisas. Parte disso é a conexão
com o conteúdo e o professor; parte é ser capturado matéria que avança
rapidamente com o que Mihaly Csikszentmihalhyi chama de “�uxo”,
levando-os para outro mundo – no caso de Christine, para a
Dinamarca em 1943 – e acionando suas imaginações. A jornada inicia
quando ela faz com que eles se sintam incluídos em alguma coisa
dinâmica e envolvente. Uma aula engenhosamente elaborada e
executada faz isso.
Antes de de�nirmos técnicas especí�cas para a preparação da aula,
vou retornar à pergunta mais básica sobre a preparação: o quanto você
conhece o conteúdo abordado na sua aula? Pode parecer uma questão
irrelevante. Nenhum professor, exceto um que é jogado de repente em
uma função de emergência fora da sua disciplina, responderia: “Ah, não
muito bem, na verdade”. Mas há uma imensa variação no que os
professores querem expressar quando dizem que conhecem o conteúdo.
Vale a pena perguntar se saber mais sobre o contexto e os fatos
realmente é importante.
Pesquisas mostram que o pensamento complexo se baseia em fatos e
só é possível quando as pessoas têm um bom conhecimento acerca de
determinado tópico. Con�ra a seguir uma situação para exempli�car.
Imagine que você acorda amanhã de manhã, e o céu esté verde, não
azul. No quadro abaixo, anote duas explicações possíveis do que,
segundo uma perspectiva cientí�ca, poderia de forma plausível ter
causado essa mudança de cor:
Como você se saiu? Teve criatividade? Fez uma análise detalhada?
Sugeriu que alguma coisa teria afetado as partículas na atmosfera da
Terra, fazendo com que absorvessem a luz azul mais do que
normalmente faz, mas apenas levemente para deixá-la verde, com as
ondas mais curtas seguintes sendo as mais visíveis? Sugeriu que talvez
um aumento nas gotículas d’água no ar re�etiam os amarelos e laranjas
do nascer do sol e se combinariam com o azul natural do céu, talvez
contra um cenário de nuvens, para fazer com que parecesse verde?
Ou não conseguiu responder? Você imaginou alguma coisa
implausível, talvez sobre o re�exo do oceano (uma falsa concepção
comum) e desistiu? Deu um branco em sua mente? Se esse for o caso,
lembre-se da questão levantada no Capítulo 1: o pensamento de ordem
superior é especí�co para o contexto e depende do conhecimento. Se
você não tem conhecimento sobre o que faz com que o céu seja azul
(ou de qualquer outra cor), esse exercício de pensamento criativo e
analítico está perdido em você. Você só consegue pensar com
profundidade em coisas sobre as quais sabe alguma coisa – quanto mais
você sabe, mais complexo e criativo é seu pensamento.
Pela perspectiva da aprendizagem de um aluno, isso signi�ca que
precisamos considerar previamente o nível de conhecimento anterior
deles se quisermos real rigor durante as aulas. Preparar uma atividade
anotando que você fará “perguntas de sondagem” é insu�ciente, a não
ser que saiba que os alunos têm conhecimento em que se basear
quando lhes pergunta “Por quê?”. Eu na verdade sou um pouco
inseguro em meu conhecimento sobre a atmosfera, portanto você
poderia ter me feito mil perguntas de sondagem sobre a cor do céu e
não obteria muito mais do que revolta. Em algum ponto do seu
questionamento, “...mas poderia ter alguma coisa a ver com as
partículas no ar?”, eu �caria irritado e frustrado. Eu já lhe disse que não
sei. Você pode continuar me perguntando “por quê?” se quiser, mas ainda
assim não vou saber, então talvez você devesse parar de perguntar.
Compare essa resposta a como os alunos de Christine agem em sua
aula: as mãos ansiosas, a vibrante explosão de ideias quando ela propõe
a técnica Virem e conversem. Seus alunos se engajam porque ela nivelou
o campo do jogo para eles. Você pode ver os pontos em que seu plano
de aula inspira conhecimento intencionalmente para prepará-los a
pensarem de verdade: os artigos sobre racionamento, os contos de fadas
de Hans Christian Andersen e a descrição do que é um enxoval. No
entanto, Christine também se preparou para alimentar o conhecimento
quando necessário e fez da re�exão sobre as lacunas no conhecimento
parte da sua preparação para ensinar. Observe, por exemplo:
as sentenças que ela sublinhou no artigo sobre racionamento
porque contêm conhecimento básico que permitirá que os alunos
analisem melhor o livro e sua anotação para acrescentá-los ao slide;
suas anotações para ter certeza de que os alunos entendem que
“pretérito perfeito” implica que alguma coisa foi, mas não é mais,
para que eles possam pensar com mais profundidade sobre o fato
implícito de que a irmã de Annemarie já faleceu.
Mas conhecimento também é importante para os professores. Também
é verdade que podemos pensar com mais profundidade e criatividade
sobre nossas aulas se soubermos mais sobre elas, se tivermos revisado o
conhecimento principal de antemão para que ele seja codi�cado na
memória de longo prazo. Imagine tentar dar aquela aula sobre o céu
verde com base apenas em ter lido a resposta e a explicação breve que
apresentei. Você certamente não ensinaria bem, nem seria �exível nas
respostas. Provavelmente você tentaria evitar a chance de os alunos
perguntarem o que não conseguiria responder. Seu conhecimento
precário restringiria seus movimentos de ensino. Você não faria
perguntas como “Por quê?” para sondar os alunos se sua resposta a eles
fosse
,sempre “Humm. Interessante, talvez possamos pensar sobre isso
mais tarde e descobrir”. Você se sairia muito melhor se tivesse re�etido
sobre algumas respostas prováveis e soubesse por que elas fazem ou
não fazem sentido. Isso acontece tanto numa aula sobre o espectro de
luz visível quanto numa aula sobre temas como arquétipos e contos de
fadas, como minha colega Hannah Solomon destacou. Sem ter re�etido
muito sobre eles, sua aula ainda pode fracassar. Porém você teria maior
probabilidade de esquecer a importância de ler contos de fadas e
similares devido à sua familiaridade. Observe esta captura de tela da
atividade de Christine. Suas anotações de preparação mostram que ela
pensou sobre os contos de fadas e por que eles são particularmente
relevantes para uma história sobre a vida durante tempos de guerra.
Seu plano de aula fornece conhecimento como um pano de fundo, e
sua preparação mostra que ela revisou, re�etiu e aplicou o que sabe
para estar pronta para ensinar.
Talvez seja importante perguntar: que hábitos você tem como
professor para assegurar que sempre estará investindo em seu
conhecimento? Neste capítulo discutiremos alguns, mas também faço a
observação de que várias escolas de sucesso que conheço usam a
expressão “preparação intelectual” para descrever uma etapa
fundamental na preparação da aula e transformam isso em
desenvolvimento pro�ssional. Os professores se reúnem antes de
ensinarem um livro ou unidade para discutir suas questões importantes
e compartilhar e priorizar o importante conhecimento prévio que lhes
permitirá ensiná-lo. Eu adoro a ideia de uma reunião como essa. A
mensagem é: o quanto você sabe sobre o que vai ensinar é uma parte
fundamental de como você se prepara.
TÉCNICA 1: PLANEJAMENTO EXEMPLAR
Os professores e líderes de escolas tendem a ter uma resposta
extraordinária aos vídeos do ensino de Sarah Wright. O vídeo Sarah
Wright: Tio Luis, �lmado em sua sala de aula do 5º ano na Chattanooga
Prep, em Chattanooga, Tennessee, mostra por quê. A alegria e o
propósito da sala de aula de Sarah são impressionantes. Seus alunos,
todos meninos nesse caso, sorriem de orelha a outra enquanto
mergulham em um Virem e conversem imaginando que são o
personagem vilão, Tio Luis, em Esperanza rising, de Pam Muñoz Ryan.
Eles escrevem respostas interessadas e detalhadas. Os meninos têm
prazer em usar – algumas vezes de forma imperfeita, mas sempre com
entusiasmo – palavras ricas do novo vocabulário e em celebrar a
resposta exemplar de um dos seus pares. Durante o tempo todo eles
estão envolvidos no romance. Talvez enquanto assiste, você ouça um
ligeiro eco da aula de Christine Torres, que discutimos na introdução
deste capítulo. O eco que você pode ouvir não é uma coincidência. As
semelhanças incluem como os alunos estão todos engajados em
atividades de qualidade sem um segundo de pausa. O modo como eles
parecem pensar ao estudarem aquele livro é simplesmente a melhor
coisa do mundo. E há mais um paralelo que não �ca tão claro quando
se assiste ao vídeo, mas que é pelo menos tão profundo quanto
qualquer outra das semelhanças: Sarah e Christine alcançam resultados
semelhantes porque se preparam de forma semelhante.3
O que você vê nas salas de aulas das duas é produto de decisões
tomadas horas antes da aula iniciar, tanto quanto é produto das que são
tomadas no momento, embora é claro que as duas coisas estejam
relacionadas. Um professor preparado geralmente é um professor feliz e
estável, alguém que consegue se expressar mais plenamente e que toma
melhores decisões no momento. Ele sabe para onde está indo e não é
ansioso ou preocupado com o que vem a seguir, como fazê-lo e quanto
tempo levará. Sua memória de trabalho está livre para ouvir cada
resposta e manter uma discussão planejada para cinco minutos em
cinco minutos de tempo real porque ele sabe até onde quer que ela vá e
pode direcioná-la gentilmente ou decisivamente quando necessário. Ele
é o professor que acha fácil rir com seus alunos e comemorar seu
trabalho como Sarah faz. Você não consegue estar inteiramente
presente a menos que se prepare.
Assim como a preparação de Christine, a de Sarah é produto do
hábito e da experiência. Sara inicialmente preparou sua aula de forma
muito parecida com a de Christine: planejando seus principais
movimentos pedagógicos – seus Meios de participação – e os erros que
achou que poderia encontrar, mas seu passo �nal foi naquela manhã.
“Eu tinha 45 minutos”, ela me contou, referindo-se a uma manhã
ocupada no dia em que deu essa aula. Então ela avaliou e examinou
seus exemplares.
Exemplares, você lembra, são respostas corretas que você anota para
as suas perguntas. Elas são as respostas que você espera que um aluno
dê à sua pergunta. Seria fácil ignorar esse passo ou subestimar seu valor
no planejamento – parece óbvio e redundante. Você poderia
argumentar que tem a resposta “na sua cabeça” e não precisa escrevê-la.
Mas essa simples ação pode ser o passo mais importante na preparação
para ensinar.
Para vermos por que, vamos dar uma olhada em um pequeno
momento de duas aulas onde você pode ver exemplares sendo usados.
Primeiro, temos o vídeo Denarius Frazier: Resto. Veri�que o que ele faz
em 1:12 nessa aula sobre a divisão de polinômios – você verá a aula
inteira no Capítulo 3, “Veri�que a compreensão”. Explicando a uma
aluna por que seu trabalho está incorreto, ele rapidamente dá uma
olhada no seu exemplar, que está carregando com ele, o que o ajuda a
diagnosticar com mais rapidez e precisão o que ela fez de errado. “Seu
resto não está certo porque este valor bem aqui está incorreto”, diz ele.
Ele é capaz de identi�car o valor incorreto rapidamente e facilmente,
porque tem a resposta ideal pronta para ser comparada. Ele não tem
que se esforçar para manter todas as informações na sua memória de
trabalho. Cerca de um segundo é su�ciente para recordá-las.
Julia Addeo faz alguma coisa semelhante no vídeo Julia Addeo: Pedra
Angular, o qual discutirei em mais detalhes no capítulo “Veri�cação da
compreensão”. Os primeiros 37 segundos mostram sua comparação do
trabalho dos alunos com o exemplar. Julia consegue se movimentar
rapidamente e dar atenção a muitos alunos, mas também consegue se
liberar mais da sua memória de trabalho para pensar por que eles estão
cometendo esses erros e o que ela pode fazer a respeito. Você pode vê-
la fazendo isso. Ela recua das suas observações para pensar como quer
abordar as concepções erradas que está vendo e, ao fazer isso, dá mais
uma olhada em seu exemplar. “O que deveria acontecer para que esse
processo dê certo?”, ela parece estar se perguntando. O exemplar a
ajuda a ver isso claramente.
Em Checklist, o escritor de ciências Atul Gawande descreve situações
em que pro�ssionais treinados usam uma ferramenta similar – uma
checklist – para avaliar o resultado �nal de um processo. “Sob condições
de complexidade”, ele escreve, checklists “são necessárias para o sucesso”.
Boas checklists “oferecem lembretes dos… passos mais críticos e
importantes. Elas permitem precisão e e�ciência. O usuário pode se
assegurar de que o resultado �nal é detalhado e preservar a memória de
trabalho ao avaliá-la ao mesmo tempo”. Em outras palavras, é muito
semelhante a um exemplar, com a diferença de que um exemplar pode
ser narrativo, e cada elemento não precisa ser satisfeito em uma ordem
particular. As duas ferramentas são valiosas, porque disciplinam o
processo de olhar e liberar a memória de trabalho. Gawande defende
que checklists são mais valiosas em duas situações. Primeiramente,
quando realizamos um trabalho especialmente complexo e so�sticado.
Os cirurgiões, por exemplo, utilizam-nas – embora tenham resistido a
elas por anos. Os engenheiros que constroem enormes arranha-céus
também. Em cada um desses exemplos, “o volume e a complexidade do
que sabemos ultrapassou nossa habilidade individual para
proporcionar seus benefícios corretamente, com segurança e con�ança”.
Uma ferramenta para focar nas observações é mais importante para
especialistas, porque eles sabem muito mais
,faça isso.
Mas, por favor, não pule este. Vou lhe contar a história da relação
deste livro com um mundo em rápida transformação: de que forma ele
se ajusta dentro de questões mais amplas de equidade e justiça social e
como se conecta com os crescentes insights da ciência cognitiva sobre a
aprendizagem.
Se você é um veterano no Aula nota 10 ou não conhece a obra, este
prefácio pode ajudá-lo a entender o que irá ler nas próximas páginas.
No verão de 2019, comecei a revisar o Aula nota 10 pela segunda vez.
Eu já o havia revisado uma vez anteriormente, compartilhando o que
havia aprendido com um estudo mais aprofundado e aproveitando a
sabedoria de professores que adaptaram as técnicas originais. Eu os
observei ensinar e concluí coisas do tipo Eu jamais teria pensado nisso
ou Como não pensei nisso? Então surgiu a versão 2.0.
Desta vez quis aproveitar de novo essa sabedoria, mas também fazer
uma mudança maior. Eu queria discutir as pesquisas em psicologia
cognitiva que estavam rapidamente se somando ao nosso
conhecimento de como o cérebro humano funcionava e como a
aprendizagem acontecia. O fato de o que o psicólogo da Universidade
da Virgínia Daniel Willingham chama de “revolução cognitiva” não
estar aparecendo no ensino em sala de aula era, para mim, um
problema de equidade. Os alunos mereciam um ensino informado pela
ciência. Já não era mais viável deixar as conexões com esses estudos
implícitas no meu próprio livro ou não usá-los para entender mais
claramente não só o que era (e não era) importante fazer na sala de
aula, mas também o porquê.
O ensino excelente “sempre começa com uma visão clara e um
propósito sólido”, escreve Adeyemi Stembridge em Culturally responsive
education in the classroom. “O professor que entende isso de verdade é
capaz de evocar brilhantismo mesmo das estratégias mais mundanas.”
Mas, se um propósito claro pode tornar brilhantes estratégias
mundanas, uma falta de clareza sobre o propósito também pode fazer
uma estratégia efetiva fracassar. Saber o porquê é estar vários passos
mais próximo de consistentemente saber como.
Eu queria fazer mais com tudo isso. Se você sabe que, como coloca
Willingham, os alunos se recordam daquilo sobre o que pensam, você
pode propor, com con�ança, o uso de Todo mundo escreve e De
surpresa para ajudar a garantir que todos tenham re�etido
profundamente sobre o conteúdo de uma atividade. Se você sabe que os
alunos precisam se sentir psicologicamente seguros para aprender,
pode tranquilamente propor o uso de Hábitos de atenção para envolvê-
los em uma cultura que assegure constantes mensagens de apoio dos
colegas.
Assim, a versão 3.0 começou a tomar forma. Substituí o capítulo
sobre o planejamento da aula por outro sobre a preparação. Os dois não
são a mesma coisa, é claro. Preparação é o que você faz depois que o
plano está escrito – por você ou por outra pessoa – para se preparar
para colocá-lo em prática. O tempo passado nas escolas foi me
chamando a atenção para esse aspecto importantíssimo – e para a
frequência com que isso é ignorado. A primeira técnica desse capítulo é
Planejamento exemplar – escrever as respostas ideais que você quer que
os alunos deem a perguntas importantes que você fará durante a aula.1
Isso pode parecer uma tarefa desnecessária. Você pode pensar: Eu já
tenho uma boa noção do que os alunos devem dizer. Mas agora eu
entendo que escrever ajuda a aclarar sua memória de trabalho, e isso
tem um efeito muito importante. (Discutirei, mais adiante, a memória
de trabalho – principalmente sobre o que você tem consciência de estar
pensando – no Capítulo 1).
Quando você está pensando muito sobre alguma coisa, e sua
memória de trabalho está cheia, a qualidade e a profundidade da sua
percepção �cam reduzidas. Se está dirigindo um carro enquanto fala ao
telefone com uma pessoa de quem gosta, você tem muito mais
probabilidade de calcular mal a velocidade de aproximação de outro
veículo e sofrer um acidente. Não que suas mãos não estejam livres,
mas sua memória de trabalho não está. Em momentos críticos, fazer
uma coisa implica não fazer outra. Isso vale para os alunos e também
para os professores. Se está tentando se lembrar da resposta que queria
que os alunos dessem enquanto eles estão lhe respondendo, você não
vai ouvir o que eles dizem com tanta precisão quanto poderia. Mas
anote a resposta e dê uma olhada nela rapidamente. Isso fará uma
diferença profunda. Você ouvirá com mais clareza como os alunos
estão pensando.
A psicologia cognitiva também estava tendo cada vez mais clareza
quanto à importância do conhecimento prévio e da memória de longo
prazo. Por isso, acrescentei novas técnicas baseadas em como os
professores estavam aplicando Prática de recuperação e Organizadores
do conhecimento. Dylan Wiliam chamou a teoria da carga cognitiva de
“a coisa mais importante para os professores conhecerem”, e você verá a
sua relevância ao longo do livro e especialmente na técnica 21, Mostre
as etapas. Por �m, decidi também acrescentar o Capítulo 1, que resume
os princípios fundamentais que compõem um forte modelo mental do
ensino em sala de aula – um modelo mental tido pelos psicólogos
cognitivos como necessário para guiar uma tomada de decisão
consistente.
Era inevitável que houvesse mudanças no livro – não só devido às
adaptações úteis e algumas vezes brilhantes que vi professores fazerem,
mas também pelos erros honestos. Houve salas de aula que visitei que
me deixaram sem fôlego e também salas de aula onde um professor
estava “aplicando o Aula nota 10” e não gostei do que vi, o que também
foi motivo para re�exão. Como é possível que eu pudesse ver dois
professores usando técnicas similares em salas tão próximas e um me
fazer sentir orgulho e euforia e o outro, estresse? Digo isso sem
julgamentos. Uma das mais abrangentes lições de vida que aprendi com
excelentes professores pode ser encontrada na técnica 59, Discurso
positivo, e especi�camente a seção sobre Pressuponha o melhor, que
envolve evitar o impulso de atribuir intenção negativa a uma ação, a
não ser que ela seja inquestionável. Por exemplo, quando alguns alunos
não seguem suas orientações, se você estiver pressupondo o melhor,
pode dizer: “Pessoal, posso não ter sido su�cientemente claro sobre
como fazer isso; eu gostaria que vocês trabalhassem em silêncio” ou
“Esperem. Alguns de nós esqueceram que essa atividade deveria ser
silenciosa. Vamos tentar fazer isso agora”. Pressupor o melhor – não
devo ter sido su�cientemente claro ou vocês provavelmente esqueceram
vs. vocês não se importam ou ignoraram as instruções – não só
desenvolve relações mais fortes e mais positivas como também faz você
perceber sua sala de aula – e o mundo – de maneira diferente, pois o
que você pratica ver é, no �m das contas, o que você passa a ver. Em A
vantagem do cérebro feliz, Shawn Achor chama isso de Efeito Tetris. Se
você joga Tetris por muito tempo, começa a imaginar suas formas
coloridas e brilhantes caindo por todos os lados. Se você cria o hábito
de todos os dias nomear as coisas pelas quais é grato, passa a ver o
mundo cheio de coisas que merecem gratidão. Se você assume a prática
pela perspectiva das boas intenções, você vê um mundo se
empenhando pela bondade e isso o torna mais feliz, mais otimista e
provavelmente um professor melhor.
O mesmo vale para os alunos. Quando os ajudamos a fazer a
interpretação mais bem intencionada possível dos seus colegas – Tem
certeza de que ela teve a intenção de empurrar você?, Você tem certeza de
que ele tinha a intenção de fazer piada com isso? –, oferecemos a eles um
mundo melhor. Como assinalam John Haidt e Greg Lukiano�, ter uma
mentalidade benevolente, positiva e otimista é uma forma mais
saudável de passar pela vida.2
Tudo isso é divagar um pouco – pelo menos se pensar no bem-estar
dos estudantes for uma divagação. O que quero dizer é que, como
professores, lembrar de pressupor o melhor e dizer aos alunos “Minhas
orientações não devem ter sido su�cientemente claras” em vez de
“Alguns de vocês não estavam ouvindo as orientações” na
,do que conseguem manter
na memória de trabalho enquanto observam! Certamente isso vale para
os professores, que equilibram um plano instrucional diário complexo
cheio de conteúdo desa�ador e as necessidades de aprendizagem
individuais de até 30 jovens de 12 anos, por exemplo.
A segunda situação em que as checklists são especialmente valiosas é
quando você quer resultados con�áveis em uma grande organização
com muita autonomia – uma escola, por exemplo. Se todos
concordarem com como seria o que é certo, poderia reduzir a
variabilidade na execução, ao mesmo tempo preservando a autonomia.
Você quer começar a ter reuniões de “preparação intelectual” na sua
escola? Escrever e comparar exemplares para várias perguntas
essenciais pode ser a atividade ideal. Quando perguntamos aos alunos:
“Como Jonas está mudando neste capítulo?”, discutir as nuances do que
poderia ou deveria estar no seu exemplar é uma maneira perfeita de
discutir interpretações e insights sobre o texto.
É necessário um pouco de humildade para destravar a força do
planejamento exemplar. Inicialmente isso parece ser uma tarefa banal,
mas quanto mais você sabe, ironicamente, mais você precisa organizar
o que está procurando. Eu lhe asseguro, Denarius sabe sua divisão de
polinômios, e Julia sabe seus binômios. Christine conhece O número
das estrelas. Sarah sabe como Tio Luis se sente ao descobrir o
desaparecimento de Abuelita. Mesmo assim eles escrevem uma
resposta exemplar, o que os ajuda a organizar e reforçar em suas
próprias mentes o que querem ver e ouvir quando seus alunos
responderem.
Talvez não cause surpresa que Sarah tenha escolhido examinar e
revisar seus exemplares com seu tempo de preparação limitado naquela
manhã atribulada no dia de sua aula sobre Esperanza. Ela os examinou
novamente e fez pequenas adaptações e acréscimos. Isso ajudou a
refrescar a sequência das atividades da lição em sua mente, fez com que
revisasse os conteúdos do livro para que estivessem mais aguçados em
sua memória e garantiu que ela tivesse uma resposta ideal para
consultar enquanto ouvia seus alunos. Também fez com que ela
re�etisse, com a aula daquele dia, sobre quem poderia chamar, quando
ou como pediria que os alunos participassem (os tópicos que abordo na
técnica Movimentos de entrega, posteriormente). Você pode adicionar
outros elementos à preparação da sua aula – este capítulo descreverá
vários imensamente valiosos, mas quando você tiver “um daqueles
dias”, e 45 minutos forem tudo o que tem, o planejamento exemplar é a
tarefa à qual pode recorrer.
Sarah é uma professora de inglês, é claro, portanto, seu processo de
escrita de exemplares re�ete isso. Ela com frequência foca em palavras-
chave ou expressões que quer que seus alunos usem ou uma seção que
quer que consultem no texto. Se Sarah fosse uma professora de química
ou matemática, seu processo incluiria mostrar seu trabalho, depois
montar cada problema no mesmo formato que espera dos alunos para
fácil referência durante a aula. Mas independentemente da disciplina, o
importante é que o planejamento exemplar deve ser feito por escrito. Isso
força você a colocar seu pensamento em palavras, assim como os
alunos precisam fazer. Permite que você, como Sarah fez, revise e faça
acréscimos à medida que outros pensamentos lhe vêm à cabeça,
tornando seu pensamento portátil, o que, como observei
anteriormente, permite que você o compartilhe e o discuta com colegas
durante o desenvolvimento pro�ssional e, sobretudo, signi�ca que pode
levá-lo com você quando ensinar, como vimos Julia e Christine
fazendo. Você pode ver que Sarah também tem o seu à mão. Ela o larga
brevemente para comemorar a resposta de Akheem, mas, quando
terminam as palmas e a comemoração, ela o pega de volta.
Por que, você pode se perguntar, o plano exemplar de Sarah se
transformou em seu braço direito (e também de Denarius e Christine)
enquanto ela ensina? Re�etir sobre nossa discussão da capacidade
limitada da memória de trabalho pode ajudar a explicar. Ao se
familiarizar profundamente com a resposta-alvo para cada pergunta,
quando ouve ou lê o trabalho dos alunos, Sarah pode pensar não em
“Qual é a resposta?”, mas “Onde e como eles estão confusos?”. Ela é
capaz de responder com rapidez e agilidade e estar totalmente presente
enquanto ensina, porque muito mais da sua memória de trabalho está
canalizada para a percepção do que um professor comparável que
também está usando a memória de trabalho para se lembrar de coisas.
Ela está calma o su�ciente para se lembrar de sorrir, con�ante o
su�ciente em seu plano para comemorar coisas formidáveis, rir das
tolices e encorajar os alunos a correrem risco. Ter o exemplar à mão
acelera sua circulação pela sala e ajuda a se aproximar de todos.
Um aspecto �nal a reiterar sobre planejamento exemplar: ele
contribui para um excelente desenvolvimento pro�ssional em dos
aspectos. Primeiramente, sem dúvida há poucas conversas melhores
entre professores em um departamento do que “O que constitui uma
resposta excelente para a seguinte (importante) pergunta?”. Discutir
essas coisas para seis ou oito perguntas seria uma forma essencial e
poderosa de preparação intelectual. É difícil imaginar uma reunião de
departamento melhor. Nós revisamos o livro, mas também ouvimos
ideias que podemos não ter considerado. Um professor que diz Ah, com
certeza vou acrescentar isso ao meu exemplar é um professor que está
expandindo seu conhecimento do conteúdo que ele ensina. Meu colega
Paul Bambrick-Santoyo chama esse processo de “treinando com o
exemplar”: você anota sua melhor resposta e então senta com seus
colegas e compara a sua com a deles. Os professores saem
intelectualmente preparados, com uma compreensão profunda do livro
e muito possivelmente com diferentes perspectivas sobre ele. É claro,
esse é o tipo ideal de desenvolvimento pro�ssional, porque acontece
antes que os professores ensinem a matéria. Torna-os melhores agora
em vez de em um distante dia ensolarado no ano seguinte quando eles
ensinam o livro mais uma vez. É claro que, se seu departamento não
oferecer este tipo de desenvolvimento pro�ssional, você pode fazê-lo
virtualmente, encontrando colegas em outros lugares com quem possa
praticar.
Por isso, o currículo de inglês que desenvolvemos provém de
respostas de alunos exemplares no material de ensino, mas nossa
recomendação é sempre que os professores não as leiam até que
tenham escrito suas próprias respostas. Você aprende mais quando já
re�etiu previamente. Também anotamos exemplares porque ajudam
nossos planejadores de atividades a re�narem as perguntas. Se tiverem
di�culdade para responder ou não gostarem da sua resposta, eles
sabem que a pergunta tem que mudar. Para aqueles professores que
realmente escrevem seu exemplar da aula, o planejamento é uma etapa
ainda mais poderosa.
TÉCNICA 2: PLANEJE PARA O ERRO
No Capítulo 1, discuti as observações de Christopher Chabris e Daniel
Simons sobre cegueira inatencional, nossa frequente tendência a
simplesmente não vermos o que está bem diante de nossos olhos. A
única forma comprovada de eliminá-la, segundo eles, “é tornar o objeto
ou evento inesperado menos inesperado”.4 Uma etapa crítica da
preparação para ensinar é reconhecer que, em um ambiente visual
complexo, o que nos preparamos para procurar é o que provavelmente
iremos notar. Isso signi�ca que antecipar erros especí�cos dos alunos
que achamos que provavelmente veremos pode ser tão valioso quanto o
planejamento exemplar. Uma das perguntas mais produtivas que você
pode se fazer é: O que eles vão errar? Ou talvez O que eles vão entender
mal?
Perguntar e responder essas questões tem efeitos profundos.
Primeiro, se você analisar a pergunta (ou tarefa ou problema)
segundo o ponto de vista dos alunos e pensar sobre o que eles podem
entender mal, tem mais probabilidade de identi�car esses mal-
entendidos quando ocorrerem. Isso não só ajudará a prevenir cegueira
inatencional – isto é, os alunos cometem erros, mas você não nota –,
mas também ajudará a tomar atitudes mais produtivas de, pelo
,menos,
duas maneiras se observar os mal-entendidos.
Re�etir antecipadamente sobre os prováveis erros dos alunos ajuda a
evitar que você “enterre os dados”. Digamos que você está ensinando a
cena sutilmente elaborada em O doador de memórias onde o narrador,
Jonas, vê cores pela primeira vez mas, como ele não entende o que é
cor, �ca confuso. A cena é escrita para meramente sugerir o que
aconteceu a Jonas. Ela descreve os �ashes de vermelho que ele vê por
um ponto de vista incompreensível, o que acaba não resolvendo. Os
alunos frequentemente também �cam confusos.
O professor poderia antecipar que talvez os alunos não entenderiam
essa cena ou a sua importância, mas meramente notar que os alunos
não entendem não é su�ciente. Os professores frequentemente
“enterram os dados” – ou seja, eles reconhecem que os alunos estão
cometendo um erro ou estão tendo di�culdade com um mal-
entendido, mas falham em abordá-lo, talvez esperando que se resolva.
Talvez algumas vezes realmente resolva, mas, com mais frequência, o
mal-entendido se agrava. Os alunos leem vários capítulos sem se darem
conta de que devem estar muito atentos às mudanças na visão de Jonas.
Por que algumas vezes ignoramos os dados dessa maneira,
reconhecendo um mal-entendido, mas não fazendo nada a respeito?
Honestamente, existem inúmeras razões. Agir de acordo com os dados
signi�ca rasgar seu plano de aula diante de 30 alunos do 7º ano e
planejar uma alternativa no calor do momento. Se funcionar, você
retorna ao seu plano original, mas com todos os horários desregulados.
Se fracassar, �ca sem saída. Mas se você antecipou os prováveis erros
que irá encontrar, também poderá planejar o que faria a respeito.
Planejando essa resposta – incorporar alguma contingência se/então à
sua aula (se X acontecer, então eu farei Y), você tem mais probabilidade
de entrar em ação. Você removeu o obstáculo de improvisar na frente
de 30 alunos.
Planejando-se para o erro, você tem mais probabilidade de vê-lo, caso
ele aconteça, e mais probabilidade de agir com base nele, para fazer as
coisas que os professores fazem com sucesso no capítulo “Veri�cação
da compreensão”, ou seja, os professores precisam se preparar para os
erros.
A técnica Planeje para o erro também ajuda a tomar atitudes mais
produtivas você consegue tratar suas observações como dados – outro
tópico discutido em mais detalhes no Capítulo 3, “Veri�cação da
compreensão”. Assista novamente ao momento do vídeo Denarius
Frazier, Resto (44 segundos), quando Denarius marca uma pequena
hashtag em sua prancheta em resposta à di�culdade de um aluno para
encontrar o resto. Denarius não perde tempo escrevendo “restos” ou
“di�culdade para usar o teorema do resto”. Por quê? Ele pode fazer uma
hashtag porque já anotou essa frase antes da aula. Em sua prancheta,
Denarius tem uma lista dos possíveis erros. Agora ele pode meramente
começar a quanti�cá-los quando e se os encontrar. Há seis hashtags ao
lado de “di�culdade para usar o teorema do resto”. Denarius pode ter
planejado três erros potenciais que seus alunos poderiam cometer. Seu
planejamento lhe permite ver rapidamente quais eles realmente estão
cometendo e com que frequência. Planejar para os erros com
antecedência torna muito mais fácil transformar informações em dados
durante uma aula.
Antecipar os erros no trecho de O doador de memórias em que Jonas
vê as cores revela algo mais sobre a técnica Planeje para o erro: há
decisões a serem tomadas. Sim, a cena sugere sutilmente que Jonas
consegue ver as cores. Quero que meus alunos foquem nisso. Mas
posso decidir que é mais importante que eles vejam quão desorientador
é o que está acontecendo com Jonas. Alguma coisa está errada,
misteriosa, inexplicada pela primeira vez em sua vida. Ele
repetidamente tenta “testar” sua visão. Quebra as regras para levar a
maçã para casa e examiná-la. Há dois aspectos da passagem que podem
facilmente passar despercebidos. Pode ser que os alunos não precisem
entender completamente que Jonas vê as cores, contanto que
reconheçam o quanto era perturbador e confuso o que estava
acontecendo com ele.
Na análise de um trecho difícil, decidir em qual aspecto (que os
alunos não entenderam) focar pode parecer complexo para a maioria,
menos para os professores de inglês ou entusiastas de O doador de
memórias. Porém há uma questão maior em relação ao processo que é
relevante para todos os professores: percebi que aquelas eram duas
potenciais interpretações erradas e duas abordagens para abordar o
trecho porque eu estava tentando pensar nos erros que os alunos
poderiam cometer. O processo de Planeje para o erro fez com que eu
entendesse melhor o livro através dos olhos dos alunos. Quanto mais
faço isso, mais consigo entender os tipos e causas das interpretações
erradas dos alunos e mais aprimoro meu planejamento de ensino com
isso em mente pela primeira vez. Praticamente não importa se você
prevê corretamente os erros que os alunos irão cometer. Ao prever e
depois observar se eles ocorrem, você melhora sua capacidade de ver
suas aulas pelos olhos de um aluno.
No entanto, a técnica Planeje para o erro não é apenas identi�car os
erros que podem ocorrer. É também planejar o que você faria a
respeito. Em meu exemplo de O doador de memórias, posso retornar ao
trecho: “Então [a maçã] estava em sua mão e ele olhou para ela
atentamente, mas ela era a mesma maçã. Inalterada. O mesmo tamanho
e forma: uma esfera perfeita. A mesma tonalidade desinteressante,
quase a mesma tonalidade da sua camisa.”
Primeiramente preciso chamar a atenção dos alunos para as palavras
“tonalidade desinteressante”. Por que essas palavras para a cor da maçã?
O que isso implicava? As maçãs eram usualmente notadas por serem de
cor desinteressante? Por que eles estavam jogando com uma maçã, a
propósito? Por que não uma bola? Pode haver algo simbólico ali?
Dependendo do grupo ou de quanto tempo eu tivesse, poderia dizer:
“Essa passagem sugere que Jonas está vendo cores pela primeira vez,
mas não sabe o que são, porque nunca havia visto antes. Vamos voltar e
reler a cena, e quero que vocês me digam como Lowry comunica o fato
de que ele é capaz de ver cores, mas também a sua confusão”.
Agora eu desenvolvi duas respostas possíveis. Posso ler a sala e meus
alunos e tomar uma decisão sobre o caminho a seguir. Mas no
momento decido que não vou começar do zero e escolher um caminho
para a atividade que considerei apenas no calor do momento.
Revisando o que discutimos até o momento, Planeje para o erro
signi�ca prever os erros e planejar como você irá responder, re�etindo
intencionalmente (e anotando) sobre o que os alunos podem entender
errado em relação a questões chaves na matéria e planejando ações
corretivas potenciais, caso ocorram essas interpretações erradas.
Acho importante ser realista em relação à duração desse processo,
porque pode ser demorado. Você deve Planejar o erro para cada
pergunta que formular? Eu diria que não. O objetivo é construir um
hábito administrável e sustentável. Mais uma vez, dependerá do
professor e do contexto: professor novo ou experiente? Conteúdo novo
ou familiar? Tema desa�ador? Como um ponto de partida, eu
recomendaria fazer para uma ou duas perguntas mais importantes em
cada atividade.
Ao longo desse livro, falo sobre a natureza fundamental da percepção.
Ensinar é um esforço de tomada de decisão, e para tomarmos as
decisões certas temos que abordar o trabalho de uma forma que
maximize nossa habilidade de ver e entender o que estamos vendo. A
técnica Planeje para o erro aumenta a probabilidade de vermos as
interpretações erradas e sermos capazes de tomar decisões sólidas sobre
os passos para adaptar nosso plano de aula, além da probabilidade de
sermos su�cientemente corajosos para agir de acordo com elas sob
pressão.
Porém também há outro aspecto da percepção operando aqui. Os
professores são especialistas em sua área e percebem diferente dos seus
alunos, que são principiantes. Um estudo feito por Chi, Glaser e
Feltovich revelou como principiantes e experientes têm percepções
,diferentes. Estudando principiantes e experientes resolvendo problemas
de física, eles observaram que “enquanto os principiantes
categorizavam os problemas pela estrutura super�cial do problema”, os
experientes viam a “estrutura profunda” para categorizá-los e resolvê-
los.5 Os principiantes observaram que os dois problemas envolviam
movimentar objetos e tentaram resolvê-los igualmente, observam Carl
Hendrick e Paul Kirschner na discussão do estudo, mas os experientes
rapidamente viam que um era um problema de aceleração, e o outro,
um problema de velocidade constante. “O que você sabe determina o
que você vê”, concluem Hendrick e Kirschner, o que representa um
duplo desa�o. Em primeiro lugar, os principiantes não sabem tanto e,
portanto, não percebem as coisas tão bem quanto os experientes. Em
segundo lugar, os experientes com frequência não têm consciência
disso ou pelo menos não conseguem facilmente deixar de ver o que
notam como resultado do seu conhecimento. É preciso prática para
identi�car o que as pessoas que sabem menos sobre um tópico não
entenderão. A disciplina de Planejar para o erro e testar essas previsões
é investir em sua habilidade de ver além da divisão entre experientes e
principiantes e entrar na vida cognitiva dos seus alunos.
Há um benefício �nal na técnica Planeje para o erro. Se durante seu
planejamento você praticar a antecipação das di�culdades que os
alunos podem ter, também estará internalizando o pressuposto de que
haverá mal-entendidos e erros. Há um pressuposto da sua
inevitabilidade, o que signi�ca que você tem muito menos
probabilidade de se frustrar quando surgirem erros. Terá menos
probabilidade de culpar os alunos pelas lacunas na aprendizagem ou
ver suas di�culdades como sinais de alguma falha. Quando erros são
inevitáveis e o desa�o é prever e reagir a eles, ensinar se torna um
desa�o de solução de problemas mais do que uma questão de atribuir
culpas, e isso ajudará a preservar a con�ança dos alunos em você.
TÉCNICA 3: MOVIMENTOS DE ENTREGA
Há uma constelação de coisas que um professor faz para adaptar uma
atividade e dar-lhe vida para um determinado grupo de alunos em um
determinado dia. As adaptações são feitas em resposta a uma variedade
de fatores: as diferenças entre o terceiro e o quinto período (cada turma
tendo sua personalidade e dinâmica de grupo únicas) ou o humor em
uma quarta-feira de outubro versus o último dia antes das férias da
primavera ou como foi a aula do dia anterior. As adaptações preparam
os professores para darem uma aula de forma única e responsiva a cada
turma.
A primeira é o planejamento do Meios de participação. Meios de
participação, conforme discuto na técnica 36, é escolher não só a
pergunta que você fará, mas também como pedirá que os alunos
respondam a essa pergunta – e comunicar a eles claramente essa
expectativa. O plano de aula fornece a pergunta, mas como ela é
formulada e respondida – Virem e conversem, De surpresa, Tempo de
espera ou Todo mundo escreve – é igualmente importante. A melhor
pergunta do mundo pode não “funcionar” segundo uma perspectiva de
aprendizagem se cada um não a responder com seu maior esforço e
re�exão. A preparação da aula deve envolver esboçar um plano de
como você engajará os alunos nas suas perguntas com decisões
intencionais – De surpresa no início para engajar todos; Pare e anote
para estimular o pensamento mais complexo no meio da aula e dar a
eles a chance de escrever e ensaiar suas ideias; Virem e conversem para
manter a energia circulando. É claro que o fato de você ter planejado
essas coisas não signi�ca que não pode mudá-las. Signi�ca apenas que
você inicia com um plano de jogo e, como aprendemos anteriormente
com James Clear, tem maior probabilidade de fazer as coisas que deseja
pedagogicamente.
Planejar para quem: a próxima questão depois que você decidiu
como os alunos irão participar é frequentemente: quem. Uma das
razões para nem sempre levantar as mãos ou deixar os alunos se
manifestarem é a “igualdade das vozes”. As ideias dos alunos silenciosos
– aqueles que pensam mais deliberadamente, aqueles que se preocupam
sobre como podem se sair caso se voluntariem a falar – também são
importantes. Se você estiver fazendo a chamada De surpresa ou
pedindo que os alunos levantem as mãos, pensar sobre quem você quer
chamar é fundamental. A técnica De surpresa pode ser uma ferramenta
perfeita para permitir “igualdade das vozes” e assegurar que todos se
sintam importantes para a discussão. Mas quem você irá chamar? A
chamada De surpresa não resolve o problema se, no momento, você
chamou um dos seus alunos que sempre levantou a mão. Suas decisões
sobre o Meio de participação certo – neste caso, De surpresa – serão
muito mais fortes se você também re�etiu sobre quem se bene�ciaria
mais ao ser convidado para a conversa ou quem contribuiria mais.
Quando planeja quem chamar, você pode pensar nos alunos
individualmente – pode ser James que você quer veri�car ou incentivar
– ou em certas características dos alunos – se, digamos, um aluno que
acho que frequentemente é um termômetro da turma errou, muitas
pessoas provavelmente erraram. Algumas vezes, posso direcionar
perguntas para Jabari, porque no teste ele teve di�culdades nas
perguntas sobre perímetro, mas tem feito grande progresso. Vou deixá-
lo responder durante a aula para que ele perceba o progresso. Ou meu
objetivo pode ser assegurar que todos falem e sejam incluídos e sintam
a “igualdade das vozes”. Posso fazer uma anotação para “chamar Tyson
ou Mary” porque eles são mais quietos, ou “chamar as crianças mais
quietas” porque não sei quem estará quieto naquele dia. Em outras
palavras, meus objetivos podem ser individuais ou por categorias. Fazer
uma anotação para chamar alguém que tenha uma resposta “quase
correta” é um dos meus exemplos favoritos de preparação por
categorias. Vendo a anotação “Pedir a um aluno que tem a resposta
quase certa para Mostrar o texto” na margem, eu andaria pela sala,
observando-os enquanto trabalham e escolheria uma resposta boa, mas
em que faltava um detalhe importante (“quase certa”) e iniciaria a
discussão ali. “Naveen tem alguns insights provocativos, e acho que
podemos ajudá-la a tornar seu bom trabalho ainda melhor. Vamos dar
uma olhada...”
Ao examinar a aula on-line, você poderá ver que Christine fez isso na
parte inferior da página 3 e na página 6. Ela tem uma lista das crianças
a quem chamar. Você pode ver alguns nomes riscados. A lista é
dinâmica. Ela tem uma lista também para a sua professora assistente
Kait Smith, que está coordenando um grupo à parte.
Marcadores de tempo: como boas aulas acabam mal? Tudo está indo
bem, embora um pouco mais devagar do que você previu e então você
olha para o alto e se dá conta de que está tendo a discussão que
esperava 25 minutos depois do que havia planejado. De repente você
está com problemas. Não haverá prática independente, nem re�exão
por escrito, nem tempo para a revisão para o teste. É por isso que usar
marcadores de tempo é importante. Eles ajudam a organizar o tempo
quando você está aplicando alguma técnica. Quanto tempo no Pare e
anote antes da discussão, quanto tempo na discussão e depois quanto
tempo na re�exão por escrito. Isso o ajuda a identi�car mais
rapidamente quando você está se atrasando no conteúdo. O tempo é
�nito, portanto, essas são decisões importantes, e as decisões certas
podem mudar. Pode ser diferente para o terceiro período (eles
poderiam usar algum tempo para ir mais devagar e pensar sobre a
opinião de outras pessoas) e para o quinto período (eles poderiam
aprender a verbalizar um pouco mais). A quarta-feira pode ser
diferente da terça-feira. Pode ser diferente na quarta-feira por causa da
terça-feira, portanto, se você planejou na segunda-feira talvez seja bom
rever e atualizar suas alocações de tempo para que �quem o mais perto
possível de quando vai dar a aula.
Christine fez isso na página 6 da atividade que preparou. Ao lado do
quadro de notas onde os alunos fazem anotações sobre a leitura, ela
alocou cinco minutos.
,Ao lado da pergunta cinco ela alocou três
minutos. Quando ela diz: “dois minutos no relógio para escreverem
suas respostas”, é porque planejou isto: dois minutos para escrever e um
para ouvir uma resposta em voz alta. Depois seguimos adiante. Ela dá
sete minutos para a pergunta sobre os contos de fadas. Haverá mãos
ansiosas querendo ler suas respostas à pergunta 5. A tentação será ouvir
cada vez mais delas. Mas os marcadores de tempo permitem a
Christine ver que é uma decisão entre isso e seguir com o resto da
atividade, e ela escolhe esta última. Ela está priorizando: a pergunta
sobre contos de fadas é mais importante do que algumas outras coisas,
mais crítica para entender o livro, mais central para o que eles irão
escrever. É difícil priorizar quando queremos que as crianças aprendam
tudo, porém mesmo decisões imperfeitas tomadas com antecedência
são melhores do que a priorização acidental de “Opa, estamos sem
tempo”. A�nal, o que vem no �nal frequentemente está lá porque nos
ajuda a dar sentido ao que já �zemos. Provavelmente será importante.
Talvez seja por isso que em um determinado ponto as anotações de
Christine a fazem lembrar que não é preciso dar todos os exemplos que
anotou e quais questões pode pular caso �que sem tempo. Um detalhe
muito pequeno que você pode considerar é incluir a hora real do dia
em vez do tempo decorrido da sua aula. É mais fácil ver quando você
está atrasado às 10h35 do que “aos 22 minutos de aula”.
Perguntas como uma carta na manga: perguntas como uma carta na
manga são aquelas às quais você recorre quando os alunos têm
di�culdade com a pergunta inicial na sua aula. É difícil pensar nelas no
momento, e isso atrasa você. Além disso, você pode não pensar na
pergunta de follow-up exatamente certa naquele momento e há mais
chance do que o normal que a pergunta não seja perfeita, podendo
confundir o aluno que você está esperando ajudar. Esboçar algumas
perguntas potenciais como uma carta na manga calmamente antes de
ensinar e anotá-las onde pode encontrá-las com facilidade é uma ótima
prática. Você pode ver exemplos disso no pacote de Christine. Pode ver
como ela planejou responder no caso de os alunos terem di�culdade
para entender a sentença “Nós gostamos de escapar para a fantasia de
um �nal feliz”. Ela perguntará: “Por que as pessoas gostam de ler e ouvir
contos de fadas?” para ajudar os alunos a perceberem que os contos de
fadas são uma forma de prazer que não pretende ser realista – eles
pretendem ser escapistas.
Sequências: parte do que torna efetivas as aulas bem-preparadas é
que o professor conecta o próximo conteúdo com a tarefa anterior ou
com o que está por vir. Tomemos este exemplo da turma de 5º ano de
Laura Baxter em Nashville, Tennessee, em seu estudo de Esperanza
rising. A turma recém havia acabado a parte do vocabulário da
atividade, e Laura compartilha que a sua favorita das novas palavras
que estudaram é “irritável”. “Ah, espere para ver como Esperanza está
irritável nesta viagem de trem”, ela diz, com intriga em sua voz e depois
de algumas instruções sobre a técnica O que fazer – “Pacote no canto
[da sua mesa], texto à sua frente. Prontos para ler na página 72”, ela está
lendo, e o capítulo está em andamento. Sua sequência faz os alunos
esperarem com ansiedade para ver o quanto Esperanza estará irritada
de fato. Preparar uma sequência signi�ca olhar para frente para
conectar o conteúdo e ajudar os alunos a verem como as partes de uma
lição se juntam por meio de uma frase muito transicional. A sequência
se torna uma linha contínua para os alunos, para fazer com que a lição
pareça uma totalidade, e as coisas que eles fazem, mais conectadas.
“Quase sempre começo nossa leitura com uma pergunta que conecta
a leitura do dia anterior com a deste dia”, me disse a craque professora
de literatura Sarah Wright. Essa forma de sequência “é como um
gancho”, ela observou. “Você tem as mãos levantando… e então… cada
aluno está na beirada da sua cadeira porque você fez a conexão com o
que eles se interessam. Quanto mais você faz essas conexões, mais está
conectando os neurônios no cérebro e ajudando os alunos a se
lembrarem e se basearem em todo seu conhecimento enquanto estão
analisando o texto”.
Ao escrever a�rmações da sequência, você molda como os alunos irão
experienciar a matéria, em geral, contando a eles – e a você mesmo – a
história de como as peças separadas se juntam em um todo uni�cado e
direcionado para o objetivo.
Checklist rigorosa
Alguns anos atrás assisti um dia inteiro de aulas em escolas em um
distrito escolar de uma importante cidade da costa oeste. Eles
trabalhavam com um programa que estava usando o Aula Nota 10
para treinar novos professores e queriam feedback de como os
professores estavam se saindo. Uma turma permaneceu comigo
mais do que as outras. A professora havia feito um belo trabalho de
estabelecer procedimentos e rotinas produtivos e cultura positiva.
Seus alunos se sentavam entusiasmados em suas mesas, prontos
para aprender, ouvindo ansiosamente. Ela havia trabalhado duro e
se saiu bem em preparar o terreno para uma aula excelente. Mas
havia coisas cruciais faltando. As atividades eram simples demais:
sublinhar uma sentença em um artigo que era muito fácil, perguntas
de múltipla escolha, não precisavam escrever nada. Eles haviam
sentando em suas cadeiras, esperando que começasse alguma tarefa
de valor e inspiradora, mas aquele brilho lentamente foi
desaparecendo dos seus rostos. Era assim que a escola era, eles
estavam aprendendo.
O jornalista Ellis Cose descreve assim quando estava na sua sala de
aula no 2º ou 3º ano: “Aquilo me veio quando eu estava sentado na
minha cadeira tentando me manter interessado enquanto minha
professora conduzia a aula, uma palavra apática de cada vez, do livro
que eu havia lido no primeiro dia de aula, um livro (e não um
particularmente interessante) que ela acabou levando o semestre
inteiro para nos mostrar lentamente”.6 Alfred Tatum resume a
compreensão de Cose desta forma, observando que se aplica a
muito mais estudantes do que apenas um: “Quanto mais ele ia para
a escola, mas se convencia de que a verdadeira aprendizagem não
aconteceria”.7 É assim que o que Tatum chama de “anti-
intelectualismo” se desenvolve nas salas de aula norte-americanas.
Os alunos �cam entediados quando faltam desa�o, rigor e um
sentimento de progresso. Os professores fazem a leitura dessa falta
de motivação como um sinal de que os alunos não conseguem ou
não querem realizar um trabalho mais avançado. Em vez disso fazem
um trabalho mais trivial. Segue-se então um tipo de espiral da
morte. Os momentos que mais frustraram meus �lhos na escola
foram aqueles em que eles perceberam que as atividades
desprovidas de rigor se repetiriam todos os dias.8
Em outro local na escola, havia algumas poucas salas de aula
conduzidas por mestres e um número chocantemente grande de
salas de aula desregradas e caóticas, onde não acontecia
aprendizagem, porque os professores não possuíam os sistemas
organizados e as expectativas cuidadosamente desenvolvidas que a
professora que eu estava observando havia construído. No entanto,
na sala dessa professora promissora, uma oportunidade foi perdida.
A professora tinha perdido de vista como deveria ser uma aula
louvável – quais deveriam ser suas partes componentes. Talvez seu
modelo mental estivesse incompleto; talvez ela apenas estivesse
focada em outras coisas.
Mais ou menos nesta época eu estava lendo sobre o poder das
checklists, “ferramentas rápidas e simples que visam apoiar as
habilidades dos pro�ssionais”, como postula Atul Gawande. Uma
checklist é, em certo sentido, um lembrete que assegura que
aspectos fundamentais do produto �nal não sejam deixados de fora.
Pensei em uma checklist rigorosa, uma ferramenta que os
professores pudessem usar para avaliar se a aula que deram teve
bons resultados. Essa aula valeu de algo? Quais foram os seus temas
centrais? Cada aula não precisaria ter todas as partes, mas, com o
tempo, se um professor tivesse que dizer “não, nós não escrevemos
,hoje, não, nós não lemos nenhum texto desa�ador”, ele saberia que
precisava fazer algumas mudanças.
O objetivo não seria a abrangência. Seria um momento para
avaliar. Uma ferramenta rápida e e�ciente para ajudar os professores
a terem certeza de que não estavam sempre deixando passar
alguma coisa.
Con�ra a seguir o que preparei.
Os alunos escrevem frequentemente e descrevem ou re�etem
sobre pelo menos uma ideia importante em sentenças
completas (1º ano em diante).
O professor, com frequência, pede que os alunos melhorem,
desenvolvam e revisem as respostas iniciais tanto verbalmente
quanto por escrito.
O professor apresenta vocabulário novo e avançado, e os alunos
usam as palavras várias vezes para se engajarem e discutirem o
conteúdo da lição.
Os alunos leem um texto desa�ador (de acordo com seu nível e
acima dele), e perguntas em relação ao texto são usadas para
assegurar que eles sejam capazes de estabelecer signi�cado. A
discussão não está limitada ao estabelecimento de signi�cado,
mas essa etapa não é ignorada.
O professor garante igualdade das vozes: quase todos
participam falando, todos participam ouvindo. O professor usa
as técnicas De surpresa, seguimento e escrita formativa, entre
outras ferramentas para isso.
Os alunos usam a prática de recuperação para codi�car o
conhecimento-chave na memória de longo prazo.
Essa lista não é perfeita. Outras pessoas adicionariam a ela coisas
diferentes. Na verdade, você pode fazer a sua se não quiser a minha.
Para mim, essa seria uma ótima ferramenta para dar aos professores
– especialmente quando eles estivessem praticando outros aspectos
importantes da construção de uma sala de aula efetiva que podem
distraí-los do panorama geral – para que, quando terminassem de
preparar uma aula, pudessem se perguntar: a longo prazo, estou no
caminho certo?
TÉCNICA 4: PLANEJE EM DOBRO
Isso é tão óbvio sobre a preparação das aulas de Christine Torres, que
pode ser facilmente negligenciado, embora seja uma das coisas mais
importantes que ela faz.
Ela está trabalhando a partir de uma cópia do pacote dos alunos – o
documento com que eles estão trabalhando durante toda a aula. É isso
que ela tem na mão enquanto ensina, é onde ela faz as anotações na
preparação. Seu ponto de partida, em outras palavras, é um documento
que descreve o que os alunos farão em cada etapa da aula. O simples
fato de existir um documento como esse é importante. Sim, também
existe um plano de aula que Christine pode consultar se precisar. Ele
contém mais detalhes sobre o que ela fará e como. Porém mais central
para a preparação da aula é o documento que descreve o que os alunos
farão em cada etapa do percurso.
Um plano de aula descreve uma série de atividades que você
comandará ou tópicos que discutirá, mas o que o professor fará não é o
mesmo que os alunos irão fazer. A técnica Planeje em dobro descreve
em detalhes o que os alunos fazem em cada etapa do percurso. Um
plano de aula pode dizer que um professor deve conduzir uma
discussão sobre uma linha no texto. Uma aula com Planeje em dobro
descreve o que os alunos deverão fazer durante a discussão, como
anotações sobre insights dos seus pares que acham úteis. Um pacote vai
um passo além e dá a eles um lugar real para fazer isso. Um plano de
aula pode dizer: “O professor deve ler o trecho com os alunos”. A
técnica Planeje em dobro esclarece isto: o que os alunos devem fazer?
Ouvir é su�ciente? Eles terão muito mais sucesso se você disser a eles
em que prestar atenção (exemplos de ironia, por exemplo) e se planejar
que eles façam anotações enquanto você lê. Você pode até mesmo
pensar sobre onde eles devem fazer essas anotações. Em outras
palavras, suas ações enquanto está ensinando são importantes
impulsionadores do quanto os alunos aprendem e devem fazer parte do
processo de planejamento.
Para professores como Christine, isso frequentemente signi�ca não
apenas planejar que os alunos respondam a uma determinada pergunta
por escrito, mas também fornecer um lugar especí�co que comunique
aos alunos se eles vão fazer um simples brainstorm – nesse caso, o
pacote poderia incluir marcadores para listas ou uma caixa sem linhas
– ou escrever parágrafos com muitas sentenças – nesse caso ela
certamente não iria querer apenas linhas (e muitas delas para
comunicar suas expectativas quanto à extensão), mas talvez também
um espaço para descrição. Um pacote como o de Christine faz isso. Ele
traduz seu plano para um documento a partir do qual os alunos podem
trabalhar diretamente para assegurar e�ciência e simplicidade. Há
espaço para fazer anotações e um lembrete para fazê-las.
Você tem um pacote, então? Não. Os alunos do ensino médio que
estão se preparando para a faculdade normalmente tem mais costume
de fazer anotações? Sim. Mas a atividade ainda deve ser duplamente
planejada, talvez por meio de um grá�co T-Chart, em que as ações do
professor são descritas do lado esquerdo, e o que os alunos devem fazer,
à direita.
De qualquer modo, não ignore o pacote. Seu valor é alto – um fato
que é irônico, porque alguns educadores dispensam materiais copiados
e dados aos alunos, como “folhas de exercícios”, presumindo que são
banais e super�ciais. Um lembrete, então: os meios pelos quais os
materiais didáticos são reproduzidos e distribuídos não têm correlação
com a sua qualidade.
O planejamento de um pacote de aulas de fato é uma das ferramentas
mais e�cientes para a técnica Planeje em dobro. Con�ra a seguir cinco
objetivos do pacote para melhorar seu ensino e aumentar a
aprendizagem dos alunos.
Objetivo 1: tudo em um único lugar
Um pacote bem planejado fornece aos alunos todos (ou muitos) dos
materiais das aulas em um só lugar, onde eles são facilmente acessíveis,
minimizando a necessidade de distribuir materiais adicionais, extrair
novos documentos e avançar e recuar no meio deles. Os alunos podem
ler e escrever sobre um texto integralmente em um único lugar. O
pacote de Christine, por exemplo, inclui os artigos de não �cção que ela
irá ler para clarear o capítulo do romance, bem como de�nições do
vocabulário que irá ensinar, o Arremate e vários lugares para tomar
notas. Tudo está em um só lugar, e isso agiliza sua aula.
Objetivo 2: sinergia com ritmo
O pacote permite que Christine seja capaz de manejar a experiência
dos alunos facilmente e com e�ciência: ela pode avançar e pular uma
atividade para poupar um pouco de tempo, mas ainda assim pedir que
os alunos a concluam como dever de casa. Pode fazer os alunos
voltarem e relerem uma passagem ou testarem a técnica Faça agora
com quase nenhum custo para a transação. Isso reduz ao mínimo o
tempo necessário para mudar as tarefas e atividades. Ela pode pular as
folhas com vocabulário ou recolher as anotações. Embora possa parecer
banal, poupar alguns minutos a cada dia ajuda a recuperar dias
perdidos a cada ano letivo.
Conforme discuto no capítulo sobre ritmo, uma forma de chamar a
atenção para os marcos (veja o Capítulo 6, “Ritmo”) – pontos de
referência inseridos ao longo da rota de uma jornada para tornar a
distância percorrida mais visível para os viajantes – está evidente no
pacote de Christine. Cada pergunta ou atividade se destaca como algo
novo e distinto, ao contrário de um emaranhado confuso de respostas
indiferenciadas ao romance. Os alunos podem ver que estão se
movimentando dinamicamente de uma atividade para outra.
Uma ferramenta e�caz que vi em alguns pacotes – particularmente na
Michaela Community School de Londres – é a numeração das linhas.
Se você está empregando um tempo signi�cativo na discussão de um
trecho, geralmente vale a pena copiá-lo no seu pacote, adicionando
números nas linhas para garantir mais continuidade, qualidade e
e�ciência na discussão. A seguinte imagem mostra os primeiros
parágrafos do romance de Linda Sue Park, A single shard, com as linhas
numeradas. Lendo isto, Carlise consegue facilmente atrair a atenção da
classe para o uso da expressão “ainda hoje” na linha 9, em vez de todos
usarem sua memória de trabalho procurando o ponto “na metade do
terceiro
,parágrafo” ao qual ela está se referindo. Depois disso, a
professora pode rapidamente redirecionar os alunos para um ponto
diferente: “O que nos diz a referência do narrador ‘os bem-alimentados
do povoado’, na linha 3?
1. “Ei, Tree-ear! Você passou fome hoje?” Crane-man
2. gritou quando Tree-ear se aproximou da ponte.
3. Os bem-alimentados do povoado se cumprimentavam
educadamente
4. dizendo: “Você comeu bem hoje?” Tree-ear e seu amigo
5. invertiam o cumprimento como sua brincadeira.
6. Tree-ear apertou uma bolsa volumosa que trazia na cintura.
7. Ele queria reter a boa notícia, mas o entusiasmo
8. emanava dele. “Crane-man! Foi muito bom você ter me
cumprimentado
9. assim logo agora, pois ainda hoje teremos que usar as
palavras
10. apropriadas!” Ele ergueu a bolsa no alto. Tree-ear �cou
entusiasmado quando
11. os olhos de Crane-man se arregalaram com surpresa. Ele
sabia que Crane-man
12. adivinharia imediatamente – apenas uma coisa poderia
deixar uma bolsa daquele tipo
13. cheia e macia. Não aparas de cenoura ou ossos de galinha,
14. que se projetavam em protuberâncias esquisitas. Não, a bolsa
estava cheia de arroz.
15. Crane-man ergue sua bengala em saudação. “Venha, meu
16. jovem amigo! Conte-me como você teve essa sorte – uma
história
17. que vale a pena ouvir, sem dúvida!”
Objetivo 3: mapa claro do caminho
Quando você tem um milhão de coisas na sua mente, é fácil omitir uma
atividade, esquecer uma pergunta ou negligenciar um tópico que
pretendia abordar. Como os pacotes da técnica Planeje em dobro
fornecem ao professor um mapa claro do caminho sobre o que eles e os
alunos devem fazer em cada etapa, os professores têm menos
probabilidade de deixar que atividades escorram pelos dedos ou
prejudiquem um conteúdo importante.
Em uma observação similar, anotar perguntas em seus pacotes
também dá a você a responsabilidade de questioná-los da mesma forma
que planejou. Isso também evita que involuntariamente você dilua o
rigor das suas perguntas planejadas ou desvie os alunos com estímulos
tangenciais (para mais informações, veja o Capítulo 9). O mesmo vale
para as orientações na técnica O que fazer: quanto mais claramente
você escreve em seus pacotes, mais fácil será assegurar que os alunos
façam o que você planejou, da maneira que pretendia.
Objetivo 4: padronize o formato
Pacotes bem-planejados da técnica Padronize o formato (veja a técnica
8). Todos na classe de Christine respondem à pergunta número 6 no
mesmo lugar e ela pode circular pela sala sem di�culdade e ter uma boa
noção do que eles estão escrevendo, porque sempre está olhando para o
mesmo lugar. Isso torna mais fácil se movimentar rapidamente e
comparar o trabalho escrito dos alunos com seus exemplares, os quais
ela escreveu no mesmo lugar em seu próprio pacote. O que eles estão
fazendo está re�etido na página dela. As demandas à memória de
trabalho estão reduzidas, e sua capacidade de observar com precisão
está aumentada.
Formatar o espaço de trabalho para os alunos também ajuda em
outros aspectos. Se você incluir oito linhas em branco ou duas depois
de uma atividade escrita, estará dizendo aos alunos a extensão que a
resposta deve ter. Um quadro para “observações” durante o Virem e
conversem lembra-os de que devem (ou podem) fazer anotações sobre o
que discutirem.
Objetivo 5: adaptabilidade incluída
Outro detalhe do pacote de Christine que vale mencionar: uma
resposta parcial à pergunta atemporal sobre o que está reservado para
aqueles esforçados que terminaram primeiro o Faça agora ou alguma
outra pergunta e querem saber o que vem a seguir. Seu professor terá
alguma coisa pronta? E se não tiver? Eles terão que �car sentados e
esperar que a turma os alcance? E quanto à criança que ele não percebe
como um dos esforçados, mas que quer lhe mostrar que pode ser? No
Faça agora de Christine há uma questão de desa�o incluída no �nal,
esperando pelos esforçados. Continuem se esforçando.
Esse é um lembrete de que um planejamento melhor não implica uma
perda de �exibilidade – é o oposto, na verdade. O professor de
matemática na Troy Prep, Bryan Belanger, regularmente inclui mais
perguntas em seus pacotes do que seus alunos resolverão em uma aula,
para que ele possa avançar para problemas mais difíceis ou voltar e
revisar melhor, dependendo do progresso dos alunos. A professora do
Brooklyn, Taryn Pritchard, divide sua prática independente em seções
pelo nível do desa�o: “leve”, “médio” e “desa�ador”. Desse modo ela e
seus alunos podem se adaptar acrescentando mais trabalho “leve” ou
“desa�ador”, como grupo ou individualmente. Os alunos podem
acelerar ou recuar sozinhos. Outros professores incluíram perguntas de
“Desa�o” ou “Pensamento complexo” em seus pacotes. Os alunos
podem experimentá-los sozinhos ou, se as coisas estiverem correndo
bem, o professor pode usá-las como uma atividade em aula.
TÉCNICA 5: ORGANIZADORES DO
CONHECIMENTO
Poucas escolas tiveram um impacto tão profundo no setor da educação
quanto a Michaela Community School, de Londres. Fundada em um
momento em que as escolas eram frequentemente encorajadas a evitar
fatos e conhecimento em favor de “habilidades de pensamento”
transferíveis, a pequena Michaela foi uma dissidente e se empenhou em
construir uma escola com um verdadeiro currículo de conhecimentos.
Inicialmente, eles eram uma voz solitária dissidente, mas sem
desculpas, inabalável e vários anos depois, seus resultados (combinados
às pesquisas reconhecendo o papel crucial do conhecimento no
pensamento), �zeram com que o mundo parasse e prestasse atenção.
Uma das principais ferramentas no trabalho da Michaela foi
desenvolvida pelo então professor de inglês Joe Kirby. A ideia era um
Organizador do conhecimento, documento de uma página que descreve
o conhecimento mais importante que os alunos precisam ter para se
engajarem em uma unidade de estudo. Ele apresenta essa informação
em um formato concebido para facilitar a codi�cação na memória. A
ideia era simples: os alunos não devem ter que adivinhar o que é
importante lembrar. Deixe claro para eles o que é mais importante
saber; coloque isso em um único lugar para que seja fácil estudarem.
Com o tempo, a ideia se tornou popular. Em milhares de escolas, cada
unidade começa com um sumário de uma página sobre o
conhecimento básico essencial que permite que os alunos pensem mais
profundamente sobre a unidade e que forma a estrutura do seu
conhecimento sobre o tópico depois que a unidade tiver sido concluída.
A versão que recomendo enfatiza o conhecimento que os alunos
devem ter no começo da unidade para preencher as lacunas que podem
impedi-los de entender a unidade. De qualquer modo, é uma estratégia
a curto prazo – faz os alunos aprenderem com a unidade e a
aproveitarem mais – e a longo prazo – sistematicamente dá aos alunos
um conhecimento abrangente de fatos fundamentais. Independente de
como você estrutura, considerando a importância do conhecimento
prévio para o pensamento complexo, a ideia é poderosa.
Como Joe os visualizou, os Organizadores do conhecimento devem ser
documentos de uma página (ou uma página com dois lados, se for
complexo, com mapas, por exemplo). A organização – as categorias –
geralmente são quase tão importantes quanto o conhecimento.
Categorias como termos-chave, �guras importantes e uma linha do
tempo dos eventos importantes comunicam que tipos de coisas são
importantes saber ao explorar um tópico.
Se você começasse a planejar um Organizador do conhecimento para
O número das estrelas, o livro que Christine está lendo, por exemplo,
poderia incluir uma linha do tempo dos principais eventos na 2ª
Guerra Mundial. Também poderia incluir as principais �guras
históricas e os termos. É difícil entender o livro se você não souber o
que é uma ocupação ou o que simboliza a estrela de Davi. Quando você
sabe, as cenas em que a irmãzinha de Annemarie fala com coragem e
arrogância com um soldado nazista, ou quando Annemarie segura o
colar da sua amiga com a estrela de Davi, fazem sentido. Agora os
alunos podem analisá-las. Se não entenderem
,essas coisas – e é uma
grande premissa que todos os alunos entendam – será difícil lerem o
livro bem.
Re�ita sobre o exercício anterior em que pedi que você especulasse
sobre por que o céu parecia verde. Imagine o quanto você teria sido
mais capaz de se engajar nessa atividade se conhecesse as regras e
princípios que descrevem a física da luz visível e por que as cores se
parecem assim.
Con�ra a seguir como um Organizador do conhecimento pode
funcionar. Minha equipe desenvolveu essas estratégias para dois livros
em nosso Currículo de Leitura Reconsiderado. A primeira é para
Brown girl dreaming, as memórias em verso da infância de Jaqueline
Woodson na Carolina do Sul e Nova Iorque durante a era dos Direitos
Civis.
Organizador do conhecimento para Brown girl dreaming
Termos poéticos e literários
Poemas são escritos em versos. Ao contrário da prosa, a linguagem comum usada ao falar ou escrever, o
verso tem uma estrutura rítmica e frequentemente rimas.
Termo De�nição Exemplo
Verso livre Linhas não ritmadas que não
seguem uma estrutura poética
formal
Licença poética Entendimento de que um
poeta pode mudar ou
“quebrar” regras de gramática
que governam outras formas
de escrita
fevereiro 12, 1963
Ritmo Um padrão de som de�nido
pelas sílabas nas linhas da
poesia
Refrão Uma expressão ou linha
repetida dentro de um poema
Nunca desista dos seus sonhos
Estrofe Uma série de linhas agrupadas
para criar divisões em um
poema
Quebra de ritmo A passagem de uma sentença
ou frase de uma linha poética
para a seguinte, sem
pontuação �nal
Linha �nalizada Uma linha poética terminando
com pontuação para mostrar a
conclusão de uma frase
Hum, minha mãe diz.
Anáfora A repetição de uma palavra ou
frase no início das linhas ou
estrofes
Talvez o carro [...]
Talvez um pouco antes [...]
Cesura Uma pausa dentro de uma
linha de poesia, usualmente
marcada por pontuação
pode crescer livre. Pode crescer
Haikai Uma forma poética japonesa:
três linhas não rimadas de 5, 7
e 5 sílabas
Even the silence
Has a story to tell you.
Just listen. Just listen.
Linguagem da memória e contação de histórias
Memória Uma coleção de memórias escritas sobre momentos e eventos importantes
na vida de uma pessoa
Subjetividade A forma como a memória ou julgamento de uma pessoa é moldada pelas
suas opções ou experiências
Con�abilidade O grau em que a narração ou memória de uma pessoa é con�ável ou precisa
Palavras para descrever família e legado
Ancestralidade A linhagem de pessoas no passado de uma família
Genealogia Um relatório dos descendentes de uma pessoa ou família das gerações
passadas
Hereditariedade A transmissão de características pessoais de uma geração para outra em uma
família; dizemos que um traço que é transmitido (p. ex., olhos castanhos) é
herdado ou hereditário
Linha do tempo do texto
Na família de
Jacqueline
Woodson Ano Nos Estados Unidos
Tetravô de Woodson
nasce livre em Ohio
1832 A escravidão ainda é legal e praticada em
todo o sul dos Estados Unidos
1865 A 13ª Emenda da Constituição dos EUA
abole a escravidão, mas segregação e
racismo continuam a restringir os direitos
dos negros norte-americanos
1916 A Grande Migração, saída em massa dos
negros norte-americanos do sul dos EUA
1954 Em Brown v. Board of Education, a Suprema
Corte proíbe a segregação em escolas
públicas
1955 Rosa Parks é presa, desencadeando o
boicote ao ônibus de Montgomery
1960 Protestos na lanchonete de Greensboro
iniciam um movimento para dessegregar
espaços públicos; Ruby Bridges dessegrega
sua escola de ensino fundamental
Jaqueline Woodson
nasce em Columbus,
Ohio
1963 A Marcha sobre Washington é um dos
maiores eventos do Movimento dos
Direitos Civis
Woodson e sua
família se mudam
com seus avós para
Greenville, SC
Meio da década de 1960
Sterling High School
em Greenville, SC,
incendeia
1967
Woodson e seus
irmãos se mudam
para a cidade de
Nova Iorque com
sua mãe
Final da década de 1960 O Partido Pantera Negra é fundado para
defender os direitos dos negros norte-
americanos
1968 Martin Luther King Jr é assassinado
Woodson escreve
Butter�ies, seu
primeiro livro de
poemas
Início da década de 1970
Ler e entender várias centenas de páginas de versos tão ricos quanto
os de Woodson exigirá alguma terminologia técnica. Por isso, o
organizador começa com termos como refrão, estrofe e licença poética.
Agora os alunos estarão equipados com uma gama de termos para
discutir a criação de Woodson. Eles podem comunicar suas ideias entre
si, porque todos na sala conhecerão o termo quando um colega o
utilizar. Igualmente importante é o contexto histórico e, nesse caso,
uma linha do tempo dupla ajuda os alunos a entenderem eventos
importantes no movimento dos Direitos Civis e quando eles
aconteceram em relação aos eventos na narrativa de Woodson.
Compare isso com o Organizador do conhecimento para o romance de
Pam Muñoz, Esperanza rising. Ele inclui duas linhas do tempo. Uma é
para ajudar os alunos a entenderem o México, onde a primeira metade
do romance acontece e onde a agitação civil pós-revolução coloca o
enredo em marcha. Há uma segunda linha do tempo descrevendo a
história da Califórnia, que é cenário da segunda metade do romance, e
descrevendo os principais eventos sociais da era: a Grande Depressão, a
Migração Okie, o Dust Bowl. Isso demonstra a dupla força de um
Organizador do conhecimento. Os alunos entenderão melhor o livro e
gostarão de contribuir com mais ideias sobre o assunto tendo
conhecimento dessas coisas enquanto leem e encerrarão a unidade com
um conhecimento desses eventos que levarão adiante. Os dois
romances são agora �cção histórica, em vez de histórias situadas em
tempos passados que os alunos di�cilmente entendem.
História do México < 1930
A primeira parte do livro acontece no México, preponderantemente em Aguascalientes, uma região
na parte central do país.
1521 A Espanha conquista e instaura o Império Hispânico no México.
1821 Guerra da independência: Espanha derrotada, e México fundado. Ele é maior do
que hoje e inclui o atual sudoeste norte-americano.
1846 Inicia a Guerra entre México e EUA quando estes anexam o Texas.
1848 O México perde a guerra e abre mão do Texas, Califórnia, Novo México e Arizona.
Seguem-se 60 anos de governo por ditadores.
1910 Inicia a Revolução Mexicana; os campesinos (trabalhadores rurais pobres)
prometeram direitos se vencessem. Eles vencem, e o último ditador é forçado a
sair.
1917 Adoção da Constituição Mexicana, mas há con�ito constante.
1930 Inicia período de relativa estabilidade.
História da Califórnia
A segunda parte do livro acontece no San Joaquin Valley, na Califórnia, a principal região de cultivo
de alimentos nos Estados Unidos.
1846 Os Estados Unidos dominam a Califórnia como resultado da guerra com o México.
1848 É descoberto ouro. Milhares migram para buscar sua fortuna como parte da
Corrida do Ouro.
1850 A Califórnia é admitida à União como o 31º estado. População < 350.000.
1890 Inicia a irrigação em massa e agricultura no Central Valley e San Joaquin Valley.
1910 A Califórnia se torna o principal estado produtor de alimentos e óleo nos Estados
Unidos.
1920 Explosão populacional: a população da Califórnia atinge 3,5M (10 vezes mais do
que a população em 1850).
1933 Os Oakies (migrantes de Oklahoma e outros estados) começam a chegar,
aproximadamente 7.000 por mês.
Termos do Movimento Trabalhista
Trabalhadores
Migrantes
Agricultores que se mudam de um lugar para outro para colher diferentes
culturas em diferentes estações
Greve Quando trabalhadores se recusam a trabalhar e tentam impedir que outros
trabalhem para obter melhores condições ou remuneração
Piquete O ato de �car do lado de fora de uma empresa e protestar, usualmente
carregando cartazes e algumas vezes impedindo que outras pessoas entrem
Salários Pagamento por hora dado a trabalhadores como agricultores
Condições O contexto no qual os trabalhadores trabalham: pode ser seguro/inseguro;
limpo/sujo
Sindicato Um grupo organizado de trabalhadores que tomam medidas juntos
,A crise migratória
Uma migração dos agricultores para o oeste das Grandes Planícies aconteceu um pouco antes de
Esperanza chegar à Califórnia.
Grande
Depressão
O mercado de ações quebra em 1929, arrasando boa parte das
poupanças e devastando a economia. A taxa de desemprego atinge 25%.
Dust Bowl A agricultura excessiva nas Grandes Planícies provoca massivas tempestades de
areia, que arruínam as fazendas. Dez mil agricultores e suas famílias são forçados a
deixar suas terras.
O Golden
State
Os agricultores se dirigem para o oeste com seus pertences para procurar
emprego na Califórnia – “o Golden State” – que parece ser o paraíso.
Migração Okie Agricultores pobres e desesperados chegam em massa – até 7.000 por mês. Não
há empregos su�cientes, e eles frequentemente são recusados na fronteira. São
depreciativamente chamados de “Okies” (nativos de Oklahoma).
Agitação
Trabalhista
Os agricultores formam sindicatos e fazem greve em resposta ao mau tratamento
por parte dos proprietários das fazendas.
Principais citações
Entre eles corria um rio profundo. Esperanza �cou em pé de um lado e Miguel �cou no outro e o rio
nunca pode ser atravessado. (p. 18)
“Ouvi falar que nos Estados Unidos você não precisa de una palanca [alavanca].” (p. 75)
“Eu sou pobre, mas sou rica. Tenho meus �lhos, tenho um jardim com rosas e tenho minha fé e as
lembranças daqueles que partiram antes de mim. O que mais há além disso?” (p. 76)
“Barrigas cheias e sangue espanhol andam de mãos dadas.” (p. 79)
Principais termos literários
Termo De�nição Exemplo em Esperanza rising
Justaposição Colocação de duas (ou mais)
imagens ou ideias próximas para
enfatizar o contraste entre elas
As roupas de Esperanza versus as dos
campesinos, as mãos de uma mulher rica do
México e as de uma campesina pobre
Personi�cação Atribuição de características “Este vale inteiro respira e vive”
humanas ou emoções a coisas
inanimadas ou não vivas
Tema Uma ideia, símbolo ou imagem
que ocorre muitas vezes ao longo
de um texto
O rio que separa Esperanza e Miguel
Símbolo Objeto, pessoa ou ideia tem um
signi�cado adicional além do
literal
As rosas de Papa, a manta de crochê de
Abuelita
Prenúncio Um sinal que sugere que eventos
podem acontecer no futuro
Esperanza machuca seu dedo em um
espinho
Uma lição a ser retirada desses exemplos pode ser sobre tema e
variação. Esses Organizadores do conhecimento de dois romances para
séries de nível intermediário, em contextos da metade do século XX,
são similares e diferentes. Existem princípios consistentes, mas
nenhuma fórmula.
Você provavelmente está se perguntando sobre a adaptação dos
Organizadores do conhecimento a outras séries e assuntos. Para ajudar,
apresentamos a re�exão de uma professora de química, Sadie
McCleary, sobre o planejamento e uso de Organizadores do
conhecimento e um exemplo de um dos seus. Depois disso compartilho
alguns exemplos para alunos muito mais novos.
Re�exões de Sadie McCleary sobre os
Organizadores do conhecimento
Quase sempre incluo termos do vocabulário em meus Organizadores
do conhecimento. São termos fundamentais que os alunos devem
conhecer para aumentar o rigor do questionamento possível pelo
professor e aumentar a qualidade das respostas dos alunos. Note
que estes não são apenas termos/conceitos que os alunos
aprenderão nesta unidade! Eles continuarão a se basear neles e
complicar suas ideias. São simplesmente um ponto de partida.
Estudar é uma habilidade! Lembre-se de ensinar os alunos a
estudarem com Organizadores do conhecimento. Isso precisa ser
demonstrado, e os alunos precisam praticar – mesmo exercícios
simples com o vocabulário.
Reserve dois minutos várias vezes na primeira unidade para
mostrar aos alunos como dobrar seu Organizador do
conhecimento para que possam esconder as de�nições e fazer
um autoteste. Dê seguimento com um tempo em que os alunos
fazem seu autoteste em silêncio e um exercício oral ou um teste
de recordação.
Teste rápido com um colega: proporciona oportunidades para os
alunos fazerem testes entre si durante a aula por um período de
um a três minutos. Mencione explicitamente para que isso deve
ser replicado em casa com um membro da família ou amigo.
Demonstre como fazer o teste com os colegas e de�na
claramente o tempo em que devem trocar quem está testando
quem. Se o tempo permitir, acompanhe o teste entre eles com
um exercício oral ou um teste de recordação. Você pode atribuir
notas algumas vezes, nas não precisa. Pesquisas sobre avaliação
frequente sem atribuição de notas mostram o quanto isso é
efetivo.
Frequentemente peço que os alunos anotem diagramas,
de�nições ou informações em seus Organizadores do conhecimento
durante as aulas. Elas se somam ao seu conhecimento dos conceitos
nucleares e transformam o organizador em um documento vivo.
Também atrai a atenção deles. Se recorrermos aos nossos
organizadores para acrescentar uma observação, deve ser alguma
coisa muito importante.
Você pode incorporar o organizador ao conteúdo da sua aula.
Re�ra-se a ele frequentemente. Se um aluno �car emperrado, peça-
lhe para checar o organizador primeiro, geralmente antes que ele
levante a mão em aula. Você pode torná-lo parte da organização da
mesa de trabalho dos alunos: no início da aula cada aluno deve ter à
mão seu dever de casa, caderno, Organizador do conhecimento e
lápis.
Exemplo de um dos Organizadores do conhecimento de Sadie
Organizador do conhecimento nº 4
Unidade 1 – Assunto: Propriedades dos Gases e Cálculos
NOME: ____________________________, PD:________
Vocabulário:
Calor
Forma de energia que �ui entre duas amostras de matéria devido à
diferença na temperatura. O calor �ui de uma amostra com energia
cinética média mais alta para uma amostra com energia cinética
média mais baixa.
Temperatura
A medida da energia cinética média de uma amostra. Unidades
usadas: K, ºC (convertidos usando a equação C abaixo).
Energia Cinética
A energia que um objeto possui devido ao seu movimento. Calculada
usando a equação B apresentada abaixo.
Pressão
Força exercida pela substância por área de unidade sobre outra
substância. A pressão de um gás é a força que o gás exerce sobre as
paredes do seu reservatório. Unidades usadas: atm, kPa, mmHg
Volume
Quantidade de espaço ocupado por um objeto tridimensional (3D).
Unidades usadas: mL, L (líquido), cm3 (sólido)
Velocidade
Velocidade de um objeto (primariamente partículas neste caso). As
unidades frequentemente usadas são m/s ou cm/s.
Massa
Medida da quantidade de matéria em um objeto. Unidades usadas:
g, kg
Diagrama de partículas
Representação visual das partículas de uma substância, onde as
partículas são apresentadas como pontos. Permite que
representemos amostras em fases diferentes
Equações:
Equação A.
Lei dos Gases
Combinados:
P1 = pressão
inicial
V1 = volume
inicial
T1 = tempo
inicial
P2 = pressão �nal
V2 = volume �nal
T2 = tempo �nal
Equação B.
Energia Cinética:
KE = energia
cinética
m = massa
Equação C.
Conversões de
Temperatura:
ºC = Celsius
K = Kelvin
v =
velocidade
Conteúdo
A relação entre pressão e volume com temperatura constante é
___________________________________________________
A relação entre temperatura e pressão com volume constante é
___________________________________________________
A relação entre temperatura e volume com pressão constante é
___________________________________________________
Diagramas Relevantes/Cálculos
Diagrama 1. Grá�cos de P. V. T.
Diagrama 1a:
P vs V com constante T
Diagrama 1b:
V vs T com constante P
Diagrama 1c:
P vs T com constante V
Cálculo Ex 1: conversões T
Cálculo Exemplo 2: Lei dos Gases Combinados
Cálculo Exemplo 3: Lei dos Gases Combinados
Gana e Ashanti:
Gana Um país no oeste da África com
pradarias e ricas �orestas.
Ashanti Um grupo de pessoas que viveram em
Gana por mais de 400 anos.
Contação de histórias e arte são
importantes
na sua cultura.
Contos folclóricos e mitologia
Tradição oral A prática de contação de histórias de uma cultura ou grupo
oralmente em vez de por escrito
,Contos folclóricos Uma história transmitida de uma geração para outra como
parte de uma tradição oral
Nos ajuda a entender alguma coisa sobre as pessoas que
contam
Mito Uma história tradicional que visa explicar alguma coisa
sobre o mundo
Geralmente tem elementos mágicos ou impossíveis
Moral Uma lição que uma história ensina sobre o que é certo ou
errado
Observe que os Organizadores do conhecimento não precisam ser tão
complexos como os exemplos incluídos aqui. Só porque ele não deve
ter mais que uma página não signi�ca que ele deve ocupar a página
inteira. Pode ser perfeitamente bom se consistir de um único quadro
com os principais termos literários ou pessoas a serem conhecidos,
como um ponto de partida. Se começar com menos tornar mais fácil
para você dar início e experimentá-los, tudo bem.
A forma como os Organizadores do conhecimento são aplicados é tão
importante quanto como são planejados. Eles devem ser usados
frequentemente para a prática de recuperação e autoteste, se não todos
os dias, e então pelo menos várias vezes por semana. Testes e revisão
constantes codi�cam o conteúdo na memória de longo prazo. Na
Michaela, quando a visitei, o dever de casa todas as noites era
simplesmente revisar e fazer um autoteste sobre os Organizadores do
conhecimento de cada uma das suas aulas. Era muito simples e direto. O
dever de casa era sempre o mesmo, portanto era fácil de fazer. Os pais
faziam os testes com seus �lhos enquanto preparavam o jantar. [Eles
frequentemente focavam em apenas uma parte do organizador em vez
de tentarem aprender tudo de uma só vez.) É por isso que uma coisa
que você notará sobre esses Organizadores do conhecimento é que eles
são planejados com palavreado limitado para que os alunos possam
aprender as respostas de cor, e com duas colunas para facilitar o fácil
autoteste cobrindo um dos lados.
Os Organizadores do conhecimento são algumas vezes confundidos
com guias para estudo, documentos que resumem uma unidade de
estudo depois que ela é concluída – normalmente para auxiliar na
preparação para um teste. Um organizador, no entanto, se encontra no
começo de uma unidade para assegurar que todos os alunos tenham o
conhecimento que os ajudará a se engajarem em cada lição
integralmente.
Aparecem no capítulo de preparação da lição, porque a sua
concepção também é útil para o professor. Re�etir sobre o que os
alunos precisarão saber para que tenham sucesso na sua unidade tem o
benefício de fazer você pensar profundamente sobre o que eles
precisam saber e, muitas vezes, fazer alguma pesquisa. Ao escrever um
Organizador do conhecimento você saberá dez vezes mais o que colocar
nele. Em outras palavras, esse é um hábito que constrói seu próprio
conhecimento do conteúdo, e o conhecimento é importante para os
professores, também. ▲
NOTAS
1. STEMBRIDGE, A. Culturally responsive education in the classroom:
an equity framework for pedagogy. New York: Routledge, 2019. p.
70.
2. STEMBRIDGE, A. Culturally responsive education in the classroom:
an equity framework for pedagogy. New York: Routledge, 2019. p.
66.
3. Outro é que elas estão usando o Currículo de Leitura
Reconsiderado, o que me dá a oportunidade de observar que ter um
plano de aula lhes permite passar mais tempo se preparando para
ensinar (e talvez se adaptando ao conteúdo) do que fornecendo
conteúdo e escrevendo um plano detalhado. Quando o tempo de um
professor é limitado, preparação é frequentemente um melhor uso
desse tempo do que o planejamento.
4. CHABRIS, C.; SIMONS, D. O gorila invisível: e outros equívocos da
intuição. Rio de Janeiro: Rocco, 2019. p. 17.
5. CHI, M. T. H.; FELTOVICH, P. J.; GLASER, R. Categorization and
representation physics problems by experts and novices. Cognitive
Science, v. 5, n. 2, p. 121-152, 1981. A implicação do artigo para
professores é discutida no excelente livro: KIRSCHNER, P. A.;
HENDRICK, C. How learning happens: seminal works in
educational psychology and what they mean in practice. New York:
Routledge, 2020.
6. COSE, E. �e envy of the world: on being a black man in America.
New York: Washington Square, 2002. p. 69.
7. Tatum discute Cose em TATUM, A. W. Teaching reading to black
adolescent males: closing the achievement gap. Portland: Stenhouse,
2005. p.13.
8. Para fazer justiça, isso era mais provável de acontecer em suas
classes de língua estrangeira, marcando um contraste radical com
escolas em outros países onde o estudo de outras línguas era tratado
como um esforço sério, o equivalente a matemática, ciências, inglês e
história. Com certeza não é assim na maioria das escolas norte-
americanas onde estive.
1N. de T. Do inglês stop and jot (ou stop, think and jot): é uma atividade em que os alunos
são convidados a parar, re�etir sobre o que estão estudando e tomar notas para ajudar a
sua compreensão.
VERIFICAÇÃO DA
COMPREENSÃO
O grande técnico de basquete John Wooden – ex-professor inglês, antes
de ganhar 10 campeonatos da National Collegiate Athletic Association
(NCAA) em 12 anos na Universidade da Califórnia em Los Angeles
(UCLA) – de�niu o ensino como conhecer a diferença entre “eu
ensinei” e “eles aprenderam”. Essa expressão é perfeita e profunda para
representar o desa�o central do ensino (em qualquer ambiente), em
parte porque tem a presunção de que surgirão erros. Todo professor
busca apresentar um material de forma clara e memorável, de modo
que seus alunos compreendam signi�cado e importância. Queremos
que a apresentação inicial seja a melhor possível, mas não podemos
evitar que os alunos não se lembrem de nada depois. Não importa o
quão bem você explique ou demonstre o material, sempre haverá
lacunas na compreensão. O que mais importa é o que fazemos em
seguida, como respondemos aos erros. Vamos prever os equívocos?
Vamos ignorá-los? Eles podem ser resolvidos? Vamos culpar os alunos
e mostrar nossa frustração? Haverá uma lacuna entre o que você
ensinou e o que eles entenderam. Não importa o motivo, seu trabalho
será reparar isso.
Com isso em mente, posso dizer com segurança que um dos vídeos
de ensino mais úteis que você provavelmente verá é Denarius Frazier:
Resto. É muito interessante, e vou discutir bastante sobre ele neste
capítulo. Mas, por enquanto, con�ra a seguir uma sinopse rápida do
vídeo e alguns pontos que destaquei.
O vídeo começa com os alunos trabalhando com a�nco em dois
problemas. Denarius quer usar o trabalho independente para avaliar
como seus alunos estão se saindo. Ele passa por cada aluno para
observar seu trabalho. Analisa rapidamente onde cada aluno se
encontra e oferece um feedback útil para ajudar. “[Você está]
arrasando”, ele diz a um jovem. “Continue assim”, ele diz a uma jovem.
“Não se esqueça do resto e do quociente”.
“O que está havendo aqui?”, ele pergunta à próxima jovem, e vê o fato
de que seus dígitos não estão alinhados. Um pouco mais adiante, ele diz
rapidamente a uma jovem: “Ah, está muito melhor, obrigado”,
a�rmando tanto o progresso dela quanto sua própria consciência do
progresso de seu aprendizado.
Enquanto trabalha, Denarius é capaz de avaliar o progresso não
apenas dos alunos individualmente, mas também da turma inteira. A
turma está dividindo polinômios, e o problema mais frequente é a falta
de clareza sobre como encontrar o resto. Ele faz uma pausa, apresenta
um exemplo, orienta-os através de uma análise de onde eles foram
e�cazes e onde algo saiu errado e pede que voltem à sua prática
tranquila e produtiva.
Todo aluno se sente visto e apoiado. É evidente que seu professor
pode e irá ajudá-los a ter sucesso. É um estudo de caso sobre como o
ensino e�caz constrói relacionamentos. Já que Denarius está atento às
lacunas de compreensão à medida que elas aparecem, ele é capaz de
ajudar cada aluno, com calma e �rmeza, e criar um ambiente de
con�ança e respeito. A con�ança, como eu disse no Capítulo 1, não é
uma pré-condição para Denarius ensiná-los; é um resultado. No
mínimo, os dois se desenvolvem em sinergia. Você me ensina bem, e eu
passarei a ter fé em você.
Este capítulo é sobre
,a lacuna entre ensinar e aprender: sobre como
ver e responder a isso e como deixar os alunos à vontade nesse
processo. O assunto vai ser mais técnico. O que você deve olhar e
buscar? Como pode responder aos erros? Como pode fazer com que os
alunos lhe revelem mal-entendidos de bom grado? Mas não se engane.
Os resultados de um professor dominar tais detalhes técnicos não são
misteriosos. Como mostra Denarius, eles criam as condições sob as
quais os alunos prosperam.
TÉCNICA 6: SUBSTITUA O AUTORRELATO
Um dos métodos mais comuns que os professores usam para descobrir
se seus alunos entendem o que estão ensinando é perguntar
diretamente: “Vocês entenderam?” Isso parece bastante lógico, mas
acaba sendo uma maneira relativamente ine�caz (embora facilmente
melhorada) de avaliar a compreensão do aluno.
Digamos que uma professora de ciências acabou de explicar a
estrutura celular para seus alunos do 6º ano. “OK”, ela diz, “esses são os
fundamentos da estrutura celular. Todos entenderam?” Ou talvez ela
seja um pouco mais especí�ca: “Todos entenderam claramente as
diferenças entre células vegetais e animais?”
Ela provavelmente receberia o que parece ser uma con�rmação:
murmúrios e acenos de um punhado de alunos. Talvez um “sim” ou um
“uh-huh”, embora talvez ela não escute nada. De qualquer forma, é
provável que tome isso como evidência de que os alunos estão em
sintonia – o que chamamos de consentimento aparente – e diga algo
como: “Bom. Vamos continuar explicando o papel dos cloroplastos”.
No entanto, pedir para os alunos avaliarem sua própria compreensão
de algo que acabaram de aprender costuma gerar falsas con�rmações,
especialmente quando fazemos perguntas cuja resposta será apenas sim
ou não. A principal razão para isso é que as perguntas se baseiam em
um autorrelato, o que é notoriamente impreciso. As pessoas,
especialmente os novatos, geralmente não sabem o que não sabem
sobre um tópico e, mesmo que saibam, é improvável que reconheçam
quando solicitadas.
Por exemplo, se você perguntar a um grupo de alunos: “Vocês
conhecem bem as causas da Revolução Americana?”, e todos disserem
que sim, é porque eles têm convicção das causas que têm consciência de
conhecer no momento. Se eles errarem alguns, se sua concepção contém
informações erradas, eles não saberão sem alguma forma de se
compararem com uma descrição mais completa dos conceitos que eles
deveriam saber e que, para você, estão implícitos na pergunta.
Ironicamente, é mais provável que alguém com profundo
conhecimento das causas da Revolução responda negativamente:
“Ainda não consigo entender bem por que os Atos Intoleráveis
uni�caram os dissidentes, em vez de isolar os radicais coloniais ...”
Se estou aprendendo biologia, e você me pergunta: “Você conseguiu
aprender sobre as diferenças entre células vegetais e animais?”, na
realidade está me perguntando: “Você está ciente de que há algumas
diferenças entre células vegetais e animais?” ou “Você está ciente de que
existem diferenças entre células vegetais e animais?”. “Sim”, eu lhe direi,
enquanto penso nas coisas que sei, que vêm com prontidão à mente.
Elas têm uma forma diferente, e as células vegetais têm uma parede
celular relativamente in�exível, eu acho. Entendi. Enquanto lhe digo
isso, porém, continuo sem saber que o núcleo está posicionado de
forma diferente dentro da célula e não tenho ideia do que são
lisossomos. Minha resposta honesta é sim, mas eu não sei aquilo que
não sei. Infelizmente, quanto menos seus alunos souberem sobre um
tópico, maior a probabilidade de seu consentimento aparente ser
impreciso.
No entanto, mesmo este exemplo pressupõe que estou me esforçando
muito para compartilhar tudo o que sei a respeito das células vegetais e
animais com você, meu professor ou minha professora. Com a mesma
frequência, muitas barreiras sociais e psicológicas impedem os alunos
de demonstrar sua confusão. Digamos que eu esteja ciente de que não
entendi a diferença entre células vegetais e animais. Dizer “Na verdade,
eu não sei” signi�ca interromper a aula – fazendo com que a professora
volte e explique novamente, quando a presunção é clara de que ela e
meus colegas não querem isso. Signi�ca parecer ser, possivelmente, a
única pessoa na sala que não entendeu. Ou então é a única pessoa na
sala que não entende que você não deveria dizer que não entendeu.
Tudo isso é devido à incerteza de que uma nova explicação realmente
ajudará. É mais fácil dizer a mim mesmo que vou descobrir sozinho.
Esses fatores impedem a maioria das pessoas, não somente os alunos,
de falar quando estão confusos. Quando foi a última vez que você
parou uma reunião para dizer: “Espere aí, eu não entendi”? Se um
colega fez isso, quais são as chances de você sentir (ou expressar)
apreciação em vez de irritação? Os alunos podem ocasionalmente
dizer: “Não, eu não entendi”, mas não de forma con�ável.
Implicitamente, existem muitas pressões sociais que os levam a manter
sua confusão para si mesmos.
Um fator �nal que faz com que perguntas do tipo “Todos
entenderam?” sejam ine�cazes é o formato dessas perguntas. Eles
oferecem duas más escolhas. Na maioria dos casos, a compreensão dos
alunos se encontra em algum ponto intermediário. Entender ou não se
trata de uma série de perguntas em que a resposta é sim para alguns e
não para outros. A resposta do tipo sim/não para a pergunta “Você
entendeu?” requer a junção de muitos pontos de dados, faz com que os
alunos escolham uma ou outra simpli�cação exagerada.
A boa notícia é que, quando fazemos perguntas como “Todos
entenderam?”, estamos reconhecendo que estamos em um ponto em
que seria bené�co veri�car a compreensão. Percebendo que estamos
fazendo esse tipo de pergunta, podemos substituí-la por algumas
alternativas mais produtivas, o que chamo de “perguntas direcionadas”,
perguntas especí�cas, objetivas, focadas no conteúdo em questão e
feitas de forma aberta.
Imagine por um momento que nossa professora de ciências do 6º ano
perceba que está perguntando “Todos entenderam?” durante sua
introdução às diferenças entre células vegetais e animais e tente trocar
essa pergunta por algo melhor. Então, ela poderia dizer:
“OK, vamos veri�car algumas das principais ideias sobre o tema. Se eu
estivesse olhando para uma fotogra�a de algumas células, e elas
fossem arredondadas e espaçadas aleatoriamente, eu estaria olhando
para células vegetais ou animais? Yasmin?”
“Bom, e se eu estivesse olhando para células vegetais, o que faria com
que elas tivessem um padrão mais retangular? Louis?”
“Excelente. Então, Kelsey, quais tipos de células contêm uma
membrana, as células vegetais, as células animais ou ambas?”
“Muito bom. Por �m, Shawn, o que são lisossomos e em que tipos de
células eu poderia encontrá-los?”
Primeiro, você notará que as perguntas da nossa professora de
ciências agora são objetivas. Ela não pergunta se os alunos acham que
sabem, mas pede que eles demonstrem se sabem, de modo que a
precisão dos dados agora é muito melhor.
Em segundo lugar, estas não são perguntas do tipo sim/não. Isso
torna mais difícil adivinhar a resposta certa ou acertar apenas com o
entendimento mais básico.
Vale a pena descon�ar de uma solução comum para o problema do
consentimento aparente. Muitos professores tentam substituir a
pergunta do tipo sim/não por um sinal dos alunos: polegares para cima
se vocês entendem as diferenças entre a estrutura da célula vegetal e
animal, polegar para baixo se não entendem, polegar para o lado se não
tiverem certeza. Isso pode parecer uma melhoria – é provável que você
obtenha mais respostas dos alunos, mas continua havendo problemas
de autorrelato. Você ainda está con�ando na percepção dos alunos de
saber se eles sabem alguma coisa, e o fato é que, mesmo que eles sejam
totalmente honestos, muitos provavelmente ainda estão errados em sua
percepção. Colocar o polegar para cima ou para baixo pode tornar o
autorrelato mais envolvente e, assim, remover um pouco do silêncio
constrangedor, mas, em termos de fornecer melhores dados sobre a
compreensão de seus alunos,
,verdade nos
faz interromper nossa tendência a cometer o erro fundamental de
atribuição3 e, em vez disso, perguntarmos Na verdade, as minhas
orientações foram su�cientemente claras? Talvez não.
Quando vi salas de aula onde as técnicas que descrevi eram usadas de
uma forma que não parecia correta, me empenhei em me questionar.
Minhas orientações foram su�cientemente claras? Por que as pessoas
esqueceriam? As técnicas serem ocasionalmente mal aplicadas foi
resultado do que eu escrevi – ou do que deixei de dizer?
A resposta, é claro, algumas vezes foi “sim”. E como não seria? Ensinar
é um trabalho difícil, sob condições complexas e frequentemente
desa�adoras. Seria impossível fazer tudo certo sempre – para um
professor e certamente para alguém que procura descrever o que os
professores �zeram ou poderiam fazer.
Retornarei a esse tópico mais tarde. Por enquanto, descreverei uma
mudança nesta edição que resulta dessa re�exão: os vídeos Pedra
Angular. Eles são vídeos mais longos (a maioria tem cerca de dez
minutos de duração) que pretendem mostrar um arco mais completo
da aula de um professor, e neles são usadas múltiplas técnicas em
combinação. Eles transmitem uma noção mais ampla de como são a
cultura e o caráter das salas de aula excepcionais e as formas como as
técnicas se combinam e interagem. Eu os acrescentei porque mostrar
uma técnica com clareza algumas vezes requer um grau de foco que
tanto revela quanto distorce o trabalho de um professor.
Consideremos Christine Torres: você verá diversos vídeos da sua sala
de aula neste livro. Eu a vi pela primeira vez ensinando em uma visita
improvisada à Escola Preparatória de Spring�eld, Massachusetts, e,
assim que entrei em sua sala de aula, me surpreendi. Suas lições eram
impecavelmente preparadas. Eu usaria a palavra academicamente para
descrever o rigor do conteúdo e as ideias que seus alunos
desenvolveram. Ela expressou sua crença na capacidade deles para a
excelência em tudo o que fazia e, embora esperasse esforço e foco dos
alunos, amor, alegria e ludicidade também transpareciam.
Observei quando um de seus alunos, fazendo um comentário
direcionado aos seus colegas, murmurou de forma inaudível ao mesmo
tempo desviando o rosto enquanto falava. “Não fale com a parede, pois
a parede não se impooortaaa”, Christine cantarolou em uma voz
cadenciada. O aluno se virou e sorriu cautelosamente, notando os
olhares dos seus colegas, que o apoiavam. A parede poderia não se
importar, mas seus colegas estavam lhe dizendo com o contato visual
que se importavam. Ele se preparou e apresentou sua compreensão
sobre o romance com uma voz hesitante, mas clara, e você podia ver,
depois de tudo, que ele estava feliz – e talvez igualmente um pouco
surpreso. Ele fez; ele conseguiu fazer. Essa é um das aulas que joga você
lá em cima, que extrai o melhor de você.
A sala de aula de Christine era, para usar uma expressão à qual
retornarei, um espelho brilhante. Ela re�etia seus alunos, revelando e
valorizando o que eles realmente eram, mas também os transformava,
trazendo à tona coisas que não estavam visíveis. Ela não só lhes dava
uma oportunidade, mas também os in�uenciava intencionalmente a se
engajarem em comportamentos positivos que não teriam arriscado, ou
nem mesmo saberiam que existiam, sem a luz de uma cultura que os
incentivasse de maneira proposital, iluminando-os. Todos os ambientes
socializam as pessoas neles inseridas para que façam determinadas
escolhas e exibam determinados comportamentos. Cass Sunstein e
Richard �aler explicam em Nudge: o empurrão para a coisa certa: não
existe caso neutro. Existem meramente casos de maior ou menor
intencionalidade. Uma sala de aula onde os alunos reagem com
desinteresse em relação aos comentários de seus colegas não é mais
“natural” do que uma como a de Christine, onde eles reagem
incentivando o colega. Uma delas só é mais difícil de criar.
Posteriormente enviamos nossas câmeras para a sala de aula de
Christine e, entre as coisas que extraímos do vídeo há uma série de
pequenos momentos em que ela fazia alguma versão do que havia feito
quando cantou “Não fale com a parede, pois a parede não se importa” e
socializou seus alunos, encorajando-os a falar em voz audível e uns com
os outros. “Alto e com orgulho” era o que ela mais dizia.
Seria difícil entender como ela faz isso – o ritmo, o tom de voz, a
variação nas frases que utiliza – se você não visse uma série de
exemplos em rápida sucessão. Você precisa de uma montagem – uma
série de momentos em que ela teve essas atitudes reunidos de forma
organizada. Mas se você só visse a montagem teria apenas uma parte
do panorama. Você também precisaria experimentar o que eu vi e senti
quando estava no fundo da sala de aula de Christine naquela primeira
manhã – uma noção do quanto era rigoroso seu ensino e do amor que
seus alunos sentiam por ela e também do amor vindo dela. Você
precisaria ver essas coisas para entender como seu uso de O formato
importa (técnica 18, que inclui estimular os alunos a falar de forma
audível) se relacionava com as outras coisas que ela fazia. Por isso
acrescentamos os vídeos Pedra Angular, já descritos na introdução. Eles
foram feitos, em sua maioria, na sala de aula e, a partir deles, foram
editados vídeos mais curtos e mais focados, que demonstram uma
técnica especí�ca; espero que assistir aos vídeos Pedra Angular lhe
proporcione uma perspectiva mais abrangente.
*******
Era aqui que se encontrava esta edição do livro quando,
repentinamente, 2020 aconteceu.
Não é preciso dizer que o transtorno resultante da epidemia da covid-
19 teve profundos efeitos nas escolas e no ensino. Parte disso está
re�etido neste livro – incluí barras laterais com exemplos de técnicas
usadas em um ambiente on-line baseado na premissa de que o ensino
remoto desempenhará um papel na escolarização em alguns locais
mesmo depois de as escolas retornarem ao normal ou se aproximarem
dele.4
No entanto, a crescente urgência no movimento pela justiça e pela
transformação social também explodiu em 2020 na esteira da morte de
George Floyd nas mãos da polícia de Minneapolis,5 o mais recente
exemplo de um padrão horripilante de cidadãos negros e pardos sendo
mortos pela ação policial. E, é claro, isso fez lembrar a longa história de
desigualdades sistêmicas em outras instituições, incluindo as escolas.
Isso fez meus colegas e eu de�nirmos mais explicitamente o papel que
queríamos desempenhar na luta por uma sociedade mais equitativa e
justa.
Quero dizer, da forma mais direta possível, que o Aula nota 10 é e
sempre foi um livro sobre justiça social. (A desigualdade sistêmica do
sistema educacional dos Estados Unidos tem sido óbvia para qualquer
um que se importe em olhar desde muito antes de 2020.) Sua premissa
é que alunos não nascidos com privilégios e oportunidades –
frequentemente negros e pardos – merecem escolas e salas de aula que
não apenas lhes forneçam uma oportunidade de realização –
implicando que a chance está ali se eles a escolherem – sem levar em
conta que muitos acabam não tendo essa chance. Sua premissa na
verdade é de que a oportunidade de frequentar salas de aula onde é
possível perseguir, com entusiasmo e atenção, um interesse na
empreitada escolar não é su�cientemente boa. Justiça social signi�ca
(para mim, pelo menos, e espero que para as pessoas que lerem este
livro) o direito que cada estudante tem de estar em salas de aula que
consistentemente assegurem que eles podem perseguir seus sonhos de
se tornarem cientistas, engenheiros e artistas, presidentes de bancos,
organizações e nações – salas de aula que socializam o estudo e
protegem e criam as condições ideais para suas conquistas. Eles
merecem escolas que os encoragem e os estimulem a se engajarem em
comportamentos que promovam sua aprendizagem e a aprendizagem
daqueles à sua volta. E eles merecem alguma coisa que o autor e
especialista em educação Alfred Tatum chama de “equidade
disciplinar”.
“Existem dezenas de disciplinas ensinadas em nível universitário que
parecem ter um apagador de negros”,
,é uma ilusão. Perguntas direcionadas têm
um efeito muito melhor.
A propósito, perguntas direcionadas funcionam melhor quando você
as planeja com antecedência. É difícil pensar nas quatro perguntas que
revelarão rapidamente onde seus alunos estão no calor do momento. E
se você estiver tentando pensar na próxima pergunta, poderá não
prestar muita atenção nas respostas. Ou pensar no seu tom de voz. Isso
é importante porque se você �zesse perguntas direcionadas em um
ambiente onde sorrisse calorosamente para mostrar que um erro não
frustrou você, tornaria a oportunidade de veri�car a compreensão mais
produtiva. Sorrir quando você faz sua pergunta direcionada ou talvez
quando os alunos se esforçam para responder faz com que a turma se
lembre que você quer honestidade e que descobrir os equívocos mais
cedo facilita sua correção. Este é um tópico que discutirei mais adiante
na técnica 12, Cultura do erro.
Há outra coisa que ajudará a garantir que seus alunos tenham
sucesso: De surpresa (consulte a técnica 34). Essa técnica permite
coletar dados de uma amostra de alunos da sala. Se, em vez disso, você
con�ar apenas nos alunos que se voluntariam para responder, estará
coletando dados errados. Os alunos que se voluntariam para responder
geralmente o fazem quando acham que sabem. Os alunos que
acreditam que não sabem provavelmente não levantarão a mão. Se você
não achar uma forma de chamar esses alunos, sempre irá superestimar
a proporção de sua turma que entendeu determinado conceito.
A chamada De surpresa ajuda de outra maneira. Ajuda você a ter mais
desenvoltura. Pode parecer contraintuitivo: um professor não gostaria
de avaliar da forma mais completa possível? No entanto, os professores
falham em veri�car a compreensão (ou o fazem de modo super�cial),
mesmo reconhecendo a necessidade dessa prática, por causa da pressão
do tempo. Nunca há tempo su�ciente, como você deve saber se for
professor, e levar cinco minutos para voltar e certi�car-se de que todos
entenderam é estressante quando há muita matéria para passar. Se
demorar uma eternidade e atrapalhar seu ritmo, ou �zer com que
abandone a última atividade prevista no seu plano de aula, é certo que
você não fará isso. Mas se pudesse fazer uma avaliação em 30 segundos,
poderia. Então, uma das chaves para substituir o autorrelato por
perguntas direcionadas é fazê-lo rapidamente – de preferência, em
menos de um minuto. Se (e somente se) puder fazer rápido,
provavelmente fará com frequência. Portanto, mesmo que produza
dados imperfeitos, procure reunir o que puder por meio das melhores
perguntas que pode planejar em um minuto ou menos. Você pode usar
o tempo restante para revisar, se for preciso.
Fazer perguntas direcionadas pode ser tão valioso para avaliar a
compreensão das tarefas que os alunos estão prestes a fazer quanto para
avaliar a compreensão do conteúdo que você acabou de ensinar. Se os
alunos estiverem para iniciar oito minutos de trabalho isoladamente ou
em grupo, é muito bom fazer algumas perguntas direcionadas sobre a
tarefa para que você não descubra no meio do caminho que eles não
sabiam muito bem como escrever suas notas de discussão ou que
teriam que escrevê-las. De um modo geral, quanto mais longa for a
tarefa que os alunos irão iniciar, mais importante é avaliar sua clareza
sobre a tarefa com antecedência, por meio de perguntas direcionadas.
Recentemente, observei uma aula em que uma professora queria que
seus alunos lessem um texto, anotando frases e termos que eram
intencionalmente repetitivos e acompanhassem as mudanças em quem
era o público implícito. Eles deveriam trabalhar sozinhos por cinco
minutos e depois discutir com um colega.
Antes de pedir que os alunos começassem essa tarefa, fez perguntas
direcionadas para revisão. Demorou cerca de 20 segundos, e ela usou o
De surpresa para garantir que não estaria chamando apenas as crianças
que achavam que sabiam:
Professora: Nelson, diga-me as duas coisas que eu quero que você
procure enquanto estiver lendo isso.
Nelson: Repetição e mudanças no público implícito.
Professora: Bom, e Tina, o que você deve fazer quando encontrar
exemplos de repetição?
Tina: Grifá-los no texto.
Professora: Sim. Muito bom. E Gary, este é um trabalho em grupo ou
individual?
Gary: Primeiro sozinhos, depois de cinco minutos, trabalhamos com
um colega.
Professora: Perfeito. Podem começar.
Seria muito fácil haver uma parte da classe partindo com seriedade,
mas fazendo a tarefa errada! Dez minutos gastos em uma tarefa para 30
alunos são cinco horas de tempo de aprendizado alocadas com um único
conjunto de instruções! Substituir “Todos entenderam o que vão
fazer?” por perguntas direcionadas é um investimento inteligente.
É fundamental lembrar que o objetivo das perguntas direcionadas
não é ser abrangente, mas criar uma pequena amostra de dados onde
anteriormente não existiam dados. Muitas vezes, é melhor ser rápido e
trazer dados para vários lugares em sua aula do que ser abrangente e
exaustivo, mas avaliar com pouca frequência.
Você pode estar se perguntando se isso signi�ca que você está
fazendo algo errado se ocasionalmente ainda perguntar aos alunos:
“Entenderam?” ou “Isso �cou claro para todos?”. Não se preocupe. Não
há motivo para ser absolutista. Você certamente dirá essas frases
algumas vezes (eu sei que sim). É quase impossível erradicar hábitos
retóricos familiares e, se acontecer, a autoconsciência necessária pode
ser uma distração. O importante é reconhecer com que frequência
usamos o autorrelato e quanta ilusão ele cria. Quando usa essas frases,
está dizendo a si: cheguei a um ponto de transição natural em que devo
veri�car se os alunos estão entendendo. Esperemos que, no geral, essa
consciência possa ser resolutiva.
O vídeo Gabby Woolf: Jekyll e Hyde mostra uma interessante
adaptação da técnica Substitua o autorrelato. Se você não conhece, o
romance de Robert Louis Stevenson, pode ser uma leitura desa�adora.
Por exemplo, a passagem em que Gabby estava lendo com sua turma do
10o ano na King Solomon Academy de Londres começa assim: “Quase
um ano depois, no mês de outubro, dia 18, Londres foi surpreendida
por um crime de ferocidade singular e que se tornou ainda mais
notável pela alta posição da vítima. Os detalhes eram poucos e
surpreendentes”.
Gabby e seus alunos leram a passagem em voz alta – você pode ouvi-
los fazendo um ótimo trabalho na Leitura em FASE no vídeo Gabby
Woolf: Pedra Angular. Por causa de sua complexidade, Gabby fez uma
pausa após a leitura e disse à turma que queria “veri�car se
entenderam”. Então ela planejou uma série de pequenas perguntas
direcionadas no quadro e deu aos alunos um minuto ou mais para
pensar nas respostas em pares. As perguntas eram diretas e projetadas
para produzir respostas curtas, que revelassem rapidamente a
compreensão do aluno (ou a falta dela):
“Em que mês ocorreu o assassinato?”
“Por que Londres �cou particularmente surpreendida com a vítima?”
“Quem viu o assassinato?”
“De onde ela viu o assassinato?”
“Quem é o assassino?”
Gabby queria garantir que, apesar da sintaxe arcaica, como
“ferocidade singular” e “se tornou ainda mais notável”, eles tivessem
compreendido os detalhes críticos do que tinha acontecido.
Você pode vê-la analisando essas respostas com os alunos no vídeo.
Observe seu tom acolhedor e ritmo acelerado. Seu constante
encorajamento – “OK, bom” – e a maneira como a técnica De surpresa
mantém o ritmo em movimento e permite que ela apanhe uma seção
transversal de alunos. Ela também diminui um pouco o ritmo de seu
discurso para sugerir um tom um pouco mais re�exivo quando faz a
transição: “Bom, então temos uma ideia do que aconteceu. Agora
vamos voltar para esta pergunta: como Stevenson sensacionaliza o
assassinato?”.
Se Gabby tivesse feito essa pergunta sem primeiro veri�car a
compreensão, os alunos poderiam ter se envolvido na análise ainda
confusos com relação aos fatos básicos. Mas suas perguntas, planejadas
com antecedência para conseguir precisão e rapidez, permitem que ela
garanta que os alunos estejam
,prontos para uma discussão mais
profunda. A revisão em pares antes de suas perguntas também tem o
efeito de permitir que os alunos mantenham as respostas mais
�rmemente na memória. Seu tom é caloroso, e seu ritmo, rápido, para
conseguir fazer tudo em cerca de um minuto.
TÉCNICA 7: PRÁTICA DA RECUPERAÇÃO
O esquecimento é um problema constante em quase todos os
ambientes que envolvem aprendizado – tão comum e generalizado que
quase o ignoramos. Horas depois de demonstrar sua compreensão da
justaposição em Romeu e Julieta ou como encontrar a área de um
polígono irregular, os alunos podem lembrar apenas de uma fração
desse conhecimento. Em poucos dias, eles podem ter esquecido a maior
parte dele. Esse fato simples, embora frequentemente ignorado, é uma
das considerações mais importantes no ensino: uma vez que os alunos
aprenderam algo, eles rapidamente começam a esquecê-lo.
Provavelmente, você já deve ter visto isso acontecer em sua própria
sala de aula. Na terça-feira, você está con�ante na habilidade e no
conhecimento de seus alunos. Eles estão certos sobre o quê, por quê e
como. Porém, quando você os avalia uma semana e meia depois, é
como se a lição de terça-feira nunca tivesse acontecido. Rodrigo tinha
resolvido cinco problemas complexos de área com facilidade, mas
agora você vê que ele errou até mesmo problemas mais simples.
No entanto, existe um lado positivo nesse desa�o persistente. O
processo de esquecimento contém as sem*ntes de sua própria solução.
Se pedir aos alunos que se lembrem do que aprenderam ontem sobre a
área de polígonos ou a justaposição em Romeu e Julieta, eles se
esforçarão para lembrar. Se conseguirem, essa luta consolidará mais
profundamente o material em suas memórias de longo prazo. Eles vão
se lembrar um pouco mais e esquecer um pouco menos rapidamente.
A Prática da recuperação, processo de fazer com que os alunos se
lembrem de informações que aprenderam após um período estratégico,
é uma solução prática para o problema do esquecimento. Se você
representar gra�camente o processo de Prática da recuperação, terá o
grá�co a seguir, com cada repetição ao longo do eixo superior sendo
uma iteração da Prática da recuperação, e as porcentagens no eixo y
representando o quanto de um determinado corpo de conteúdo os
alunos se lembram.
Esta ilustração é um exemplo do que é chamado de Curva do
Esquecimento.1 Ela representa a natureza do esquecimento como os
psicólogos educacionais o compreendem. No ponto 1, no �nal de sua
aula, os alunos adquiriram uma certa quantidade de conhecimento e
habilidades. Mas assim que o sinal toca, o esquecimento começa. E o
esquecimento é um inimigo implacável. Mesmo alguns minutos depois,
alguns dos detalhes �carão confusos. No dia seguinte, os alunos terão
esquecido ainda mais – possivelmente mais da metade do que
aprenderam. Se não forem tomadas medidas para impedir esse
processo, eles podem perder a maior parte do que sabiam. Na curva, o
processo de esquecimento não controlado é representado pela linha A.
O ponto 2, no entanto, representa o que acontece quando você volta
ao conteúdo e o revisa. Talvez isso aconteça no dia seguinte. Quando
você faz isso, o conhecimento dos alunos é recuperado na memória de
trabalho. Tendo feito isso, o conhecimento deles sobre o assunto
retorna aproximadamente ao nível em que estava no �nal da lição
original.
É claro que, após essa revisão, o esquecimento recomeça. O que os
alunos sabem novamente começa a escapar. A segunda linha inclinada
para baixo (B) captura isso. Mas a taxa de esquecimento é mais lenta
agora, e a linha começa a se achatar mais cedo, o que sugere que mais
coisas permanecem na memória de longo prazo. Se você revisar
novamente, o conhecimento será atualizado, e o esquecimento será
retomado imediatamente depois (representado pela linha C), mas
novamente a taxa será ainda mais lenta, e o piso (quantidade total de
conhecimento retido) será ainda mais elevado.
Como os psicólogos cognitivos Paul Kirschner, John Sweller e
Richard Clark escrevem: “O objetivo de todo o ensino é alterar a
memória de longo prazo. Se nada mudou na memória de longo prazo,
nada foi aprendido.2 Se gastássemos uma hora estudando os sistemas
do corpo humano apenas para que os alunos o esquecessem – um dia
depois, uma semana depois, um mês depois –, a lição poderia ter sido
interessante e envolvente, mas os alunos teriam aprendido muito
pouco. Mesmo as discussões mais profundas e intensas correm o risco
de evaporar como se fossem para o éter. Como Harry Fletcher Wood
coloca: “O desempenho do aluno enquanto está sendo ensinado é um
indicador ruim do aprendizado duradouro”. Por todos os meios
possíveis, temos que veri�car a compreensão no �nal de uma lição. Mas
só porque os alunos parecem saber algo no �nal dessa hora não
signi�ca que eles saberão em uma semana, um mês ou um ano. Se
queremos um aprendizado duradouro, temos que colocar as coisas na
memória de longo prazo, e a prática da recuperação é a melhor maneira
de fazer isso.
Uma vez que o conceito de Prática da recuperação é discutido em
toda a psicologia cognitiva em diversos contextos, o que se segue é uma
útil “de�nição para o professor”.
A Prática da recuperação ocorre quando os alunos lembram e aplicam
vários exemplos de conhecimentos ou habilidades aprendidas
anteriormente depois de um período de esquecimento. Esta de�nição
sugere duas coisas principais. Primeiro: intencionalidade. Você pode
dizer: “Ah, perguntar às crianças sobre conceitos que aprendemos
anteriormente? Eu faço isso o tempo todo”, mas o que estamos falando
aqui é mais do que simplesmente uma revisão episódica ocasional –
“Lembra como falamos sobre justaposição quando lemos Romeu e
Julieta?”. É o uso estratégico da recapitulação, de forma sistemática e
regular. Isso pode até signi�car que a Prática da recuperação se torna
uma parte discreta de suas aulas, uma parte do tempo que você reserva
com o objetivo explícito de fazer com que os alunos se lembrem de
coisas importantes de formas estratégicas, provavelmente usando
ferramentas como a chamada De surpresa e Todos juntos, para garantir
que cada aluno recupere as informações necessárias. A recapitulação
nessas ocasiões não precisa ser simplista ou mecânica. Algum desa�o
pode ser bené�co; portanto, mudar o formato ou pedir que os alunos
apliquem os conceitos de novas maneiras provavelmente ajudará.
Em segundo lugar, a de�nição sugere atraso estratégico. Na Curva do
Esquecimento, observe que o atraso entre as rodadas de recapitulação
aumenta ligeiramente a cada iteração. Aumentar gradualmente os
intervalos entre as rodadas de recapitulação ajuda a memória, porque o
melhor momento para lembrar de algo é quando você começa a
esquecê-lo, e a taxa de nosso esquecimento está mudando
constantemente. No mínimo, uma olhada na Curva do Esquecimento
deve con�rmar que é quase impossível dominar um conceito de forma
duradoura em uma única lição.3
Algumas pessoas talvez pensem na Prática da recuperação como uma
receita para mera memorização mecânica, mas não é bem assim. A
recapitulação é uma oportunidade para o que Brown, Roediger e
McDaniel chamam de “elaboração”: conectar uma ideia a outras ideias,
re�etir sobre ela e expandi-la à medida que você a revisa. Na verdade, a
elaboração ajuda na recapitulação.4 Quando um conceito está
conectado a outras ideias relacionadas e quando os alunos podem
descrevê-lo de maneiras diferentes, ele se torna mais poderoso. Então
você pode, ao revisar a justaposição, pedir deliberadamente por
elaboração. “Asha, o que é justaposição? Darius, cite um exemplo tirado
de Romeu e Julieta. Katie, cite algum outro exemplo. Roberto,
lembrando de outro texto que já lemos, qual seria outro exemplo de
dois personagens que se justapõem? Bom, e Kyra, em suas próprias
palavras, por que um autor usaria justaposição?”. A elaboração, fazendo
com que os alunos expliquem e coloquem em novas palavras, para
fazer conexões, aumenta seu conhecimento sobre o conceito e a
probabilidade de que se lembrem dele quando precisarem.
A primeira
,metade do vídeo Christine Torres: Pedra Angular é um
ótimo exemplo de outras maneiras de fazer a Prática da recuperação
funcionar. Christine está revisando as palavras do vocabulário com os
alunos. Observe a riqueza das perguntas que ela faz. As perguntas da
Prática da recuperação não precisam ser simples recordações. Christine
pede que seus alunos apliquem as palavras do vocabulário que estão
aprendendo de maneiras diferentes e em novas situações. Isso é
importante, porque as palavras funcionam de maneira diferente em
diferentes situações. Para realmente entender uma palavra, você deseja
que os alunos a encontrem constantemente em todas as suas variações
de signi�cado. Christine pede aos alunos que se lembrem da de�nição,
mas também que apliquem a palavra de maneiras desa�adoras e
interessantes. Essa é uma recapitulação simples e mais elaborada.
Christine garante que todos os alunos se esforcem em quase todas as
perguntas. Ela usa o método Virem e conversem (ver técnica 43). Para a
Prática da recuperação, não podemos simplesmente pegar as mãos de
voluntários ou deixar algumas crianças bastante comunicativas
gritarem respostas. Precisamos fazer com que todos lembrem e
apliquem o conceito.
Curiosamente, o período de atraso entre o aprendizado inicial e a
recapitulação é curto na sala de aula de Christine. Ela sabe que o
esquecimento começa imediatamente. Com conceitos desa�adores e
potencialmente confusos, especialmente, nunca é cedo demais para
começar a recuperar imediatamente. Assim, embora os alunos tenham
aprendido o signi�cado das palavras apenas alguns minutos atrás,
Christine já está tentando colocá-las na memória de longo prazo. Ela
certamente fará o acompanhamento no dia seguinte e/ou alguns dias
depois – e novamente alguns dias depois –, com perguntas mais
divertidas e envolventes para recuperar e aplicar o conhecimento das
palavras do vocabulário dos alunos. Ela também inclui frequentemente
palavras de vocabulário já aprendidas quando está recuperando novas
palavras. Dessa forma, eles terão profundidade e riqueza de
compreensão das palavras na memória de longo prazo.
Na Prática da recuperação não importa só o fato de que mais do
material original permanece na memória de longo prazo, mas também
que o conhecimento que está lá é mais fácil para os alunos lembrarem.
Após três rodadas de revisão, os caminhos neurais de volta às
discussões sobre justaposição em Romeu e Julieta, por exemplo, estão
bem desgastados. Quando os alunos se deparam com um exemplo de
justaposição em algum outro texto que estão lendo, os exemplos de
Shakespeare logo vêm à mente. Eles formarão conexões. Em outras
palavras, a recapitulação mais fácil leva a mais do que apenas conhecer
os fatos. Ter vários modelos de justaposição que vêm fácil e
naturalmente à mente torna-se um esquema – um corpo de
conhecimento conectado que se torna familiar o su�ciente para que as
pessoas possam usá-lo rápida e facilmente para processar informações
com o mínimo de carga na memória de trabalho, enquanto interagem
com o mundo ao seu redor. O conhecimento adquirido dessa maneira
– codi�cado na memória de longo prazo e facilmente acessado – ajuda
os alunos a perceber e entender mais. Essa é uma das principais razões
pelas quais psicólogos educacionais como Daniel Willingham sugerem
que o conhecimento facilmente acessado na memória de longo prazo é
a chave para o pensamento de ordem superior.5 A melhor forma de
maximizar a capacidade da memória de trabalho para o pensamento de
ordem superior, conforme discutimos no Capítulo 1, é dar ao aluno
acesso a muitas ideias na memória de longo prazo a que ele possa
recorrer.6
Você pode ver alguns benefícios inesperados da Prática da
recuperação no vídeo Lauren Moyle: Crânio. Lauren aqui está pedindo a
seus alunos do 1º ano que recuperem na memória ativa os principais
detalhes sobre o corpo humano. O cérebro é um órgão essencial, que
controla nossa tomada de decisão. Está envolvido em um osso chamado
crânio. O coração é uma bomba que distribui sangue para o corpo,
como um motor. Você pode vê-los relembrando as partes desse
conteúdo de diferentes maneiras: como se chama, por que se chama
assim, o que ele faz? Cada criança está envolvida com a tarefa.
É interessante que esse vídeo tem cerca de 10 anos e só recentemente
passei a entendê-lo! Costumávamos mostrá-lo em o�cinas, inspirados
pelo ensino dinâmico de Lauren – o questionamento que promovia
mãos ansiosas apoiadas pelo uso da chamada De surpresa e de Sem
escapatória, garantindo assim responsabilização e engajamento.
Estávamos focados em como Lauren ensinava e não passamos muito
tempo pensando no valor do que ela estava fazendo. Na verdade,
ironicamente, quando o que ela estava ensinando aparecia em
discussões em o�cinas, muitas vezes eu me pegava pedindo desculpas
por isso. Os participantes ocasionalmente notavam que ela estava
apenas relembrando fatos, a frase implicando que não estava havendo
muito ensino substancial. Paramos de mostrar o vídeo completamente.
Agora posso ver muito mais claramente que o que Lauren está
fazendo é pelo menos tão valioso quanto como ela está fazendo. As
futuras discussões em sua aula serão mais ricas e baseadas em
conhecimento sólido em decorrência do que ela faz aqui. A outra coisa
inesperada que o vídeo mostra é o quanto os alunos tendem a gostar da
Prática da recuperação. Os alunos de Lauren estão ansiosos, felizes e
con�antes. Os professores às vezes presumem que os fatos são chatos
para os alunos e, portanto, concentrar-se na Prática da recuperação
tornará suas aulas monótonas, mas geralmente ocorre o oposto. Os
alunos que conhecem seu material estão orgulhosos de conhecê-lo e
ansiosos para usá-lo. À medida que começam, veem exemplos do que
sabem em cada vez mais lugares, sua con�ança aumenta, muitas vezes
transferindo-se para tarefas mais complicadas, em que são solicitados a
praticar esses fatos.
Vou encerrar a discussão da Prática da recuperação compartilhando
um vídeo, Montagem: Prática da recuperação, de vários professores
empregando o conceito de diferentes maneiras. Os alunos da AP U.S.
History de Art Worrell se levantam para responder suas perguntas de
recapitulação. Essa é uma parte regular e intencional do dia, e a
importância da Prática da recuperação é transparente para os alunos,
até mesmo em seus próprios estudos! A arte novamente enfraquece a
ideia de que as perguntas da Prática da recuperação precisam ser
simples. Ele pergunta a Tarik o que foi o Compromisso de 1877, mas
também por que ele foi importante. Ele então pede a Kamari para
explicar melhor a resposta de Tarik. Como mostra a resposta de
Kamari, é um conhecimento amplo, não apenas fatos limitados, que
eles estão relembrando.
Annette Ri�e usa a Prática da recuperação em sua aula de
matemática do ensino médio para fazer o uso ideal do que poderia ser
um tempo de inatividade – um aluno está no quadro modelando um
problema e, em vez de permitir que todos os outros se sentem
passivamente, ela os incentiva com perguntas relevantes sobre
geometria coordenada.
O uso da Prática da recuperação por Barry Smith em sua aula de
francês mostra duas coisas: primeiro, uma série de maneiras de se
envolver – De surpresa, Todos juntos, mãos levantadas; além disso, o
conteúdo segue em duas direções. Barry pede a seus alunos que passem
do francês para o inglês e do inglês para o francês. Professores de outras
matérias podem pensar em nomear um conceito e pedir aos alunos que
o descrevam e depois inverter o processo: descrever um conceito e
pedir aos alunos que o nomeiem, perguntando, por exemplo, “O que é
hipérbole?”, “Como se chama quando os autores exageram na sua
expressão intencionalmente para reforçar algo?” e talvez até “Se eu
disser que tenho um milhão de coisas para fazer hoje, que �gura de
linguagem estou usando?”. Tudo isso fortalece o caminho neural.
Por �m, Alonte Johnson nos lembra em sua aula de literatura de que
podemos pedir aos alunos que recuperem uma gama completa de tipos
de conteúdo: enredo, personagem, conhecimento prévio
,e até mesmo
temas.
TÉCNICA 8: PADRONIZE O FORMATO
Embora fazer perguntas aos alunos seja uma ótima ferramenta para
veri�car a compreensão, a coleta de dados por meio da observação é
sem dúvida ainda mais e�caz, quando você puder usá-la. Um grande
benefício de con�ar na observação para avaliar a compreensão do
aluno é que ela permite que você responda rapidamente a ideias mais
complexas em mais formatos do que você pode avaliar apenas por meio
de perguntas. Outro benefício é que você pode “processar em paralelo”,
veri�car a compreensão enquanto os alunos estão trabalhando. Por
exemplo, pode observar rapidamente a qualidade dos parágrafos da
redação de seus alunos enquanto eles os escrevem.
Mas a maior vantagem da coleta de dados por meio da observação é a
sua e�ciência. Bem feita, ela permite coletar dados com rapidez e sobre
todos. Isso é importante porque a coleta de dados no meio da instrução
quase sempre está sujeita a restrições de tempo signi�cativas. Digamos
que você passe alguns trabalhos independentes aos alunos por cinco
minutos. No momento em que você permite que os alunos comecem a
responder suas perguntas e veri�ca se todos começaram, pode ter três
minutos para avaliar 30 alunos – seis segundos por aluno, em média.
Muitos professores podem avaliar com sucesso 10 alunos nesse
período, mas, se você puder coletar informações duas vezes mais rápido
com metade das distrações, de repente se tornará capaz de avaliar e
responder aos alunos em situações em que antes não conseguiria. De
repente, seis minutos são su�cientes. Em alguns casos, dois ou três
minutos podem ser úteis. Se você maximizar o uso e�ciente da coleta
de dados, também aumentará os horários e locais em que poderá usá-
los sem ter que refazer suas aulas. Você se torna capaz de avaliar o que
acontece durante partes de sua aula que, de outra forma, não seriam
monitoradas.
Assim, mesmo que a princípio a e�ciência possa parecer uma das
palavras menos atraentes no ensino, ela acaba sendo fundamental para
muitas das coisas mais importantes que diferenciam boas atividades de
outras.
A técnica Padronize o formato trata da simpli�cação da coleta de
dados, tornando sua observação mais e�ciente e precisa. Signi�ca
elaborar materiais e espaço para que você procure previsivelmente –
sempre no mesmo lugar, de forma consistente – os dados de que
precisa. Por exemplo, você pode pedir que o trabalho seja mostrado na
margem de uma página especí�ca dos livros de seus alunos, ou que os
alunos circulem sua resposta �nal para um conjunto de problemas. Ou
então, no começo da aula, você pode dar aos alunos um “pacote” (veja a
técnica 4, Planeje em dobro) para fazer os principais aspectos de seu
trabalho naquele dia e incluir locais prede�nidos, claramente visíveis,
para escrever ou fazer anotações.
Os seguintes detalhes dos pacotes de lições do Currículo de Leitura
Reconsiderado, que eu e nossa equipe escrevemos, oferecem alguns
exemplos de como materiais cuidadosamente projetados podem
organizar o espaço onde os alunos trabalham para facilitar a
observação e a avaliação.
Algumas observações sobre os exemplos:
No exemplo 1, o uso de um grá�co ajuda os alunos a acompanhar
seu progresso e garantir que responderão a todas as partes de uma
pergunta complicada (três perguntas sobre dois trechos diferentes).
Permite que o professor faça isso também e veja rapidamente o
progresso dos alunos, diferenciando em qual parte da tarefa os
alunos estão com di�culdades (provavelmente porque estão
deixando em branco, escrevendo menos ou fazendo por último).
No exemplo 2, dividir a tarefa em partes “a, b e c” novamente
permite que o professor veri�que a compreensão em componentes
individuais e avalie rapidamente onde os alunos estão no processo
do ponto de vista do ritmo, mas aqui o uso de linhas reforça o uso
de frases completas versus notas informais na resposta.
No exemplo 3, a estrutura em andaimes separa os diferentes
elementos sobre os quais os alunos devem re�etir sem ser muito
estruturado ou conducente (ou pedindo mais redação do que o
necessário). O exemplo também permite que os alunos aprendam a
fazer anotações organizadas.
Além de permitir encontrar respostas (ou as principais etapas no
processo de trabalho) com mais rapidez, a técnica Padronize o formato
permite que você atrapalhe menos os alunos. Você não gastará tempo
folheando o trabalho deles ou pedindo que o ajudem a encontrar
respostas, e isso permitirá que se concentrem. Mais importante ainda é
que em vez de gastar energia (e usar sua própria memória de trabalho)
localizando respostas, você pode identi�car e avaliar tendências entre
os trabalhos de seus alunos e identi�car exemplos para compartilhar
com a turma. A simpli�cação das tarefas de pesquisa reduz a carga
cognitiva estranha. Quanto mais consistente a aparência e a localização
dos dados, mais poderá se concentrar no que eles estão dizendo. Você
percebe com mais precisão, lembra mais do que vê e pensa de forma
mais produtiva sobre isso.
Há alguns benefícios relacionais surpreendentes em toda essa
“e�ciência” e “produtividade”, e um exemplo deles pode ser encontrado
no vídeo Nicole Warren: Pedra Angular. Conforme ela circula e observa
durante os últimos minutos do vídeo, você pode notar as belas
conexões que ela faz com os alunos. Há sinceros incentivos e
agradecimentos. Esses pequenos momentos de construção de
relacionamento certamente são algo que a maioria de nós busca, por
isso é importante observar que eles decorrem em parte da facilidade
com que ela consegue encontrar o que procura no trabalho de cada
aluno. A facilidade a deixa tranquila e con�ante. Com sua memória de
trabalho apenas levemente sobrecarregada pelo custo da busca, sua
mente está livre para pensar em cada aluno por vez enquanto percorre
a sala, e toda sua atenção e seu acolhimento podem ser demonstrados.
Existem outras maneiras de continuar a priorizar seu foco no
conteúdo do trabalho do aluno, Padronizar o formato ainda mais. Além
de orientar os alunos a responderem no mesmo espaço, você também
pode pedir que eles destaquem as peças-chave da resposta que você
procura enquanto circula. “Façam um contorno na equação que
usaram para calcular a soma” ou “Sublinhe o aposto que você incluiu
na sua tese”. Essas instruções adicionais não apenas facilitam o foco no
aspecto mais importante do trabalho do aluno quando o tempo é
essencial, mas também aumentam a conscientização do aluno sobre a
variável mais importante a ser incluída em seu trabalho. Fazer um
contorno no resto da divisão ou circular os verbos ativos na frase do
seu tópico ajuda os alunos a se concentrarem e a saberem o que
priorizar.
Minha equipe e eu recentemente tentamos usar a técnica Padronize o
formato em uma o�cina de veri�cação da compreensão. O tópico era
“Rejeite o autorrelato”, e a atividade era uma série de estudos de caso:
seis transcrições de situações em sala de aula em que um professor
inicialmente se baseou no autorrelato do aluno para avaliar sua
compreensão. Os professores da o�cina deveriam reescrever casos,
roteirizando suas perguntas para melhor coletar dados sobre a
compreensão do aluno em vez de autorrelato. Os participantes teriam
que completar diversos cenários ao longo de alguns minutos. Na parte
inferior havia uma seção adicional onde as pessoas eram solicitadas a
identi�car e reescrever um caso a partir da sua própria experiência. A
página que fornecemos era parecida com a da Figura 3.1.
A�rmações de autorrelato Reescrito para o Rejeite o autorrelato
Exemplo 1:
Professor: um “polígono regular” é uma forma
bidimensional com todos os lados iguais e todos
os ângulos iguais. Entendeu?
Aluno: Sim.
Exemplo 2:
Professor: desaprovar e contemplar são
semelhantes porque ambos signi�cam que você
está olhando para alguém ou algo –
normalmente por um longo tempo. Eles são
diferentes porque, quando você desaprova, está
olhando para algo que não gosta e, quando
contempla, está olhando com grande interesse
ou espanto. Desaprovar tem uma carga negativa,
enquanto contemplar tem uma
,carga positiva.
Entenderam?
Alunos: Sim.
Figura 3.1 Miniestudos de caso sobre Rejeite o autorrelato
À medida que minha equipe e eu circulamos, pudemos veri�car o
seguinte de maneira rápida e fácil:
A rapidez com que as pessoas trabalhavam e quantos cenários haviam
concluído. Isso nos permitiu tomar uma decisão simples, mas
fundamental: quanto tempo devemos alocar para a atividade? As
pessoas precisaram de mais tempo?
Quais cenários as pessoas escolheram para trabalhar. Ficou claro de
relance qual dos cenários eles escolheram reescrever. Cada um estava
em sua própria caixa ocupando cerca de um quarto de página. Eu
consegui identi�car quais tópicos as pessoas achavam interessantes e
gostariam de debater durante a discussão pós-atividade. Isso também
nos ajudou a escrever cenários para o�cinas futuras. Se pouquíssimas
pessoas escolhessem o exemplo 5, por exemplo, poderíamos
substituí-lo.
Que boas ideias e mal-entendidos comuns poderíamos falar durante os
questionamentos. Foi fácil para mim procurar mais evidências de algo
especí�co. Por exemplo, se eu visse algo intrigante na resposta de um
participante ao exemplo 3 e quisesse saber se era típico, era 10 vezes
mais fácil para mim rastrear as respostas de outras pessoas a esse
exemplo.
Também foi fácil examinar até a pergunta �nal e diferenciar essas
respostas. Ou seja, eu queria olhar de forma diferente para o cenário de
sua própria experiência para ter uma noção rápida dos tipos de
situações que eles consideravam aplicáveis. Isso foi fácil, porque a
resposta que eu queria analisar mais de perto estava localizada no
mesmo lugar no papel de cada participante. Eu poderia encontrá-la e
distingui-la em um instante.
As pessoas trabalharam por três ou quatro minutos, e a sala tinha
cerca de 120 pessoas. Ao �nal desse período, eu tinha uma boa noção
de quais eram os pontos fortes e as lacunas na compreensão,
principalmente graças a uma decisão de projeto aparentemente
mundana. O simples uso da técnica Padronize o formato de uma
maneira muito simples alavancou minha capacidade de entender o que
estava acontecendo na sala.
TÉCNICA 9: OBSERVAÇÃO ATIVA
Esta é uma observação simples sobre o ensino: o que estamos vendo
enquanto nossos alunos estão trabalhando é um �uxo de dados. Mas na
verdade são duas a�rmações ao mesmo tempo. A primeira – que são os
dados que estamos analisando – nos diz que isso contém as sem*ntes
do insight se pensarmos analiticamente e propositalmente a respeito
disso. A segunda – que é um �uxo – nos diz que a informação pode
chegar até nós de modo rápido e impetuoso: muitas vezes haverá muita
coisa para compreendermos de uma vez, ou mesmo para lembrarmos.
Felizmente, fazer algumas pequenas mudanças no que você faz durante
e antes de observar o trabalho dos alunos pode ajudar a entender
melhor o �uxo de dados.
A primeira mudança é rastrear o que vê na escrita. Con�ra Denarius
Frazier fazendo isso no vídeo Denarius Frazier: Resto, que você assistiu
no início do capítulo. Ele está carregando uma prancheta e, enquanto se
anda pela sala, faz pequenas anotações – sobre um tipo consistente de
erro que está vendo ou sobre alunos que podem fornecer exemplos
fortes ou que precisarão de apoio extra. Apenas este movimento
simples já é um divisor de águas.
É um engano pensar que vamos circular pela sala fazendo “anotações
mentais” sobre o trabalho de 30 alunos em dois problemas com quatro
etapas cada, fazendo algumas perguntas e oferecendo incentivos
ocasionais, e ainda conseguir lembrar qual foi o erro mais comum,
quais alunos e onde se esforçaram mais. A memória de trabalho é
curta. Até mesmo as menores distrações nos fazem esquecer o que
estamos tentando lembrar e, em um ambiente tão complexo quanto
uma sala de aula, a memória de trabalho �ca rapidamente
sobrecarregada. Em tal cenário, não há realmente um modo de fazer
anotações mentais.
Denarius, porém, é capaz de dar feedback individualizado a cada
aluno, observar seu progresso e, ao mesmo tempo, discernir o erro
comum ou o tópico mais relevante para intervenção. “Muito melhor”,
diz ele a uma aluna, enquanto circula pela sala. Pense nisso. Ele se
lembra de como ela se saiu em um problema semelhante no início do
dia ou talvez no dia anterior e diz a ela que conseguiu ver a diferença
em seu trabalho. Ele é capaz de fazer isso porque, ao rastrear os dados
sobre o desempenho dos alunos, envolve-se mais ativamente com eles
e, portanto, lembra-se deles. Com suas observações escritas, pode
revisar as anotações após uma aula ou antes da próxima. Quando você
coloca suas observações no papel, cria um registro permanente,
aumenta a quantidade de lembranças e libera sua memória de trabalho
para perceber mais. O resultado é que Denarius se lembra de como sua
aluna se saiu ontem e pode notar seu progresso hoje. Poderia haver
uma a�rmação mais forte do fato de que ele acredita que o progresso
dela é importante?
Mais do que apenas escrever as coisas, a Observação ativa signi�ca
decidir intencionalmente o que procurar e manter a disciplina na busca
do que você priorizou. Sabemos, pela psicologia cognitiva, que a
observação é subjetiva e não con�ável; não perceberemos o que é mais
importante, a menos que nos preparemos para focar e procurar por
isso. Também estamos inclinados a pensar que procurar mais coisas é
melhor do que prestar atenção a menos coisas, mas geralmente esse não
é o caso na sala de aula.
Em um dos meus primeiros trabalhos de ensino, um mentor me
aconselhou a caminhar pela sala quando meus alunos estivessem
fazendo um trabalho individual. Foi um ótimo conselho. Andar de um
lado para o outro e dar uma olhada no que os alunos estavam fazendo
encorajava-os a fazer seu melhor trabalho, porque minhas ações
sugeriam que eu me importava com o que eles estavam escrevendo,
estava interessado em suas ideias e sabia o quanto eles estavam
trabalhando. No entanto, eu poderia fazer muito mais para tirar o
máximo proveito dessa caminhada pela sala.
Por um lado, embora eu acreditasse que era muito observador,
provavelmente não era. Normalmente eu olhava de forma passiva,
esperando ser confrontado por observações espontâneas sobre o que os
alunos estavam fazendo. Isso às vezes pode ser útil, mas signi�cava que
eu estava propenso à cegueira por desatenção – não vendo o que estava
claramente diante de mim –, por exemplo, que os alunos não
conseguiam fazer a tarefa que eu havia designado. O que notei foi
muitas vezes um evento aleatório. Quando dei feedback aos alunos
talvez tenha sido de forma acidental. Se em um dia qualquer houvesse
10 coisas realmente importantes para dizer sobre o que os alunos
estavam escrevendo, eu conseguiria notar poucas delas. O custo foi que
eu não estava falando sobre os outros tópicos de forma consistente – às
vezes, de forma alguma.
Sem um propósito real para o que eu procurava, às vezes me permitia
�car mais passivo. Realmente não estava olhando com tanto cuidado.
Eu imitava as ações de um professor cuidadosamente observador,
balançando a cabeça em aprovação e apertando os olhos como se
estivesse com grande interesse, mas minha mente vagava.
Muitas vezes eu procurava principalmente veri�car se meus alunos
pareciam estar trabalhando duro. Suas frases de tópico eram ruins e, no
entanto, eu passava direto, porque seus lápis estavam rabiscando.
Geralmente, o esforço é uma coisa boa, mas não garante o aprendizado.
“Nunca confunda atividade com realização”, aconselhou o treinador e
professor John Wooden. Só porque os alunos estão trabalhando duro
em uma tarefa não signi�ca que eles estão aprendendo com ela. É
preciso observar mais atentamente para compreender se estão fazendo
progresso real. Eles estavam usando verbos de ação adequados
enquanto escreviam? Eles conseguiam citar evidências direta e
indiretamente?
Compare minha observação bem-intencionada, mas principalmente
abaixo da média, com a deliberação que vemos no vídeo Julia Addeo:
Binômios. Como Denarius, ela está carregando uma página de
anotações enquanto percorre a sala. Ela explicou o que havia nela.
,“Meu ‘gabarito’ re�ete exatamente o que os alunos devem ter em seu
papel, incluindo a pergunta, o trabalho que eles devem mostrar e a
resposta correta, destacada”, Julia me disse. “Deixo um espaço ao lado
para fazer veri�cações e anotações enquanto acompanho a sala de aula.
Mantenho um registro de como os alunos se saíram ou as iniciais dos
nomes que sei que quero para o Mostre o texto ou a chamada De
surpresa.
Conforme observa, ela rapidamente percebe que os alunos estão indo
bem com o problema número 1. Ela não precisará mais do que uma
rápida revisão depois para reforçar o vocabulário técnico. Mas suas
observações revelam que há algo acontecendo no problema 2. Você
pode vê-la marcando suas anotações com detalhes sobre os erros que os
alunos estão cometendo. Então ela literalmente dá um passo para trás,
revisando os dados e tomando uma decisão sobre como prosseguir –
como aquele aceno decisivo de sua cabeça por cerca de 37 segundos
revela.
O rastreamento dos dados por escrito liberou sua memória de
trabalho. Em vez de apenas tentar lembrar o que viu, agora ela pode se
concentrar em analisar o que os alunos estão fazendo. Seu uso da
Observação ativa permite que ela mais tarde faça a chamada De
surpresa dos alunos que sabe que contribuirão com explicações fortes
quando estiver analisando o problema. Esses alunos geralmente fazem
um trabalho exemplar ao explicar conceitos para seus colegas. Este não
é um acidente do acaso. Ela usou o conhecimento adquirido com sua
Observação ativa para escolher os participantes intencionalmente e até
mesmo estrategicamente.
No Antecipe a escrita (técnica 40) e na Discussão disciplinada (técnica
46), chamo essa ideia de “Caçar, não pescar”. Você caça respostas
produtivas que moverão a conversa em uma direção produtiva à
medida que circula pela sala. Então, mais tarde, utiliza-as enquanto
ensina, para não precisar pescar – chamar os alunos mais ou menos
aleatoriamente, esperando que eles tenham respostas úteis. Com isso,
você permite que os alunos façam mais trabalho cognitivo e construam
uma cultura em que a força do pensamento seja mais visível para seus
colegas e em que receber a chamada De surpresa seja um sinal da
qualidade de seu trabalho. “Caçar” respostas dessa maneira e lembrar a
quem chamar oito ou doze minutos depois exige mais memória de
trabalho do que quase todo professor tem à sua disposição em uma sala
de aula cheia. Exige Observação ativa.
No entanto, a Observação ativa não é apenas fazer anotações. É
decidir o que você deve ver e, em seguida, olhar cuidadosamente para
ver se você encontra. É pensar em quais erros podem ocorrer e estar
com tudo pronto para responder. Fundamentalmente, a capacidade de
Julia de observar e avaliar o que está acontecendo começa com o
modelo que ela planejou (técnica 1, Planejamento exemplar) e que
carrega consigo à medida que avança. Para observar efetivamente em
tempo real, você deve pensar antes no que procurará no trabalho do
aluno.
Vamos nos concentrar em como Denarius usa seu exemplar no vídeo
Denarius Frazier: Resto, que começamos a discutir anteriormente. Você
notará que ele está fazendo pequenas anotações rápidas enquanto
circula, por exemplo, na imagem a seguir.
Os alunos estão dividindo polinômios, e um deles se esforçou para
encontrar o resto. Mas Denarius não escreve “David: não consegue
encontrar o resto” ou algo assim. Sabemos disso porque sua notação é
uma marca de veri�cação, feita em uma fração de segundo, o que
permite que ele continue circulando rapidamente com sua memória de
trabalho livre. Isso pode parecer uma observação corriqueira, mas nos
diz algo profundo: Denarius fez uma lista de erros prováveis e está
marcando nessa lista toda vez que encontra um. Agora, além de poder
se mover rapidamente enquanto faz suas rondas, quando surgir uma
tendência nos dados, ele a verá instantaneamente. De fato, neste vídeo,
Denarius reconhece que oito ou nove alunos têm di�culdades com o
resto e é capaz de direcionar sua ênfase exatamente para esse problema
– o mais relevante para o maior número de alunos. Ele nem precisa de
um momento para parar e analisar os dados, como vemos Julia Addeo
fazendo; simplesmente olha para o que é basicamente um histograma
de erros que ele gerou enquanto caminhava. No momento em que ele
está na metade da sala, grande parte de sua memória de trabalho está
focada em como ensinar novamente o exemplo. Ele é capaz de tirar um
excelente exemplo de um aluno para uma técnica de Mostre o texto,
porque, assim como Julia, isso é algo que ele anotou.
Discutindo esse vídeo depois, Denarius observou que seu plano de
assentos também é fundamental para seu sucesso. Os dois cantos da
frente da sala são os lugares onde ele sempre começa suas rondas de
observação. Ele de�ne seu plano de assentos para que os quatro
primeiros alunos que observa em cada um desses cantos apresentem o
que geralmente é uma amostra estatística da sala – uma mistura que
inclui pelo menos um aluno que costuma ter di�culdades, um aluno
que geralmente é a média do grupo e aquele que muitas vezes tem um
alto desempenho.
“Depois de olhar para o trabalho de quatro crianças, muitas vezes
tenho uma hipótese razoável da situação da turma em geral. Já estou
testando essa hipótese enquanto trabalho na primeira coluna e, na
segunda coluna, estou decidindo o que fazer a respeito.”
“Muitas pessoas pensam que estou monitorando quem acertou e
quem errou, mas acompanho a natureza dos erros que encontro.
Quando termino minhas observações, é muito mais útil saber o que
eles entendem errado do que o número de crianças que acertaram. E
isso também me ajuda a desenvolver meu plano de reeducação
enquanto trabalho.”
O projeto da ferramenta que você usa para rastrear e analisar dados
em tempo real é fundamental. A ilustração a seguir mostra alguns
exemplos.
Neste exemplo, o professor deve se concentrar em quem demonstrou
pro�ciência, aluno por aluno. Essa provavelmente é uma habilidade
muito simples – pontuar uma frase completa – e é por isso que ela pode
ser marcada com sim/não. Essa abordagem não funcionaria para tudo
que os professores avaliam, mas a ênfase em garantir que ela veri�ca o
progresso de todos os alunos é poderosa. Ela também deixou espaço
para anotações narrativas, se for preciso, o que permite que a
ferramenta colete dados quantitativos e narrativos sobre o trabalho.
Problema da história: Yedidah está fazendo pulseiras de amizade
para sua festa de aniversário. Na loja, as contas são vendidas em
pacotes de 35. Ela decide comprar 6 pacotes. Quando chega em
casa, sua mãe sugere usar 20 contas em cada uma das pulseiras de
suas amigas. Quantas pulseiras completas Yedidah pode montar
para suas amigas?
Ponto de erro
Número de alunos
cometendo o erro
Erro 1: Alunos multiplicam 6 × 35 incorretamente
Erro 2: Alunos usam incorretamente o total de 210 contas na
última etapa do problema
Erro 3: Alunos montam uma pulseira com menos de 20 contas
Neste exemplo, o professor está mais focado nas tendências de erro
do que no progresso individual do aluno. Durante a aula, ele fará uma
marcação cada vez que encontrar um erro, independentemente de
quem o cometeu, para que possa resumir as coisas rapidamente no �nal
de sua circulação e determinar o que precisa revisar. Novamente, há
espaço aqui para detalhes narrativos. O rastreador de Denarius
provavelmente se parece com o que vemos acima.
Este exemplo também oferece uma visão de como os professores
planejam quando coletarão dados importantes. Observe a diferença
aqui entre o Erro 2 e o Erro 3. Claramente, essas são duas partes do
mesmo problema de matemática, mas o professor dividiu os erros em
duas rodadas separadas de observação. Julia Addeo nos contou algo
semelhante quando falamos com ela. “Eu sempre incluirei o número de
voltas que faço. Então, na primeira volta, estou circulando para ver a
multiplicação deles. Ou então dou uma passada para ver como isolaram
a variável. Vou incluir isso para as perguntas mais essenciais, para Faça
agora ou incluir em um conjunto de
,problemas.” Em outras palavras,
ela não está procurando tudo de uma vez, mas imagina uma série de
rodadas de observação, cada uma focada em um aspecto ligeiramente
diferente da tarefa.
“Eu veri�co todos os alunos várias vezes durante o bloco de
matemática”, me disse a professora do 4º ano Nicole Warren (con�ra
sua Observação ativa no vídeo Nicole Warren: Pedra Angular).
“Primeiro, observo as normas do processo, incluindo a parte de marcar
e classi�car o problema. Então, circulo para observar a compreensão do
conceito e registro quais alunos estão no caminho certo, quais alunos
cometem erros matemáticos básicos e quais alunos podem ter
entendido mal um conceito mais importante. Isso ajuda a fazer o plano
para a discussão do problema e a construir a responsabilização em
torno do trabalho do aluno.”
“Quando os alunos sabem que você estará caminhando entre eles a
cada dois minutos”, disse Nicole Willey, “trabalham com rapidez e
e�ciência. Eles adoram ser recompensados com um rosto sorridente em
seu papel ou uma nota alta. (A alegria que os alunos sentem nas
pequenas anotações e apreciações de Nicole enquanto ela observa é
muito evidente no vídeo.) Há também muita comemoração em torno
do sucesso e do crescimento. No �nal (da aula) de cada dia, anuncio
quais alunos atingiram 100%, além de quais alunos melhoraram. Os
alunos �cam bastante envolvidos nesse momento de reconhecimento
público. Também temos metas de grupo. Por exemplo, se conseguir
100% em cada uma das perguntas, a classe receberá um prêmio
especial. Esses incentivos, embora externos, geram um senso de
comunidade e demonstram que trabalhar duro leva ao sucesso a longo
prazo.”
Muitas vezes, os professores deixam transparecer seu foco de
observação para os alunos. Eles podem dizer: “Vou dar uma olhada nas
suas hipóteses”. Nesse momento, eles tentariam dar feedback apenas
sobre esse tópico antes de adicionar rodadas adicionais; por exemplo,
“Desta vez, estou voltando para ver se vocês descreveram grupos
experimentais e de controle claros”. Isso in�uencia as ações dos alunos
antes mesmo que eles deem qualquer feedback. Os alunos veem a
professora se aproximando e pensam em sua hipótese, pois sabem que
estará procurando por ela. Talvez eles se concentrem mais nisso em
primeiro lugar. Os professores in�uenciam os alunos a se concentrarem
em tarefas-chave quando lhes dizem que estão procurando por elas.
Você pode ver evidências dessas ações na folha de acompanhamento
de Rafael Good, de sua aula de matemática. Ele trabalhou o problema
para que pudesse usar seu próprio modelo para ver as lacunas no
pensamento dos alunos mais rapidamente, fez anotações sobre os
movimentos de entrega (“Show Call exemplary work!” – “Mostre o
texto, trabalho exemplar!”) e anotou o tempo alocado para a tarefa (“4
min” – “4 minutos”), para não perder o controle do tempo. Escreveu a
frase inicial que desejava falar quando pedisse aos alunos para começar
a tarefa (“Make sure to show multiplication steps” – “Certi�que-se de
mostrar as etapas de multiplicação”) e, �nalmente, o foco da primeira
volta pela sala (“L1”). Ele escreveu a frase exata que desejava usar antes
de começar a observar – “Checking for your multiplication steps to be
written out” – “Veri�que se suas etapas de multiplicação foram
escritas”.
Concentrar-se em elementos de prioridade limitados e especí�cos
quando você dá feedback torna mais fácil dar feedback imediato a todos
os alunos e, talvez inesperadamente, é útil para construir
relacionamentos. A ferramenta mais importante e genuína para a
construção de relacionamentos é algo que você pode chamar de ensino
relacional – usar a maneira como você ensina o conteúdo para gerar
con�ança. A con�ança vem quando seu ensino demonstra sua
habilidade como professor e seu interesse e capacidade de ajudar os
alunos a aprender. Um feedback e�caz e preciso comunica a cada aluno:
Seu sucesso é importante para mim. Estou ciente do seu progresso
nesta empreitada.
Eu vou ajudá-lo a ter sucesso.
Eu acredito que você terá sucesso.
Isso é mais importante a longo prazo para criar con�ança com os
alunos do que conversar com eles nos corredores ou perguntar a eles
quais programas gostam de assistir. E isso garante que os
relacionamentos que construímos estejam relacionados ao aprendizado
e aos tópicos que estamos estudando.
Em Culturally responsive education in the classroom, Adeyemi
Stembridge escreve: “A profundidade do aprendizado exige que os
alunos entrem em um relacionamento signi�cativo com o próprio
conteúdo. ... Na maioria das vezes, isso é profundamente facilitado por
meio da modelagem de uma relação com o conteúdo pelos professores.”
Os relacionamentos são valiosos porque são “o canal através do qual o
investimento na escola é personalizado”.
A qualidade do feedback baseado em observações ativas e na
compreensão da aprendizagem de cada aluno, um feedback e�caz e
focado, dá vida à interligação entre aluno, professor e conteúdo.
Considere a dinâmica entre alunos e professores no vídeo Montagem:
Observação ativa. Os três vídeos são um estudo de caso na construção
de relacionamentos. Na primeira sala de aula, vemos Nicole Warren
dando feedback sobre um problema de matemática. “Super inteligente”,
diz ela, “veri�cando todas as opções de resposta enquanto você tem
tempo de sobra. ... Muito legal”. O sorriso no rosto do aluno ilumina a
tela. Embora o estilo de Denarius Frazier seja um pouco mais discreto,
ele também faz uma pausa em cada aluno, comentando não apenas
sobre seu trabalho no momento. “Arrasando”, diz ele, enquanto dá um
soquinho e um sorriso. Seu “muito melhor” mostra que ele sabe onde
seus alunos têm di�culdade e, portanto, é capaz de comemorar sobre o
crescimento. Os alunos do 1º ano de Tamesha McGuire recebem a
mesma mistura de a�rmação – “Bom trabalho, meu amor!” –, com um
feedback signi�cativo e direcionado.
Devo observar que, às vezes, as pessoas confundem Observação ativa
com “monitoramento agressivo”, que é um termo que Paul Bambrick-
Santoyo cunhou para descrever o feedback a cada aluno usando uma
gabarito de monitoramento em uma série de rodadas ou voltas
especí�cas. Grande parte da orientação que forneci aqui re�ete os
insights de Paul e a implementação de professores treinados por ele,
então espero que �que claro que enxergo um grande valor nessa
abordagem. Os professores devem usá-la! Mas também é importante
reconhecer o valor de equilibrá-la com uma gama mais ampla de
abordagens de coleta de dados. O uso da Observação ativa, portanto,
inclui também abordagens alternativas para dar a cada aluno um
feedback imediato enquanto você observa, porque ferramentas de
observação alternativas podem criar equilíbrio e enfatizar diferentes
aspectos do processo de aprendizagem. O grá�co a seguir oferece três
opções para Observação ativa:
Opção 1 Opção 2 Opção 3
Às vezes chamado de
“monitoramento agressivo”. O
professor acompanha o
progresso e dá feedback
imediato a cada aluno
individualmente.
O professor dá feedback ao
grupo após acompanhar e
completar as observações (e
não fornece feedback individual
durante a observação).
O professor dá feedback (e faz
observações) focado em
indivíduos especí�cos (e não
em todo o grupo).
Embora a Opção 1 quase sempre seja excelente, uma limitação – e,
portanto, uma razão para ocasionalmente equilibrá-la com outras
abordagens – é que a necessidade de chegar a todos os alunos pode
levar a um feedback apressado ou a um tom que parece apressado ou
transacional. Parece que o objetivo do professor é circular pela sala.7
Isso pode diminuir o tempo para perguntas, por exemplo. Pode haver
momentos em que você peça aos alunos que guardem suas perguntas,
porque os dados são mais importantes, mas também haverá momentos
em que é valioso responder e tardar. Às vezes, é valioso dar feedback
imediatamente, mas às vezes é apropriado deixar os alunos se
esforçarem um pouco e não receber feedback imediato sobre seu
progresso.
Vale a pena considerar que a Opção 1 poderia ser adaptada. Por
exemplo, você poderia tentar observar
,e coletar dados do trabalho de
cada aluno, mas não tentar dar feedback ao vivo enquanto circula,
fazendo isso para o grupo somente no �nal de sua volta. Isso permitiria
que você tornasse o trabalho independente mais autônomo para os
alunos. A observação cuidadosa acompanhada de silêncio pode ser
poderosa, especialmente se o seu feedback ao grupo deixar claro que
estava observando cuidadosamente. Talvez você queira que os alunos se
esforcem um pouco ou não saibam imediatamente se estão no caminho
certo. Não tentar dar feedback enquanto você circula também pode
permitir que você tenha mais tempo e memória de trabalho para
observar tendências e problemas no trabalho dos alunos. Por outro
lado, você pode correr o risco de permitir que erros individuais
persistam e/ou os alunos não sintam o mesmo nível de apoio e/ou
responsabilidade. Por isso, é importante que você escolha
intencionalmente, com base no objetivo do dia e no momento na
atividade, além daquilo que vê enquanto observa.
Con�ra um bom exemplo da forma mais silenciosa de Observação
ativa no vídeo BreOnna Tindall: Observações ativas retirada de sua sala
de aula do 7º ano em ELA. Quando o vídeo é iniciado, os alunos estão
lendo e anotando um pequeno texto de não �cção sobre o conceito de
“justiça cega”. Isso faz parte de sua leitura mais ampla da Narrativa da
vida de Frederick Douglass. BreOnna, prancheta na mão, está
caminhando e dando uma olhada no trabalho dos alunos,
ocasionalmente balançando a cabeça com apreço ao encontrar ideias
que serão úteis na discussão. “Estou caçando tesouros”, é como
BreOnna descreve. “Estou procurando as partes da conversa que vou
destacar para podermos chegar a esses principais entendimentos na
matéria.”
Sua rota pela sala de aula parece planejada, mas não apressada, e ela
não a interrompe para ler todos os trabalhos dos alunos. A maioria dos
alunos não recebe um feedback. Seu objetivo é obter informações para a
próxima conversa. Ela faz anotações e ocasionalmente faz perguntas
para esclarecer algo (“O que esse sublinhado signi�ca aqui?”), mas
essas informações são, principalmente, para garantir que entenda o que
os alunos estão pensando, em vez de orientá-los. Ela está anotando
ideias em vez de abordar os erros. Quando escreve em sua prancheta,
não está rastreando a precisão de cada aluno, mas tomando notas sobre
as tendências que está vendo e destacando os alunos que pode chamar
mais tarde na discussão. Na discussão seguinte, você pode ver os
resultados da Observação ativa de BreOnna. Esse é um ótimo exemplo
de como “caçar, não pescar”. BreOnna chama Adriel, cuja resposta ela
sabe que é um bom ponto de partida, depois Renee, que ela sabe que
usou a palavra “exonera”.
“Eu tento não ir primeiro para o garoto que tem a resposta certa”,
disse BreOnna. “Eu tento encontrar pessoas que tenham pedaços da
resposta certa. Em vez de dizer “construir” arbitrariamente, tento
encontrar pessoas que tenham partes da resposta certa para que
possam realmente entender como uma discussão funciona – o que
realmente signi�ca construir?”
A observação de BreOnna permite que ela valorize a voz dos alunos,
mas ainda organize a conversa por foco e qualidade e, ela observou,
permite que garanta que os alunos ouçam uma resposta de alta
qualidade sem ter que fornecê-la ela mesma. “Eu nem sempre quero ser
a pessoa que marca a resposta certa – isso é chato! Além disso, tira a
crença das crianças de que elas sabem”, disse BreOnna. “Eu tento
encontrar outras crianças na sala de aula para descobrir o ponto-chave.”
Observações ativas nos primeiros anos do
ensino
Con�ra outro exemplo de uma forma mais silenciosa de Observações
ativas no vídeo Narlene Pacheco: Observação ativa. Ela fez um ótimo
trabalho de Padronize o formato em sua sala de aula do jardim de
infância na Immaculate Conception School, no Bronx. O espaço de
trabalho de todos é con�gurado da mesma forma – limpo e
arrumado. É fácil para ela ver o que está procurando de relance. Ela
circula pela sala com cuidado, mas não dá feedback a todos os
alunos. Em vez disso, está procurando tendências gerais e
compartilha um lembrete sobre isso (não se esqueça de ir da
esquerda para a direita) para toda a turma. Ela já está adaptando seu
ensino aos dados. Talvez porque o que está procurando – diversos
possíveis erros – seja menor, ela não está usando uma prancheta.
Mas usa uma dica de Veri�cação a�rmativa – “Mãos para cima
quando estiverem prontos”. Os alunos podem sinalizar quando
estiverem prontos para que ela veri�que seu trabalho. Isso permite
que saiba onde procurar primeiro. Ela vê Clara se esforçando e usa
Divida em partes (técnica 37), levando-a a encontrar o erro por si
mesma. Isso funciona porque a Sra. Pacheco mostra bastante
paciência e equilíbrio emocional. Mas também vale a pena notar que
ela tem muito tempo para passar com Clara, porque não está
tentando dar feedback a todos os alunos. Na segunda rodada de
observações – para a palavra “ainda” – você pode ver que ela está
deliberadamente observando Clara para ver como se sai. Agora,
Clara entendeu. Ela sorri, e a Sra. Pacheco certamente reforçará seu
sucesso.
Voltando às observações de Adeyemi Stembridge sobre a natureza
dos relacionamentos, a responsabilidade de ser professor está na
construção de relacionamentos dos alunos com o aprendizado e o
conteúdo. Suas relações conosco são os meios para atingir esse objetivo.
As relações mais fortes e produtivas com os professores são construídas
estabelecendo um triângulo no qual nos conectamos aos alunos e
ajudamos a conectá-los ao conteúdo.
Somos canais, em outras palavras. Se os alunos não desenvolverem
um relacionamento valioso com as coisas que estudam na escola, o
relacionamento com o professor não terá alcançado seu propósito
completo. Isso nos desa�a a resistir ao desejo de ser o centro da
história. O objetivo não é ser amado e lembrado para sempre, mas que
os alunos passem a acreditar em sua própria capacidade, valorizem o
processo de aprendizado e, possivelmente, amem ou pelo menos
apreciem profundamente as ideias de ciência, matemática, música ou
literatura. A Observação ativa é uma ferramenta primária que os
professores podem usar para ajudar os relacionamentos a servirem a
esse propósito.
TÉCNICA 10: MOSTRE-ME
Outra ferramenta útil para fazer observações e�cazes e e�cientes sobre
o trabalho dos alunos é inverter a dinâmica em que o professor trabalha
para coletar dados sobre um grupo de alunos cujo papel nesse processo
é bastante passivo. Em vez disso, em Mostre-me, os alunos apresentam
ativamente ao professor evidências visuais de sua compreensão. Isso dá
aos professores uma maneira de avaliar rapidamente a compreensão de
uma turma inteira, mais ou menos de relance, e tem o benefício
adicional de muitas vezes ser agradável para os alunos.
Mostre-me poderia signi�car alunos apresentando respostas em
pequenos quadros-brancos, como você verá no vídeo Dani Quinn:
Mostre-me (que estudaremos mais adiante) ou levantando vários dedos,
cada um representando a resposta a um problema de múltipla escolha
na hora, como Brian Belanger/Denarius Frazier fazem no vídeo
Belanger/Frazier: Montagem do Mostre-me. Eles eliminaram a
necessidade de circular pela sala para coletar dados, mas ainda
conseguem ter uma forte noção da situação de todos na turma.
Aqui estão os critérios básicos para uma boa técnica Mostre-me. Deve
pedir aos alunos que (1) apresentem dados objetivos, (2) geralmente em
uníssono e (3) em um formato que o professor possa avaliar rapidamente.
Vale a pena dedicar um momento para se aprofundar um pouco mais
em cada um desses critérios.
Apresentar dados objetivos: quando Denarius e Brian pedem aos
alunos que respondam mostrando a resposta escolheram usando seus
dedos, eles estão apresentando a resposta real, não sua opinião
(subjetiva) a respeito de sua própria compreensão. O autorrelato, como
discutimos anteriormente, é notoriamente pouco con�ável. Portanto,
versões do Mostre-me que pegam dados subjetivos de autorrelato e os
tornam visíveis (por exemplo,
,“Diga-me se você entendeu: polegares
para cima, polegares para baixo, polegares para os lados”) não ajudam
muito. Você quer ver a resposta real. “Levante um dedo se você
escolheu a resposta A, dois se você escolheu a resposta B e assim por
diante” é uma abordagem melhor.
Em uníssono: na maioria dos casos, pedir aos alunos que
compartilhem suas respostas visualmente funciona melhor quando
acontece em uníssono, por motivos de e�ciência e para preservar a
integridade dos dados. Imagine que você é um aluno. Você escolheu a
resposta B, mas, por qualquer motivo, não compartilha sua resposta
imediatamente quando o professor pede à classe que mostre a resposta.
Olhando ao redor da sala, você vê 18 colegas mostrando que
escolheram a resposta C. Se revelar que respondeu B, provavelmente
será a única pessoa. Você vai mudar sua resposta? Estudos têm
mostrado repetidamente que as pessoas são in�uenciadas pelas
respostas de seus colegas. Em um estudo clássico de Solomon Asch, por
exemplo, os sujeitos experimentais foram colocados em um grupo de
“participantes”, que eram de fato aliados dos experimentadores. O
grupo foi solicitado a comparar o comprimento de uma série de linhas,
que eram claramente diferentes. Sem a presença de cúmplices, os
participantes relataram o comprimento das linhas incorretamente em
menos de 1% das vezes. Mas, em um cenário em que os cúmplices
relataram consistentemente acreditar que as linhas tinham o mesmo
comprimento, a maioria das pessoas fez esforços para se adaptar, dando
uma resposta que sabiam estar errada pelo menos algumas vezes. Na
média, um terço dos participantes mudou alguma resposta, e 75% dos
participantes mudaram uma resposta pelo menos uma vez em doze
tentativas. Conclusão: a maioria das pessoas mudará suas respostas
para algo que não acredita ser certo para se adaptar. Se todos
apresentarem seus dados simultaneamente e na hora certa, impedirá
que os alunos alterem sua resposta com base nas respostas de seus
colegas. Garantir que as respostas sejam dadas em uníssono também
maximiza o ritmo e o �uxo. A técnica Mostre-me, muitas vezes, pode
parecer enérgica e parecida com um jogo para os alunos. Sua
participação nítida e coordenada facilita a sensação de impulso que ela
cria.
Em um formato que o professor possa avaliar rapidamente: os dados
em Mostre-me são apresentados ativamente pelos alunos em forma
visual – levantados para que você possa vê-los e analisá-los
rapidamente de onde estiver; circulação limitada necessária. Quanto
mais claramente você puder explicar como deve ser a apresentação dos
dados, melhor. Você precisa decidir e explicar aos alunos se eles devem
manter os dedos no ar (para que possa vê-los facilmente) ou na frente
do peito (para que sejam menos visíveis para os colegas), por exemplo.
Se eles estão escrevendo em um quadro branco, as respostas estão
destacadas? A que altura os quadros brancos devem ser mantidos? Isso
é importante porque, quanto menos memória de trabalho você precisar
usar na pesquisa, mais poderá gastar analisando os dados.
Existem duas versões comuns de Mostre-me: a primeira é por meio de
sinais manuais, e a segunda é com lousas.
Sinais com as mãos
Embora haja diversas maneiras de empregar sinais com as mãos, a
chave para a abordagem é que, em uma sugestão especí�ca, os alunos
levantem os dedos em uníssono para representar sua resposta.
Em Belanger/Frazier: Montagem do Mostre-me, Bryan Belanger usa
sinais de mão para avaliar o domínio do aluno em uma questão de
múltipla escolha sobre taxas de mudança. Poucos segundos após a
saudação matinal, Bryan avisa aos alunos com a dica “pedra, papel,
tesoura... um dois!” Em “dois”, os alunos batem em suas mesas três
vezes em uníssono antes de levantarem as mãos para revelar sua
resposta (um dedo para a resposta A, dois para B e assim por diante).
Bryan tornou o ato de mostrar suas respostas tão familiar que essa
rotina funciona como um relógio.
Quando os alunos levantam as mãos, Bryan examina a sala, narrando
o que está procurando (“veri�cando se estão levantando os dedos do
jeito certo”), bem como o que vê (“Vejo muitos dois, alguns quatros”).
Isso reforça as expectativas e lembra aos alunos que ele está Observando
atentamente. Ele então pede aos alunos que estejam prontos para
defender sua resposta. Ao fazer isso, reconhece que múltiplas respostas
foram dadas, mas, basicamente, reteve a resposta (veja a técnica 12,
Cultura do erro) e ainda não disse a eles qual é a correta.
Em vez de revelar a resposta, Bryan chama Blaize (que escolheu
corretamente a alternativa B) para explicar sua resposta e raciocínio.
Ele con�rma a resposta de Blaize, mas também pede a Elizabeth (que
erroneamente escolheu D) para reiterá-la. Bryan então pede aos alunos
que “veri�quem ou alterem” seu trabalho para aquele problema,
dizendo: “Veri�que se você escolheu a resposta B. Se não, circule essa
resposta e corrija-a agora”. Ao insistir que os alunos identi�quem e
localizem (técnica 14), ele garante que todos internalizem a resposta e o
raciocínio por trás dela.
Embora o formato de múltipla escolha da pergunta de Bryan se
adapte bem ao Mostre-me, também é possível usar sinais de mão para
coletar dados sobre perguntas que não foram originalmente projetadas
como múltipla escolha, como mostra Denarius Frazier no mesmo
vídeo. Denarius escreveu em papel quadriculado duas soluções para
um problema que os alunos têm trabalhado de forma individual. Ele
pede que avaliem as duas soluções e depois diz: “Vamos fazer uma
enquete. Vamos revelar de uma só vez. Um dedo se você concorda com
a solução A, dois para B. Onde estamos, em três, dois e um? Observe
como ele é cuidadoso para garantir que as respostas sejam reveladas em
uníssono. Assim, ele é capaz de ler instantaneamente a sala e ver que os
alunos estão divididos entre as duas soluções. Ele os envia para um
Virem e conversem (técnica 43) para discutirem seus pensamentos.
Depois, Denarius faz outra pesquisa para ver se o pensamento deles
mudou como resultado. Ele examina a sala para avaliar os novos dados
e começa a discussão com um aluno que escolheu B. Outros alunos
compartilham seu pensamento, e então Denarius muda o foco e pede a
alguém que escolheu A para explicar. Observe que ele está retendo a
resposta e gerenciando sua fala (veja Cultura do erro) – os alunos ainda
não sabem qual é a resposta certa. Finalmente, depois que um aluno
muda sua resposta com conforto e con�ança, Denarius con�rma que a
resposta A estava correta. Seu uso da técnica Mostre-me permitiu que
ele analisasse a sala várias vezes com e�ciência, observasse tendências
nos dados e determinasse quais alunos deveria chamar e quando.
No vídeo Lisa Wing: Boom, boom, pow, você pode ver Lisa usando
sinais de mão com seus alunos do 7º ano. Ela pediu que eles avaliassem
três parágrafos de teses anônimas escritas por alunos. Reforça o
procedimento divertido e envolvente (boom, boom, pow) e isso �ca
realmente nítido e oportuno. Então segue com questionamentos,
pedindo aos alunos que discutam suas opiniões. Esse é um bom
exemplo e sugere como você pode pedir aos alunos que usem sinais
manuais para responder a uma pergunta cujas respostas são uma
questão de opinião. A propósito, também é um ótimo vídeo, porque há
muita “realidade da sala de aula” incorporada. Além de podermos ver a
resposta graciosa de Lisa quando chama um aluno que perdeu a voz, há
uma história se desenrolando entre as duas garotas na primeira �la no
início do vídeo. Uma menina conta com orgulho para a amiga que um
dos parágrafos escolhidos como exemplo é dela! É uma cena adorável
que nos lembra de como é signi�cativo para os alunos verem seu
trabalho valorizado, mas também deve nos lembrar de como é fácil
para os alunos in�uenciarem as respostas que outros dão se o
procedimento para sinais manuais não for bem claro. O aluno poderia
facilmente estar “ajudando” seu colega de classe dizendo-lhe: “Escolha
o número 2”.
Lousas
O uso de lousas é outra forma de Mostre-me, em que os alunos
completam seu trabalho em sua mesa e, a um sinal,
,levantam para
mostrar ao professor. Muitas vezes, os professores usam pequenos
quadros brancos apagáveis para fazer isso, como os alunos de Dani
Quinn fazem no vídeo Dani Quinn: Mostre-me, �lmado na Michaela
Community School de Londres. Observe a sugestão consistente e
otimista de Dani para os alunos mostrarem seus trabalhos
(“Levantem!”) e a maneira como ela facilita a revisão dos quadros indo
�leira por �leira e pedindo aos alunos cujo trabalho ela revisou para
recolher os quadros. Ela oferece feedback individual aos alunos
enquanto examina, construindo uma Cultura do erro ao manter seu
tom semelhante se os alunos erraram – “Sam, quanto é cinco vezes
cinco?” – ou acertaram – “Bianca, muito bem”. A quantidade
impressionante de nomes que ela consegue usar faz com que muitos
alunos se sintam vistos e reconhecidos, e ela pode ser vista reforçando o
procedimento ao pedir “Abaixem os quadros” e uma resposta mais
rápida.8 Finalmente, Dani faz um excelente trabalho não apenas
coletando dados mas também adaptando a atividade a esses dados:
“Ainda restam alguns erros. Faremos mais um...”
As lousas não precisam ser feitas apenas com quadros brancos – você
pode fazer com que os alunos apresentem seus trabalhos de outras
maneiras: desenhem uma linha em um papel quadriculado; escrevam
uma frase de�nindo a verossimilhança, talvez em “espaço duplo” para
que você possa ler um pouco mais fácil de longe; ou adicionem uma
nota na margem da página 26. Embora a varredura das respostas possa
não ser tão simples nesses casos, a abordagem ainda pode ser
reveladora (e e�caz no apoio à responsabilização).
TÉCNICA 11: VERIFICAÇÃO AFIRMATIVA
Uma última ferramenta que pode ajudar a veri�car a compreensão, a
Veri�cação a�rmativa, envolve o uso estratégico de pontos de
veri�cação. Nesses pontos, os alunos devem obter con�rmação de que
seu trabalho está correto ou está na direção certa e que estão prontos
para passar ao próximo estágio – um novo parágrafo, um segundo
rascunho, um conjunto mais difícil de problemas, a última etapa de
uma atividade de laboratório. Em muitos casos, os alunos determinam
seu próprio tempo para fazê-lo, o que pode criar oportunidades de
autoavaliação.
Con�ra Hilary Lewis usando a técnica em sua sala de aula do 1º ano
no vídeo Hilary Lewis: Etiquetas adesivas. Esse vídeo apareceu em
versões anteriores do livro e é um dos mais antigos em nossas o�cinas.
Continuamos a usá-lo porque Hilary faz um trabalho muito bonito de
avaliar o domínio do aluno antes do trabalho individual. Ela é
acolhedora, atenciosa e exala grandes expectativas. Ela pede aos alunos
sentados no tapete que completem um problema de matemática em
uma nota adesiva verde, que chama de “bilhete”. Os alunos devem
mostrar esse bilhete a ela como prova de que estão prontos para iniciar
a prática individual (PI) em suas mesas. Ela desperta o interesse deles
de uma maneira perfeita para o 1º ano, comparando isso com a
experiência de “ir ao cinema”. Ao exigir que os alunos “ganhem” a
oportunidade, transforma a PI em uma espécie de recompensa.
Quando a primeira aluna vai mostrar seu trabalho, parece, por um
momento, que há uma corrida para entrar na �la primeiro. Os alunos
começam a se esforçar para mostrar seu trabalho à Sra. Lewis, mas
Hilary veri�ca essa tendência com uma voz amorosa: “Crianças, vocês
só podem vir até aqui se eu pedir para vocês virem”.
Um por um, os alunos terminam de resolver o problema e aguardam
o sinal de Hilary. Ela os chama, primeiro individualmente e depois
�leira por �leira. Para um trabalho correto, ela responde: “Pode
começar” de forma acolhedora e tranquila. Não é surpresa que alguns
alunos resolveram o problema incorretamente – ou talvez
apressadamente –, ao que Hilary responde: “Por favor, volte e veri�que
seu trabalho”. Sua reação é emocionalmente constante. Quando uma
aluna mostra seu trabalho para o problema errado, Hilary usa o mesmo
tom acolhedor e de apoio: “OK. Você fez o seu problema, o que é
ótimo. Mas eu preciso que você faça este problema” [apontando para o
quadro].
Ao fazer com que todos terminem de resolver um problema inicial
antes de passarem para os outros problemas, Hilary consegue corrigir
pequenos mal-entendidos e reforçar o trabalho com cuidado, ajudando
os alunos a ver que estão “prontos” para uma tarefa maior quando
trabalham com cuidado e atenção.
Veja uma adaptação útil dessa ideia com alunos mais velhos no vídeo
Jessica Madio: Mão silenciosa quando tiver terminado. Com a técnica
Arremate, que seus alunos do 7º ano da St. Athanasius School, em Nova
York, conhecem bem, Jessica usa um passe de entrada antes de uma
seção de prática independente. Acertar demonstra que você está pronto
para trabalhar por conta própria com sucesso.9
Jessica Padronizou o formato para que as respostas fossem fáceis de
encontrar e avaliar rapidamente, e ela diz aos alunos que levantem
“uma mão silenciosa” quando tiverem terminado. “Vou dar uma volta e
veri�car”. Em vez de veri�car os alunos com base no plano de assentos,
Jessica deu a eles a ideia de quando o trabalho será veri�cado. Eles já
estão acostumados com essa rotina e saltam para o problema na hora.
À medida que cada aluno termina e levanta a mão, Jessica
simplesmente diz: “Obrigada” e veri�ca se o problema está correto. Os
alunos então passam imediatamente para problemas práticos
individuais sem instruções adicionais. É claro que Jessica também está
usando a Observação ativa e anotando quais alunos têm di�culdades e
por quê. Ela usa esses dados para chamar alguns alunos para
trabalharem com ela na mesa de trás. Todos esses alunos cometeram
um erro semelhante e, portanto, recebem suporte adicional enquanto
outros trabalham individualmente. Quando eles parecem ser capazes
de resolver por conta própria, ela os manda de volta para a prática
individual. Jessica oferece um ótimo lembrete de que a diferenciação na
sala de aula começa com a coleta de dados.
Uma das coisas boas da Veri�cação a�rmativa são os caminhos para a
autoavaliação que ela pode criar. A Veri�cação a�rmativa oferece aos
alunos a oportunidade de avaliar seu próprio trabalho e decidir quando
estão prontos para que o professor avalie o que �zeram. Isso permite
que os alunos avaliem seu próprio trabalho primeiro – Já terminei? Será
que estou pronto para o próximo passo? – antes de pedir uma resposta
do professor. Como os alunos escolhem o momento em que gostariam
de receber o feedback, a Veri�cação a�rmativa nos fornece mais dados
sobre o que pensam do seu próprio trabalho, o que talvez não vemos
enquanto caminhamos pela sala e observamos os alunos (“Ah, entendo.
Você pensou que tinha terminado, mas vamos pensar em...”). Como em
Puxe mais (técnica 17), isso pode contribuir para uma cultura em que
as respostas corretas são recompensadas com desa�os futuros – por
exemplo, “Ótimo, agora você está pronto para passar a alguns
problemas avançados”. Essa sensação de realização de ver a si mesmos
passar por pontos de veri�cação com sucesso também ajuda os alunos a
desenvolver sua con�ança. Seu progresso torna-se mais aparente para
eles.
No entanto, uma das chaves para usar a Veri�cação a�rmativa de
forma e�caz é minimizar ou eliminar o tempo que os alunos passam
esperando pela avaliação. Alunos com a mão no alto, esperando a
chegada de um professor (ou ainda menos produtivamente, de braços
cruzados, lápis na mesa, conversando com um colega) representam um
desperdício de tempo precioso e um risco de que os alunos percam
tanto seu impulso quanto a linha de pensamento. As dicas a seguir para
projetar uma Veri�cação a�rmativa e�caz ajudarão a equilibrar a
independência do aluno com a e�ciência.
Considere se o conteúdo de sua atividade é propício para a veri�cação
encenada. O ideal é que o(s) ponto(s) de veri�cação passe(m)
rapidamente – lembre-se da e�ciência de Hilary quando ela lê cada
nota adesiva. Se o trabalho do aluno exigir uma análise demorada ou
um feedback detalhado, pode não ser viável pedir a todos que aguardem
a próxima etapa enquanto você lê e responde.
Prepare uma folha
,escreveu Tatum recentemente. É
imperativo que “todas as disciplinas pertençam a todos os grupos”,6
observou ele, mas o sentimento de apagamento existe (na engenharia,
na ciência da computação e na bioquímica, por exemplo), porque “não
fornecemos a base su�ciente nas escolas de ensino fundamental e
ensino médio”. O fornecimento dessa base requer força dos acadêmicos
e força da cultura – um espelho brilhante em cada sala de aula que
re�ita os alunos e os atraia para a luz.
No momento em que o aluno de Christine se virou, hesitante, para
encarar a sala – inseguro de que conseguiria atender ao pedido da
professora – e viu não só o apoio nos olhos de seus colegas, mas
também uma norma social re�etida que dizia nós participamos com
entusiasmo da sala da Srta. Torres; nós somos, sem nenhuma vergonha,
intelectuais e assim descobrimos que podemos fazer isso – esse era um
momento de justiça social.
Quando a cultura não é forte assim, quando ela não estimula o
engajamento positivo e produtivo como norma, os professores fazem
concessões. O atributo principal do plano de uma aula deve então ser
sua capacidade de ganhar a atenção dos alunos com alguma coisa
atrativa, pois eles não estão preparados e não foram socializados de
modo que naturalmente dediquem sua atenção à aula. A pergunta
Quão rigorosa eu posso tornar esta tarefa? está fora de discussão.
Essa concessão não está, de forma alguma, limitada a certas escolas.
Enquanto você lê isto, existem dezenas de milhares de estudantes em
quase todos os estratos da sociedade norte-americana frequentando
salas de aula em várias condições de concessão, onde uma tirania
silenciosa – mais ou menos invisível, porém ainda potente – é exercida.
O relatório do �e New Teacher Project (TNTP), �e opportunity myth,
sugere o quanto é endêmica essa tirania silenciosa. Acompanhando
quase 4 mil estudantes em cinco sistemas escolares diferentes, o TNTP
encontrou que, mesmo quando concluíam o trabalho que haviam
recebido, mesmo quando haviam se esforçado para dar o melhor de si e
estabeleciam um objetivo de um estudo mais aprofundado, os alunos,
em sua maioria, não estavam nem perto de atingir as coisas que
aspiravam. O trabalho que eles faziam na escola não era
su�cientemente desa�ador ou exigente. Mesmo aqueles que recebiam
notas altas não estavam preparados. “Suas vidas”, escreveram os autores,
“estão lhes escapando um pouco mais a cada dia, sem que eles ou suas
famílias tenham conhecimento – não porque não conseguem dominar
o material desa�ador, mas porque eles raramente recebem uma chance
real de tentar. Os alunos passavam mais de 500 horas por ano letivo em
tarefas que não eram apropriadas para seu nível escolar e com
instrução que não exigia o su�ciente deles – o equivalente a seis meses
de tempo de aula desperdiçado em cada disciplina fundamental”.
Justiça social para mim são salas de aula que sejam radicalmente
melhores, salas de aula que estimulem o sucesso acadêmico e preparem
todos os alunos para atingirem seus sonhos. Se uma sala de aula
funcionar como se seus jovens não fossem capazes de grandiosidade,
ela jamais será uma sala de aula justa. Mas operar como se os jovens
fossem capazes de grandiosidade não signi�ca ceder. Signi�ca amá-los
o su�ciente para estimulá-los, com acolhimento, bondade e
humanidade, a trabalhar mais arduamente do que estão acostumados.
Signi�ca amá-los o su�ciente para estabelecer limites, com
humanidade, consistência e �rmeza, é claro. Aqueles de nós que são
pais sabem que isso também vale para nossos próprios �lhos.7
O termo justiça social, estou ciente, signi�ca diferentes coisas para
diferentes pessoas. Diferentes professores em plena consciência
responderão ao chamado da igualdade de diferentes maneiras,8 mas, se
os alunos frequentarem escolas que não estimulem neles a excelência
na leitura, na escrita, em ciências e em matemática e, portanto, os
deixarem despreparados para atingir a excelência e a liderança em seu
campo escolhido, não teremos criado um mundo mais justo
socialmente, independentemente do quanto possamos estar
comprometidos com a ação. Equidade começa com êxito.
Além do mais, como observou um dos nossos melhores líderes
escolares,9 se nossos alunos não trouxerem conhecimento e habilidades
analíticas para a discussão da justiça social, corremos o risco de dar
origem a mutações letais – melhores intenções com pouca ponderação
que fazem mais mal do que bem. Em 2021, educadores no Oregon
receberam um documento o�cial alertando-os de que pedir que os
alunos mostrem seu trabalho em tarefas de matemática era uma forma
de “supremacia branca”. Um amigo compartilhou uma discussão on-line
em que os educadores argumentavam que a tarefa de casa e o sistema
de notas eram “construtos colonialistas”. É difícil entender como tantas
pessoas acreditam em argumentos enganosos de que se esforçar para
atingir os mais altos níveis de êxito, de realizações e de excelência é, de
alguma forma, antiético para pessoas não brancas ou equivalente a
“adotar a branquidade”. É alarmante até mesmo ter que imaginar isso.
Este livro é escrito com a crença de que tais proposições são erradas e
destrutivas e de que a realização na trajetória escolar é o mecanismo
que possibilita a equidade e a justiça social.
Um dos textos mais memoráveis que li no ano passado é Black man in
a white coat, de Damon Tweedy, um livro de memórias das
experiências do autor durante sua educação médica e como médico
praticante. A crise da covid provou, no mínimo, que, como acontece
com quase todos os outros benefícios da nossa sociedade, a assistência
médica de qualidade é distribuída de forma desigual. Para todos
aqueles que já leram o livro de Tweedy, isso não deve ter sido uma
surpresa. Se aspiramos a uma sociedade justa, equitativa e imparcial,
isso exigirá uma abundância de médicos de todas as procedências e,
mais ainda, médicos de comunidades não brancas e outras que são mal
servidas pela área da saúde. Além disso, a justiça social depende a
longo prazo que eduquemos um leque diverso de médicos,
engenheiros, cientistas, advogados, artistas, investidores e empresários
da tecnologia.
Eis um exemplo: durante a pandemia de covid, os oxímetros de pulso,
aparelhos usados para medir os níveis de oxigênio no sangue, tinham
três vezes mais probabilidade de apresentar leituras incorretas para
pessoas com pele negra do que para brancos, publicou recentemente
�e Economist.10 Isso porque os aparelhos foram projetados tendo em
mente a pele branca, mais translúcida. Números desconhecidos de
pacientes com pele mais escura em sofrimento foram mandados para
casa indevidamente por causa disso. E, é claro, esse tipo de problema
existe em mil lugares e provavelmente continuará a existir nesses
lugares até que seja atingida maior diversidade entre os engenheiros
que criam e fabricam aparelhos médicos. Isso, segundo o argumento de
Alfred Tatum, signi�ca “equidade disciplinar”: estudantes não brancos
altamente treinados e preparados em cursos de ciência avançada e
matemática – e em todas as outras áreas.
Assim sendo, se justiça social para você signi�ca marchar em
protesto, eu apoio você. Muitos dos seus alunos podem formar �las
atrás de você, também. Mas saiba que alguns, em vez disso, irão querer
criar sistemas de informaçao,11 e isso também é importante. Alguns
irão optar por se perderem na cor e na composição da pintura em que
estão trabalhando, e isso também é importante. É direito deles estarem
preparados por nossas escolas e nossas salas de aula para irem aonde
quer que suas paixões os conduzam. Isso também faz parte da justiça
social: cada jovem ser capaz de de�nir seu sonho e ir em busca dele. É
necessário olhar para a maioria das crianças na pobreza, em grande
parte negras e pardas, e para a maioria das crianças, ponto �nal. Não
seria esse o caso?
Embora o papel do ensino em uma sociedade justa e equitativa seja a
minha paixão, devo observar que não acho que este seja um livro sobre
a educação de “crianças pobres” ou “crianças negras e pardas”. Crianças
são crianças, mesmo
,de rubrica ou de respostas, mesmo que o trabalho
pareça bastante simples. Isso liberará a memória de trabalho e acelerará
sua capacidade de processamento.
Considere quanto tempo cada aluno pode precisar para concluir a
tarefa. O ideal é que o trabalho seja desa�ador ou complexo o su�ciente
para que terminem em momentos diferentes, espalhando a veri�cação
exigida do professor e ocasionando menos espera. A Veri�cação
a�rmativa pode funcionar bem em aulas de redação, por exemplo, onde
os alunos normalmente terminam rascunhos em ritmos muito
diferentes, escalonando os pontos de veri�cação da perspectiva do
professor. No entanto, seria importante manter a veri�cação focada.
Você não poderá ler o primeiro rascunho de cada aluno, mas pode
pedir que circulem cinco verbos dinâmicos ou duas citações indiretas
ou seu parágrafo de tese.
Pode ser útil incluir um trabalho opcional. Se você desse aos alunos
três problemas, mas �zesse do terceiro uma questão bônus (ou crédito
extra, talvez), poderia começar a ver o trabalho dos que completaram
um ou dois. Se os alunos terminassem simultaneamente e tivessem que
esperar, poderiam passar para o terceiro problema enquanto você
veri�ca o trabalho dos outros. Isso pode parecer contraditório – a
�nalidade aqui não é veri�car antes de continuar? A diferença é que o
terceiro problema estaria no mesmo nível de di�culdade dos dois
primeiros, então criaria uma reserva de tempo extra (produtivo) no
qual você poderia completar sua veri�cação.
Você também pode considerar o uso do sinal de “estou pronto” como
o tipo de dica que os alunos podem dar enquanto continuam a
trabalhar. Manter a mão no ar por três minutos torna quase impossível
para o aluno passar para outro problema. Mas um cartão que seja verde
de um lado e amarelo do outro, por exemplo, pode ser virado para
mostrar “Estou pronto para ser veri�cado”, enquanto o aluno continua
a trabalhar no problema bônus.
Outra maneira de aumentar a e�ciência é combinar a Veri�cação
a�rmativa com o Mostre-me, fazendo com que os alunos levantem seus
trabalhos para você assinar. Você pode ver isso no vídeo Jon Bogard: Vá
para PI, no qual Jon usa quadros brancos para orientar alguns alunos
para a prática independente e exigir uma prática mais guiada de outros.
Veri�cação a�rmativa orientada pelo aluno
Outra abordagem da Veri�cação a�rmativa é permitir que seus alunos
possuam mais do processo de veri�cação da exatidão e, em seguida,
apresentem os dados a você. Os próprios alunos podem veri�car um
gabarito que você forneceu e relatar seus resultados. Ou então podem
ser responsáveis por veri�car o trabalho um do outro em parceria e, em
seguida, relatar os resultados a você, o que reduziria o número de
veri�cações necessárias. Isso funciona melhor quando se baseia em
avaliações objetivas, em vez de subjetivas.
Um fato importante a ser considerado se você tiver alunos
participando da Veri�cação a�rmativa é que há duas �nalidades
principais nessa técnica. Uma é certi�car-se de que os alunos sejam
bem-sucedidos antes de passar para trabalhos mais complexos; a outra
é que você colete dados sobre como seus alunos estão se saindo.
Distribuir a veri�cação realiza o primeiro com mais e�ciência, mas
corre o risco de reduzir seu acesso aos dados: se os alunos �zerem a
autoveri�cação, você saberá como eles se saíram? Tenho certeza de que
você encontrará uma maneira de equilibrar essas metas – às vezes, usar
a veri�cação orientada pelo aluno e, outras vezes, veri�car você; ou
criar maneiras de rastrear os dados durante a veri�cação orientada pelo
aluno (ou ambas). Por exemplo, se os alunos �zerem uma
autoveri�cação em relação a uma rubrica, eles podem marcar uma
caixa para mostrar como �zeram, para que você possa rastrear mais
tarde. É importante estar ciente do desa�o e da possível compensação
enquanto você está adaptando e projetando soluções novas e melhores.
TÉCNICA 12: CULTURA DO ERRO
Em um artigo recente sobre seu desenvolvimento como músico, o
pianista Jeremy Denk observou um desa�o oculto de ensinar e
aprender: “Enquanto o professor tenta... descobrir o que funciona, o
aluno tenta, de certa forma, iludir a descoberta, disfarçando fraquezas
para parecer melhor do que realmente é”.10
Sua observação é um lembrete: se o objetivo da veri�cação da
compreensão é preencher a lacuna entre o que eu ensinei e o que eles
aprenderam, esse objetivo é muito mais fácil de alcançar se os alunos
quiserem que encontremos a lacuna, se estiverem dispostos a
compartilhar informações sobre erros e mal-entendidos – e muito mais
difícil se tentarem nos impedir de descobri-los.
Naturalmente, os alunos muitas vezes se inclinam para o último. Por
orgulho ou ansiedade, às vezes por apreciação por nós como
professores – não querem que sintamos que não ensinamos bem –,
muitas vezes procuram “iludir a descoberta”, a menos que construamos
culturas que os socializem para pensar diferente a respeito dos erros.
Uma sala de aula que tem tal cultura tem o que chamo de Cultura do
erro.
Os professores que são mais capazes de diagnosticar e resolver erros
rapidamente fazem da veri�cação da compreensão um esforço
compartilhado entre eles e seus alunos. A partir do momento em que
os alunos chegam, eles trabalham para moldar sua percepção do que
signi�ca cometer um erro, levando-os a pensar em “errado” como um
primeiro passo, positivo e muitas vezes crítico, para acertar, fazendo
com que reconheçam e compartilhem os erros sem �car na defensiva,
com interesse, fascínio ou, possivelmente, alívio – a ajuda está a
caminho!
O termo “segurança psicológica” é frequentemente usado para
descrever um ambiente no qual os participantes são tolerantes ao risco.
Certamente, a segurança psicológica é uma parte crítica de uma sala de
aula com uma Cultura do erro, mas eu diria que esse último termo vai
mais longe: inclui tanto segurança psicológica – sentimentos de
con�ança e respeito mútuos e conforto em assumir riscos intelectuais –
quanto apreciação, talvez até mesmo prazer, pelo insight que o estudo
dos erros pode revelar. Em uma sala de aula com uma Cultura do erro,
os alunos se sentem seguros se cometerem um erro, e não �cam na
defensiva; acham interessante e valioso analisar o que deu errado.
Você pode ver isso acontecendo no vídeo Denarius Frazier: Resto.
Coletando dados por meio da Observação ativa (técnica 9), ele detecta
um erro consistente. À medida que os alunos procuram dividir
polinômios, eles trabalham para encontrar o resto. fa*gan é um dos
muitos alunos que cometeram o erro. Denarius pega seu papel e o
projeta para a turma para que eles possam estudá-lo. Seu tratamento
deste momento é crítico. Há um valor imenso em estudar erros como
esse se os professores puderem fazê-lo sentir-se psicologicamente
seguro. Infelizmente, não é preciso muita criatividade para imaginar
esse momento dando errado – muito errado. O aluno pode se sentir
magoado, ofendido ou castigado. Seus colegas de classe poderiam rir.
Talvez você esteja imaginando o telefonema naquela noite: Deixe-me
ver se entendi direito, Sr. Frazier. Você projetou os erros da minha �lha
na tela para todos verem?
Mas nas mãos de Denarius, o momento transcorre muito bem e, mais
importante, como se fosse a coisa mais normal do mundo reconhecer
um erro e estudá-lo. Como ele faz isso?
Primeiro, observe o tom dele. Denarius é emocionalmente constante.
Ele é calmo e �rme. Não há sugestão de culpa. Ele não soa de forma
diferente ao falar sobre sucesso ou fracasso. Em seguida, usa uma
linguagem orientada para o grupo para deixar claro que o assunto que
vão estudar é comum entre a turma. “Em alguns de nossos trabalhos,
estou percebendo que estamos chegando a um resto errado...”, ele diz. O
erro é nosso, é relevante e re�ete o grupo, não apenas o indivíduo. Não
há sensação de que fa*gan foi escolhido.
Outra característica importante de salas de aula como a de Denarius
tem a ver com como o próprio erro é tratado. É possível notar isso em
uma frase que o professor de matemática Bob Zimmerli usa no vídeo
Montagem: Cultura do
,que as escolas nem sempre sejam o que elas
merecem. Este livro é sobre ensinar melhor, embora seja verdade que
aprendi o que aprendi estudando professores na parte do setor
educacional que é mais importante para mim, pessoalmente.
Mas não sou ingênuo o su�ciente para pensar que, por ter fortes
sentimentos por esse aspecto da justiça social, eu o entendo
completamente ou compreendo toda a experiência das comunidades
que procuro servir. Por isso, parte da escrita deste livro envolveu um
processo que durou meses de aprendizagem, frequentemente na
companhia de meus colegas da equipe Teach Like a Champion. A gama
de pesquisas que li se expandiu para incluir teoria social, justiça social e
ensino culturalmente responsivo, por exemplo. Você verá alguns dos
autores que li nesse processo referenciados nas páginas deste livro:
Zaretta Hammond, Lisa Delpit, Alfred Tatum, Rudine Sims-Bishop e
Adeyemi Stembridge.
Minha equipe inteira também participou de uma revisão interna de
todo o nosso trabalho. Ela foi conduzida pelo meu codiretor de gestão,
Darryl Williams – é difícil liderar o processo de questionamento do
nosso próprio pensamento –, e envolveu feedback e insights de todos os
meus colegas, além de parceiros e líderes de escolas que usam o Aula
nota 10 em organizações e escolas. Discutimos exaustivamente as
técnicas e os termos no livro para garantir que o tom soasse correto e as
descrições reduzissem a possibilidade de aplicação incorreta ou
interpretação equivocada. Assistimos e reassistimos atentamente aos
vídeos, prestando muita atenção a como as técnicas eram retratadas
para que os professores as aplicassem e adaptassem com sucesso para
digni�car, elevar e atender os alunos. Houve vezes, para ser honesto, em
que os vídeos ou a minha redação não capturavam acuradamente o que
nos empenhávamos em transmitir, e essa revisão resultou na reescrita
de passagens deste livro, na renomeação de técnicas ou de conceitos
dentro das técnicas e na exclusão de alguns vídeos.
Tenho consciência de que muitos leitores do Aula nota 10 podem ter
ouvido críticas a algumas técnicas – O formato importa e o que era
então chamado de POSSO, por exemplo. E foi com alguma surpresa
que, enquanto me engajava no processo de revisão, abri minha cópia do
Aula nota 10 2.0 para relê-la e �quei surpreso ao descobrir como eu
sabia pouco sobre por que e como havia incluído algumas técnicas.
Essas seções do livro foram extensamente revisadas, sendo
cuidadosamente reestruturadas a �m de assegurar que todos os leitores
entendam plenamente por que e como eles podem usá-las com
con�ança para ajudar os alunos a prosperar e ter sucesso. Quero deixar
claro – acho que essas técnicas, se bem feitas, estão entre as alavancas
mais essenciais para o sucesso e a justiça social. Você pode ver isso na
sala de aula de Christine, assim como verá em mais uma dúzia de salas
de aula. Mas, como elas são ferramentas poderosas, também é
importante usá-las da forma correta. Os críticos que alegam que elas
são uma forma de tirania ou esforço para “controlar corpos negros e
pardos”, quando não estão informados por distorção deliberada,
perdem de vista: que uma liberdade adquirida a partir uma cultura que
pede que os alunos monitorem uns aos outros e em que as ideias dos
alunos são, portanto, deliberadas, re�nadas e celebradas, supera de
longe as supostas restrições que ela impõe. Dito isso, eu também já
estive em uma sala onde a aplicação parecia errada. Uma aplicação
falha não indica um princípio sólido – mas nos lembra do quão
importante é uma aplicação melhor e mais responsiva.
Houve outros pontos revistos, também. Ao reler meu trabalho
original pude ocasionalmente ver exemplos estruturados de forma
insu�ciente e algumas vezes descrições que pareciam não pressupor o
melhor dos alunos. Parte da razão disso foi e é minha profunda
valorização dos professores. Meu desejo para este livro é que ele
prepare os professores tanto para os cenários mais desa�adores que
enfrentarão – aqueles que abalam sua fé de que terão êxito e que fazem
as pessoas abandonarem a pro�ssão – quanto para os momentos
alegres e radiantes que os inspiram e fazem do ensino o melhor
trabalho no mundo. Existem alguns livros preciosos que falam sobre
esses momentos difíceis. E assim escrevi exemplos que mostram alunos
em seus momentos mais desa�adores. Não é meu pressuposto que os
jovens “geralmente” são assim. Meu pressuposto sempre parte de que é
sabido que os educadores amam os jovens mesmo – ou especialmente –
quando estabelecem limites e fornecem estrutura para eles, mas posso
entender como alguns exemplos podem ser interpretados ao contrário.
Assim sendo, os examinei e tentei reduzir qualquer implicação de que
os alunos têm a intenção de se comportar mal. No entanto, também é
importante ser honesto sobre o trabalho. Os alunos em qualquer sala de
aula, em qualquer lugar, representam um corte transversal da natureza
humana. Qualquer sala de aula em qualquer lugar é uma sala cheia de
bondade, fraquezas, virtude, tolices, sabedoria e insensatez. É por isso
que o trabalho é tão difícil. Sou grato se, como leitor, você compreender
que a razão por que algumas vezes dou exemplos de comportamento
desa�ador é porque essa é uma realidade com a qual os professores
lidam – muito frequentemente em silêncio e sem apoio sistemático.
No �nal, o processo de autorre�exão e de autoexame também me
ajudou a ter clareza sobre o que acredito. O que eu acredito é que
questões de justiça social são inseparáveis de questões de ensino e que
questões de ensino incluem a necessidade de deliberadamente planejar
culturas de sala de aula para garantir uma cultura mais encorajadora
para os jovens.
Algumas pessoas �cam desconfortáveis com isso. Elas veem a
construção de culturas como coercitiva, um exercício de excesso de
poder e autoridade. Mas retorno ao erro fundamental de atribuição.
Atribuímos o comportamento de outra pessoa a “características
pessoais persistentes” e “minimizamos a in�uência da situação à sua
volta”. Vemos traços permanentes – ele não se importa – em vez de uma
pessoa que pode se importar profundamente em um contexto diferente.
Pensamos de forma insu�ciente sobre o ambiente – como eu crio
condições que façam com que ele queira se importar? – e subestimamos
como as pessoas reagem a sinais e normas. Às vezes essas normas estão
praticamente gritando e, no entanto, de alguma maneira não
conseguimos ouvi-las.
Outro campo de estudo que também foi importante para mim ao
escrever este livro é a biologia evolucionária, a rede na qual os humanos
que venceram a luta evolutiva venceram coordenando-se em grupos e
evoluíram para ser excepcionalmente reativos ao que é exigido para
inclusão no grupo – isso é da mais alta importância segundo um ponto
de vista evolutivo. Nós somos, em primeiro lugar, criaturas de cultura,
extremamente sensíveis às normas sociais, e cada pessoa jovem merece
entrar em uma sala de aula onde as normas sociais são o mais positivas
e construtivas possível.
Deixe-me explicar o que quero dizer descrevendo um momento na
vida de um aluno. Vamos chamá-la de Asha. Ela está na aula de
biologia e acabou de ter uma ideia. Está apenas parcialmente
desenvolvida – ainda é uma noção –, mas ela se pergunta se pensou em
alguma coisa que os outros não pensaram. Talvez essa ideia seja alguma
coisa inteligente. Ela está um pouco assustada em compartilhar o que
está pensando. Sua ideia pode estar errada ou, o que é igualmente ruim,
já ser óbvia para todos os outros. Talvez ninguém se importe muito
com a recombinação do DNA e com a faísca que repentinamente se
acendeu na cabeça dela. Talvez dizer alguma coisa com determinação
sobre a recombinação do DNA faça de você aquela pessoa – aquela que
ergue a mão muito frequentemente, que se esforça demais, que rompe o
código social. Esses pensamentos até agora a levaram a aderir a uma
�loso�a que aconselha: Guarde para si; não deixe ninguém ver seu
intelecto; não corra riscos; adeque-se. Mas, de alguma maneira, nesse
momento o desejo de expressar seu
,pensamento superou sua
ansiedade. Ela ergue a mão, e o professor a chama.
O que acontece a seguir é fundamental para o futuro de Asha. Seus
colegas irão demonstrar que se importam com a sua ideia? Ela verá
interesse nos rostos deles? Eles vão responder con�rmando com a
cabeça ou fazendo comentários? Vão fazer alguma pergunta
complementar? Registrar uma frase em suas anotações? Ou vão �car
atirados em suas cadeiras e virados para outro lado, checando seus
telefones literal ou metaforicamente, com sua linguagem corporal
expressando indiferença? Ah, você falou alguma coisa? E um sorriso
desdenhoso. O próximo comentário vai ignorar sua ideia? Será que ao
menos haverá um próximo comentário ou suas palavras �carão
perdidas em um silêncio que lhe diz que ninguém se importou o
su�ciente para reconhecer ou mesmo olhar para ela depois que falou?
Esses fatores são as estações da via-sacra de Asha. Eles in�uenciarão a
relação que ela percebe entre ela e a escola e suas aspirações. Ela tem
um espírito vibrante, cheio de ideias que normalmente não
compartilha, e silenciosamente se questiona se talvez alguém como ela
poderia se tornar médica. Ela não conhece ninguém que tenha feito
isso, mas se vê pensando a respeito algumas vezes.
Obviamente, todos esses sonhos não se resumem a esse momento,
mas seriamos tolos se desconsiderássemos sua relevância. Esse poderia
ser um pequeno passo no caminho até a faculdade de medicina. Ou
poderia ser a última vez em que ela ergue a mão durante o ano inteiro.
Sim, é importante se o seu professor reage ao seu comentário com
frases de apoio – mas talvez não tão importante quanto a resposta do
ambiente social, dos colegas de Asha. Se o professor elogia o
comentário de Asha em meio ao desdém e ao silêncio contundente dos
seus colegas, o benefício será limitado. A capacidade do professor de
moldar normas na sala de aula de Asha é tão importante quanto sua
habilidade de se conectar individualmente com ela. As relações são
importantes, mas as normas sociais que criamos provavelmente são
mais importantes. Essa é uma coisa difícil de reconhecer. Ela nos afasta
um pouco do centro da história, mas também é algo muito importante
de ser reconhecido. Em muitas salas de aula, não há um modelo sobre o
que as normas sociais devem comunicar enquanto Asha fala ou depois
que ela falou, e suas palavras �cam soltas no ar. É realmente por causa
delas que os alunos demonstram interesse no que seus colegas dizem?
Ou talvez haja um modelo, mas sejam essencialmente palavras – seu
professor e talvez sua escola não acreditam que o que acontece naquele
momento está sob seu controle. Imagine a dor de cabeça que seria
tentar fazer isso acontecer com centenas de alunos, muitos dos quais
“simplesmente não dão bola”? No �m das contas, o que acontece nesse
momento e em milhares de outros momentos como esse provavelmente
será principalmente um acidente: afortunado ou infeliz, encorajador ou
frustrante, com imensas consequências para Asha e seus colegas.
Alguma coisa próxima à cultura ideal, em que os colegas de Asha
estão se comunicando com contato visual e linguagem corporal:
estamos ouvindo; respeitamos sua ideia; isso nos interessa; continue
erguendo a mão, não ocorre naturalmente ou por acaso. Isso ocorre
quando os adultos fazem acontecer.
Vamos encerrar com uma pequena parábola sobre algo que chamo de
Paradoxo do band-aid.
No início do seu livro Previsivelmente irracional, um estudo de “por
que as pessoas interpretam mal as consequências dos seus
comportamentos e por essa razão repetidamente tomam decisões
erradas”, o economista e psicólogo comportamental da Duke
University, Dan Ariely, conta uma história sobre curativos.
Os enfermeiros geralmente atuam segundo a crença de que retirar
curativos rapidamente provoca menos dor aos pacientes do que uma
remoção mais lenta e gradual. A remoção rápida de um curativo
demonstra ser a forma preferível de tratamento, é o que muitos
acreditam.
Tendo sido vítima de uma queimadura na juventude, Ariely teve
muitos curativos grandes sendo removidos por esse método e era
cético. Seus sentimentos devem ter sido intensos, porque, estudando
psicologia anos mais tarde, ele testou a ideia empiricamente e descobriu
que a remoção mais lenta do curativo era na verdade mais preferível
para os pacientes.
Ariely voltou ao hospital onde havia passado meses em recuperação e
apresentou seus achados aos enfermeiros, mas �cou surpreso ao
descobrir que, mesmo diante da sua pesquisa, eles continuaram com o
tratamento aquém do ideal.
Ariely não levou em conta o desconforto psicológico que os
enfermeiros sentiam quando removiam os curativos. Os pacientes
expressavam ansiedade, medo e desconforto enquanto seus curativos
eram retirados lentamente. O sentimento de que poderiam estar
machucando alguém era ruim, mesmo que eles soubessem
racionalmente que estavam ajudando, e prolongar esses momentos
deixava as coisas ainda piores para os enfermeiros.
Acontece que, para os cuidadores, os aspectos psicológicos da
administração do tratamento – mesmo um tratamento claramente
bené�co – são um fator signi�cativo na determinação dos cuidados que
prestam. Chamo isso de Paradoxo do band-aid. A ansiedade dos
cuidadores em relação ao tratamento faz com que escolham uma forma
de tratamento aquém do ideal e a explicam com um argumento
aparentemente baseado no interesse dos pacientes.
Um Paradoxo do band-aid similar in�uencia as práticas na área do
ensino. A administração de “tratamentos” frequentemente resulta em
um con�ito com o que “parece bom” – ou parece seguro, ou concorda
com as percepções do pro�ssional sobre igualdade. Isso se dá mais
intensamente quando, assim como com os médicos na hora de cuidar o
paciente, nossa identidade está interligada com crenças sobre certo e
errado.
Os professores constantemente se defrontam com tarefas desa�adoras
e difíceis e precisam contemplar a possibilidade muito real de que terão
di�culdades ou fracassarão, publicamente e à frente de uma plateia
implacável, enquanto se esforçam para executá-las. Devemos sempre
estar conscientes de que, para aquele que cuida do paciente, é mais fácil
racionalizar o tratamento preferencial do que tentarmos o mais
arriscado para os alunos a longo prazo. Diante da tarefa de criar uma
sala de aula onde os alunos são socializados para demonstrar que
valorizam as ideias uns dos outros por meio de ações sociais não
verbais, incluindo o contato visual, é avistado o caminho da explicação
de por que, antes de tudo, os alunos não devem ser coagidos a
acompanhar seus colegas.
Quanto mais difícil a tarefa, maior o risco de algum educador em
algum lugar criar uma justi�cativa contra ela que seja muito inteligente
ou pareça correta. Esse é certamente um caminho muito menos
arriscado do que o trabalho difícil e ingrato de moldar normas para
assegurar os direitos de todas as crianças de aprender em salas de aula
que verdadeiramente as preparem para alcançar seus sonhos.
Escrevi, na margem da minha versão do Aula nota 10 2.0, uma
expressão que procurei usar frequentemente neste livro:
responsabilização amorosa. Essa pode não ser uma expressão que
ocorresse naturalmente a muitas pessoas. Confesso que foi preciso
muitos anos escrevendo sobre ensino para que ela me viesse à mente.
Mas ela é profundamente importante. Ela nos faz lembrar,
primeiramente, que os momentos de responsabilização podem e devem
ser feitos com um sorriso para lembrar os alunos de que nos
importamos com eles e, em segundo lugar, que a responsabilização é
uma forma de amor.
Quando fazemos uma chamada De surpresa, por exemplo, estamos
atraindo os alunos – algumas vezes voluntariamente, outras vezes de
forma hesitante – para a conversa e assim lhes dizendo que sua
participação é importante. Estamos desenvolvendo neles um hábito de
prestar atenção de forma mais plena e de manter esse hábito. Como
escreve Zaretta Hammond, em uma frase à qual retornarei, “Antes de
podermos �car motivados para aprender o que está à nossa frente,
precisamos prestar atenção. A característica
,de um aprendiz
independente é sua habilidade de direcionar sua atenção para sua
própria aprendizagem”. Desenvolver a capacidade de atenção de alguém
é uma dádiva.
E se os alunos sentem uma pitada de ansiedade, tudo bem, isso
acompanha o crescimento algumas vezes. Saber que aprendizagem
requer que você fale algumas vezes e saber com a experiência que você
é capaz; aprender a prestar atenção – inicialmente porque você sabe
que seu professor provavelmente irá lhe chamar para mantê-lo atento e
posteriormente porque, bem, isso se tornou um hábito – essas são
dádivas de uma sala de aula conduzida com amor. Um sorriso durante
uma chamada De surpresa lembra aos alunos e também a você mesmo
– porque retirar um band-aid lentamente é difícil – que essa é uma
coisa boa.
Na seção sobre a chamada De surpresa você pode ver Denarius
Frazier e BreOnna Tindall fazerem isso. Eles estão sorrindo para seus
alunos de forma tranquilizadora e calorosa enquanto fazem uma
chamada De surpresa, e você consegue sentir o amor nesses momentos.
Eles irão lembrá-lo, espero, que não é uma contradição chamar
responsabilização de uma forma de amor. Isso nem sempre é o que os
alunos escolheriam inicialmente se tivessem a opção, mas, ao �nal de
tudo, eles frequentemente preferem isso quando o ensino informado
por responsabilização amorosa – como o de Denarius e BreOnna e o de
Christine e muitos outros professores neste livro – resulta não só em
sucesso, mas em engajamento; quando os alunos se soltam durante a
atividade e percebem a aprendizagem como um estado de �uxo.12
Então eles são mais felizes, mesmo que nunca relacionem a felicidade
com a responsabilização que deu início a ela.
Apesar de saberem disso, no entanto, alguns deles ainda tomariam o
caminho mais fácil. Em tais casos, é útil pensar a quem servimos na
educação. Servimos à versão em que os alunos olham em retrospectiva
para sua escolarização dez ou quinze anos mais tarde, à luz do seu
efeito a longo prazo em suas vidas. E servimos a seus pais, que estão
contando conosco para estimularmos seus �lhos a criarem um futuro
para si mesmos, em um mundo que os rodeia com distrações e
mensagens de que está tudo bem, ou que é até mesmo legal, não fazer
agora as coisas que criarão oportunidades mais tarde. Existe uma certa
tradição entre os jovens de não quererem fazer o que seus pais dizem,
mas no �nal acabam dizendo aos seus próprios �lhos as coisas que seus
pais diziam a eles. A educação é um longo jogo, e os pais estão
contando conosco para termos uma visão de longo prazo. Você pode
ouvir isso nas entrevistas do excelente How the other half learns, de
Robert Pondiscio. Entre as mais comoventes, estão os pais cujos
próprios educadores não tiveram êxito e que procuram escolas e salas
de aula que evitem que os mesmos resultados atinjam seus �lhos. “Eu
me perdi no sistema”, uma mãe conta a Pondiscio, “e me recuso a deixar
que isso aconteça com meu �lho”. O sentimento de desespero é
perceptível.
Parte de ensinar bem é ensinar os alunos a escolherem um caminho
que seja íngreme e acidentado, do qual eles algumas vezes irão
reclamar. É um longo caminho de subida, e talvez outros aparentem
estar no que parece ser um caminho mais fácil, mesmo que ele não leve
até o topo. Esse caminho mais íngreme envolve não apenas um
trabalho mais árduo como também um trabalho psicologicamente mais
árduo – tanto para o professor quanto para o aluno. Envolve puxar
lentamente os band-aids. Envolve saber que o amor é algumas vezes
paradoxal.
Se procura uma justi�cativa para fazer o que é fácil, este livro
provavelmente não vai agradar você. Dito isso, há muitos livros que
poderão agradá-lo. Se o seu propósito é encontrar a forma mais efetiva
e cuidadosa de fazer o que precisa fazer para melhor servir os alunos,
mesmo quando for difícil – especialmente quando for difícil –, meu
objetivo é fornecer isso. Se esse é o livro que você está procurando, por
favor vire a página.
Notas
1. A ideia iniciou com Paul Babbrick-Santoyo e sua equipe na
Uncommon Schools.
2. Veja LUKIANOFF, G.; HAIDT, J. �e coddling of the american mind:
how good intentions and bad ideas are setting up a generation for
failure. New York: Penguin Books, 2018.
3. Erro fundamental de atribuição: “A tendência a superestimar o grau
em que o comportamento de um indivíduo é determinado pelas suas
características pessoais duradouras, atitudes ou crenças e, de
maneira correspondente, a minimizar a in�uência da situação
circundante sobre esse comportamento” AMERICAN
PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION.. Fundamental attribution
error. In: APA Dictionary of Psychology. Washington: APA, 2022.
Disponível em: https://dictionary.apa.org/fundamental-attributio
n-error. Acesso em: 23 set. 2022.
4. Mais considerações sobre aprendizagem remota estão incluídas no
livro que minha equipe e eu escrevemos para apoiar os professores
durante o ensino a distância: LEMOV, D.; EQUIPE TEACH LIKE A
CHAMPION. Ensinando na sala de aula on-line: sobrevivendo e
sendo e�caz no novo normal. Porto Alegre: Penso, 2021..
5. Não pretendo sugerir que a morte de Floyd tenha sido a única fonte
de indignação e raiva que tantas pessoas sentiram. Obviamente, a
longa série de mortes de cidadãos não brancos aos cuidados de
instituições cuja função era protegê-los tem sido fonte de constante
consternação e frustração.
6. Tatum é Diretor e Vice-Presidente Executivo de Assuntos
Acadêmicos na Metropolitan State University, em Denver. Seus
comentários foram feitos em uma série de tweets em 12 de abril de
2021.
7. Quando uma criança pequena quer comer um sorvete durante o
jantar, todos, exceto os pais mais indulgentes, entendem que amar o
�lho é dizer não. Quando a criança estiver maior, sempre haverá dias
https://dictionary.apa.org/fundamental-attribution-error
em que ela vai querer fazer coisas que podem machucá-la ou desa�ar
as regras que estabelecemos para o seu benefício: Vou sair da equipe
de atletismo; Não vou escrever minha redação; Vou �car na rua até
depois da hora combinada. Os adolescentes são propensos a fazer
essas coisas; os adultos que os amam devem fazer o que os ajudará a
prosperar ao longo das suas vidas, mesmo que seja difícil. Amá-los é
dizer “Coloque seus tênis; vou levá-lo ao treino”, “Deixe-me ajudá-lo
a começar o parágrafo do texto antes que �que tarde” ou “Quero vê-
lo aqui às 11h em ponto se você planeja usar o carro de novo”. Um
adulto amoroso diz isso, mesmo que custe um ressentimento
temporário.
8. Para alguns, isso implica que os professores devem encorajar os
alunos a participarem ativamente de protestos sociais, por exemplo.
Para outros, implica que questões de justiça social devem ser um
foco importante dos livros que os alunos leem e dos temas que
estudam. Para outros ainda, é mais importante que os alunos se
preparem para o sucesso pro�ssional por meios mais tradicionais,
como ler Shakespeare e estudar a estrutura celular.
9. Brandi Chin, da Denver School of Science and Technology. Você
deveria ver sua escola. (Na verdade, você pode vê-la quando assistir
o vídeo da excelente professora BreOnna Tindall mais adiante neste
livro.)
10. WORKING in the dark. Design bias is harmful, and in some cases
may be lethal. �e Economist, April 10, 2021.
11. Lembro-me de uma citação de Adeyemi Stembridge: “Em uma
determinada escola com um aluno em particular, raça pode
signi�car tudo ou absolutamente nada. Precisamos estar disponíveis
para o desconforto que inerentemente acompanha o tema da raça e
precisamos também estar preparados para ignorar tudo o que
sabemos sobre raça para permitir que os alunos nos mostrem quem
eles são como indivíduos únicos com agência e seu próprio
inventário de conceitos, contextos e experiências vividas”. Um
educador receptivo deve sempre ver e responder aos alunos a quem
serve. Mesmo quando eles não compartilham os interesses dos seus
professores, é a esses interesses que precisamos servir.
12. Discuto a ideia de “�uxo” na aprendizagem na introdução ao
Capítulo 6, “Ritmo”,
,mas a chamada De surpresapode ser uma
ferramenta fundamental para atingir o impulso dinâmico que ela
promove.
ALÉM DO LIVRO
Como acessar os vídeos
Veja os mais de 100 vídeos legendados que acompanham este livro
acessando o link http://apoio.grupoa.com.br/aulanota10_3ed ou
apontando a câmera do seu celular para o código QR a seguir.
http://apoio.grupoa.com.br/aulanota10_3ed
SUMÁRIO
Introdução: a arte de ensinar e suas ferramentas
1. Cinco temas: modelos mentais e execução intencional
Modelos mentais
Princípio 1: Entender a estrutura cognitiva humana significa
construir memória de longo prazo e mobilizar a
memória de trabalho
Princípio 2: Hábitos aceleram a aprendizagem
Princípio 3: Aquilo a que os alunos prestam atenção é o que
irão aprender
Princípio 4: Motivação é social
Princípio 5: Ensinar bem é construir relações
2. Preparação da aula
Técnica 1: Planejamento exemplar
Técnica 2: Planeje para o erro
Técnica 3: Movimentos de entrega
Técnica 4: Planeje em dobro
Técnica 5: Organizadores do conhecimento
3. Verificação da compreensão
Técnica 6: Substitua o autorrelato
Técnica 7: Prática da recuperação
Técnica 8: Padronize o formato
Técnica 9: Observação ativa
Técnica 10: Mostre-me
Técnica 11: Verificação afirmativa
Técnica 12: Cultura do erro
Técnica 13: Mostre o texto
Técnica 14: Identifique e localize
4. Ética no ensinar
Técnica 15: Sem escapatória
Técnica 16: Certo é certo
Técnica 17: Puxe mais
Técnica 18: O formato importa
Técnica 19: Sem desculpas
5. Estrutura da aula
Técnica 20: Faça agora
Técnica 21: Mostre as etapas
Técnica 22: Quadro = papel
Técnica 23: Leitura independente responsável
Técnica 24: Leitura em FASE
Técnica 25: Circule
Técnica 26: Arremate
6. Ritmo
Técnica 27: Mude o ritmo
Técnica 28: Marque as etapas
Técnica 29: Todas as mãos
Técnica 30: Trabalhe com o relógio
Técnica 31: Cada minuto conta
7. Criando proporção pelo questionamento
Técnica 32: Fundamentos de frase
Técnica 33: Tempo de espera
Técnica 34: De surpresa
Técnica 35: Todos juntos
Técnica 36: Meios de participação
Técnica 37: Divida em partes
8. Criando proporção pela escrita
Técnica 38: Todo mundo escreve
Técnica 39: Solo silencioso
Técnica 40: Antecipe a escrita
Técnica 41: A arte da frase
Técnica 42: Revisão regular
9. Criando proporção pela discussão
Técnica 43: Virem e conversem
Técnica 44: Hábitos de discussão
Técnica 45: Processo em lotes
Técnica 46: Discussão disciplinada
10. Procedimentos e rotinas
Técnica 47: Abertura e Rotina de entrada
Técnica 48: Hábitos de atenção
Técnica 49: Construa a eficiência
Técnica 50: Criação de rotina
Técnica 51: Faça de novo
11. Altas expectativas de comportamento
Técnica 52: O que fazer
Técnica 53: Olhar de radar/ser visto observando
Técnica 54: Torne as expectativas visíveis
Técnica 55: Intervenção menos invasiva
Técnica 56: Gentileza firme e calma
Técnica 57: Arte da consequência
Técnica 58: Voz de comando
12. Como gerar motivação e confiança do aluno
Técnica 59: Discurso positivo
Técnica 60: Elogio preciso
Técnica 61: Cordial/rigoroso
Técnica 62: Equilíbrio emocional
Técnica 63: Fator A
INTRODUÇÃO: A ARTE DE
ENSINAR E SUAS FERRAMENTAS
O bom ensino é uma arte. Em outros tipos de arte – pintura, escultura,
literatura –, os grandes mestres aproveitam sua pro�ciência com
ferramentas básicas para transformar os materiais mais brutos (pedra,
papel, tinta) em patrimônios mais valiosos da sociedade. Essa alquimia
é ainda mais impressionante porque as ferramentas geralmente
parecem banais para outras pessoas. Quem olharia para um cinzel, um
macete e uma lima e os imaginaria produzindo o Davi, de
Michelangelo?
A grandiosidade da arte reside no domínio e na aplicação de
habilidades fundamentais aprendidas por meio do estudo diligente –
“destreza”, se você preferir. Você aprende a bater no cinzel com um
macete e re�na essa habilidade com o tempo, aprendendo sobre o
melhor ângulo para a batida e a �rmeza com que deve segurá-lo. Muito
mais importante do que qualquer teoria é sua pro�ciência com o cinzel.
É bem verdade que nem todo aquele que aprende a usar um cinzel irá
criar um Davi, mas, ao mesmo tempo, aquele que não dominar a
ferramenta não conseguirá fazer mais do que algumas marcas na pedra.
Todo artista – incluindo os professores – é um artesão cuja tarefa é
estudar um conjunto de ferramentas e decifrar os segredos do seu uso.
Quanto mais você entender um cinzel, mais ele o guiará até descobrir o
que pode ser feito. Ao arredondar um contorno com uma suavidade
inesperada, o cinzel faz você perceber subitamente que é possível
acrescentar detalhes a uma expressão facial, mais tensão aos músculos
da �gura que está esculpindo. O domínio do uso das ferramentas não
apenas permite a criação, ele a informa. Esse processo está longe de ser
glamoroso; a vida de um artista é, na verdade, a vida de um negociante,
caracterizada por calos e poeira de pedra, exigindo empenho e
humildade, mas suas recompensas são imensas. É o trabalho de uma
vida digna.
Viajando para o exterior no meu primeiro ano de faculdade, vi os
cadernos escolares de Picasso em uma exposição no Museu Picasso, em
Barcelona. O que mais me lembro são dos esboços preenchendo as
margens de suas páginas. Não existiam cadernos de desenho, imagine!
Eram cadernos como os de qualquer estudante: para anotar as
observações de aula. Os pequenos esboços imortalizavam o rosto de
um professor ou a própria mão de Picasso segurando um lápis, com
perspectiva, linhas e sombras perfeitas. Sempre pensei que o trabalho
de Picasso era abstrato, que representava uma forma de pensar que
tornava irrelevante a habilidade de desenhar com precisão e realismo.
Seus esboços contam outra história. Eles testemunham seu domínio
dos aspectos fundamentais da sua arte e o empenho constante em
aprimorar suas habilidades. Mesmo nos momentos de folga das aulas,
ele estava desenvolvendo os alicerces de sua técnica. Era, primeiro, um
artesão e, segundo, um artista, como atestam os 178 blocos com
esboços ao longo da vida.
Este livro é sobre as ferramentas do ofício de ensinar, e espero que
seja útil para os professores, onde quer que estejam. Mais
especi�camente, ele apresenta um interesse especial no setor que é mais
importante para mim: escolas públicas, sobretudo as das periferias, que
atendem alunos nascidos na pobreza e que, portanto, seguem por um
caminho estreito e incerto até a oportunidade que merecem. Não é
possível que ter nascido com menos recursos �nanceiros restrinja a
oportunidade de um indivíduo, certamente não em lugares em que se
acredita na meritocracia, mas a verdade é que isso acontece. O preço do
fracasso nas escolas que atendem alunos que se encontram no lado
errado da desigualdade de privilégios é frequentemente alto, e os
desa�os, signi�cativos. Os professores, nesses lugares, geralmente
trabalham em um crisol onde os fracassos da sociedade são estruturais,
evidentes e, por vezes, quase esmagadores. No entanto, todos os dias,
em cada bairro como esse, existem professores que, sem muito
estardalhaço, acolhem os alunos sobre quem os outros dizem “não
consegue” – não consegue ler boa literatura, não consegue entender
álgebra ou cálculo, não consegue e não quer aprender – e os ajudam,
inspiram, motivam e transformam em acadêmicos que conseguem de
tudo. Lamentavelmente, com frequência não sabemos quem são esses
professores, mas eles estão em todos os lugares – em geral trabalhando
de maneira anônima, na sala ao lado de um dos professores que criarão
os 50% de novas contratações em distritos urbanos, aqueles que
abandonam a prática pedagógica nos primeiros três anos. Pense nisso:
para esses novos professores com di�culdades, as soluções para os
desa�os que acabarão levando-os a abandonar a pro�ssão encontram-
se a poucos metros de distância. E, para os alunos dessas comunidades,
ingressar na sala de aula certa pode fazer as portas da oportunidade
voltarem a se abrir. O problema é que não levamos su�cientemente a
sério o aprendizado dos professores que podem providenciar essas
soluções.
Meu objetivo foi